Numa longa entrevista SportoweFakty, Josué falou sobre o episódio de há uma semana em Alkmaar, no qual o capitão do Legia acabou detido após a derrota em casa do AZ, para a Liga Conferência.

«Foi uma noite horrível. Nunca vivi nada tão mau, tão injusto. E acredite, já passei por muita coisa na minha vida. Não desejaria aquelas horas, incertezas e medos que me acompanharam ao meu pior inimigo. Estou fora da prisão, mas levarei algum tempo para recuperar-me mentalmente. Sei que tenho de conviver com isto, mas por outro gostava de ficar livre disto, tal como fiz com todas as coisas que estava a usar na altura», começou por dizer.

«Quando me prenderam, tive de devolver uns brincos pretos que estava a usar. Nunca mais os vou usar. Sem qualquer hipótese! E as sapatilhas meti-as no lixo assim que regressei [à Polónia]. O mesmo com a roupa. Podemos deitar as coisas fora, mas não é fácil tirá-las da cabeça. Porque isto afetou-me não só a mim, como a minha família. Como disse, tenho de conviver com isto, mas não quero que a minha filha passe por isto. Teve de responder às perguntas de outras crianças na escola sobre o porquê de o pai ter sido preso», continuou.

Quase uma semana depois, Josué garante que não entende o que aconteceu. O antigo médio do FC Porto relata que num primeiro momento, o portão que dava para aceder ao autocarro estava fechado e guardado por dois seguranças. No entanto, chegaram mais seguranças, que acabaram por abrir o portão, mas que passado alguns minutos começaram a empurrar os responsáveis do Legia.

Os jogadores já estavam quase todos sentados no autocarro e voltaram a sair da viatura para perceber o que se passava, lembra Josué. De acordo com o futebolista português, gerou-se um momento de pequena confusão, mas sem violência, até que chegaram vários polícias ao local.

Um jogador do Legia foi identificado pela polícia, alegadamente por agredir um segurança, e com ordem para ser detido. Josué conta que Rasha Pankov, depois de alguma resistência, aceitou sair do autocarro e entregar-se às autoridades, mas nesse momento os suspeitos passaram a ser dois: Pankov e... Josué.

«Ao sair do autocarro, disse ao polícia que ia com ele, mas não foi suficiente. Torceram-me os braços e levaram-me como se fosse um assassino. Se me magoaram? Como não? Podia ter-me partido o pulso», recordou.

Josué lembrou depois os momentos que passou na prisão: «O cheiro não era agradável. Cheirava muito a urina. Se entendi o que aconteceu? Não, continuo sem entender. Não fui acusado de nada antes de ser detido, no tempo que estive detido e depois de sair. (…) Acho que fui preso por volta da uma da manhã e só saí às 15h50 de sexta-feira. Deram-me pão, mas não quis comer. Só pedi para me lavar, as mãos e o rosto. Sentei-me numa cela e percebi que havias outras celas, mas não sabia quem eram aquelas pessoas. Podiam ter matado alguém ou violado alguém, não fazia a mínima ideia de quem estava ao meu lado.»

«Havia uma grande janela na cela. Fiquei a noite toda a olhar para lá, à espera do amanhecer. Às vezes fechava os olhos, mas não era um sonho. É impossível dormir num lugar assim, numa situação destas. Não conseguia dormir, estava no pior lugar em que já tinha estado na minha vida», continuou o jogador de 33 anos, ele que revelou que teve uma «crise de ansiedade» nesses momentos.

Josué reforçou depois: «Não bati em ninguém. Houve gritos, sim, perguntei porque é que nos tratavam como animais. Mas não fiz nada com as mãos, nada! E acabei detido. Imagine gritar porque alguma coisa de má aconteceu e acabar preso. Não dá para entender.»

A UEFA, recorde-se, já anunciou a abertura de uma investigação sobre estes incidentes, após a vitória do AZ Alkmaar frente ao Legia, por 1-0, para a Liga Conferência.