Leonardo Bonucci, agora no Union Berlim, abriu o livro e abordou a saída da Juventus. O internacional italiano confessou que foi difícil deixar o emblema de Turim, onde pretendia terminar a carreira e explicou ainda os motivos que o levaram a avançar com uma ação em tribunal contra o clube.

«Decidi, depois de muito sofrimento, seguir o caminho do litígio contra a Juventus. Li e ouvi coisas falsas ditas pelo clube e pelo treinador [Massimiliano Allegri]», começou por contar.

«Depois de duas semanas afastado da Juve, é muito difícil pensar no último período. Gosto de pensar na Juventus de que fiz parte, aquela que ganhou, a verdadeira Juventus, aquela que nunca foi vista nos últimos dois anos. Não tenho nada contra a Juventus. São os adeptos, a equipa, os meus antigos companheiros de equipa», afirmou, virando as atenções para o treinador Massimiliano Allegri, embora sem o mencionar diretamente.

«Esta é a segunda vez que sou obrigado a deixar a Juventus, em ambos os casos devido à posição de um indivíduo, que não sou eu», atirou.

O italiano prosseguiu, reiterando ser «falso» que o clube tenha apresentado o cenário da saída em outubro passado. 

«É falso que em outubro me tenham dado a conhecer os planos futuros que me excluíam da Juve. Foi em outubro que me foi dada a possibilidade de continuar com uma renovação: avançámos juntos porque o clube tinha compreendido a importância de me ter no balneário», clarificou.

«Depois, ouvi o treinador dizer que o conceito de despedida no final da época seria reiterado por ele e pelo clube em fevereiro», explicou.

«O treinador só me chamou ao seu gabinete no final de março, antes do jogo contra o Friburgo para a Liga Europa, para me dizer que se tratava de antecipar - na sua opinião - o meu percurso como treinador, deixando de jogar futebol. Disse-lhe que respeitava a sua opinião, mas que até ao Campeonato da Europa de 2024 não queria parar», acrescentou.

O central revelou também que aceitou passar a ser a quinta ou sexta opção para o eixo central da defesa bianconera.

«Não voltei a falar com ninguém até ao final de maio, após o último jogo em casa contra o AC Milan, quando me foi dito que na época em curso eu seria titular atrás de Gatti, Bremer, Danilo e de um jovem da formação, tornando-me a quinta/sexta opção na defesa e um "pai" para os outros. Aceitei sem querer criar problemas. No fim de contas, ia ser como na época passada», notou.

O tempo foi passando e, já em julho, o campeão da Europa em 2021 pela seleção italiana não sabia por onde iria passar o seu futuro.

«Não tive qualquer comunicação até 13 de julho. Alguma coisa não estava bem. Soube pelos jornais. Precisamente a 13 de julho, Giuntoli (diretor técnico) e Manna (diretor desportivo) informaram-me, quando foram a minha casa, que eu já não faria parte do plantel da Juventus e que a minha presença em campo iria impedir o crescimento da equipa. Esta foi a humilhação que sofri depois de 500 e mais jogos», frisou.

Sobre o processo em tribunal, o central apenas quer justiça e lutar pelos direitos, ressaltando que o dinheiro que vier a receber é o menos relevante. Recorde-se que o jogador foi afastado do restante plantel e colocado a treinar à parte, alegando ter sido impedido de aceder ao ginásio do centro de treinos, bem como à piscina e ao restaurante.

«O meus direitos previam que eu deveria ter treinado com a equipa e ter sido colocado em condições físicas e atléticas para enfrentar a época seguinte. Isso não me foi concedido, deixei de treinar com a equipa. Senti-me esvaziado de tudo, humilhado, não podia fazer o que mais gostava», revelou.

«Não é uma questão de dinheiro. Se ganhar o processo, doarei tudo a uma instituição de caridade», garantiu.

O italiano terminou com um exemplo semelhante que aconteceu com o antigo colega e treinador Andrea Pirlo, que, em 2011, deixou o AC Milan de Allegri e assinou pela Juventus porque o treinador não acreditava nele. Recorde-se ainda que em 2017 Bonucci trocou a Juventus pelo AC Milan, devido a um litígio com Allegri, tendo regressado na época seguinte a Turim:

«O que está à vista de todos é que nunca tive a relação que queria com o treinador. A culpa não é só minha, porque tenho o meu carácter e muitas vezes tomei posições para o bem da equipa e dos meus companheiros», explicou.

«Isto criou um curto-circuito que não me permitiu terminar a minha carreira como gostaria. Pirlo fez-me sorrir, dizendo-me que talvez pudesse acontecer o mesmo que lhe aconteceu a ele: continuar a ganhar noutro lado depois de pensarem que estamos acabados. Também ouvi Chiellini, com quem tenho uma relação fraternal, e também Buffon, que queria ouvir a minha verdade, diferente do que o que estava escrito nos jornais», concluiu.