Agora sim, fechou o mercado de inverno. Um dia depois de Portugal, fizeram-se os últimos negócios nas principais Ligas europeias. Houve muitas movimentações, mas no total gastou-se bem menos do que nas últimas janelas de janeiro. Entre as cinco grandes Ligas, o investimento caiu para metade em relação ao inverno de 2023. A diferença está sobretudo na Premier League, que no total investiu menos do que… o dinheiro que o Chelsea pagou ao Benfica há um ano por Enzo Fernández.

Essa é a grande notícia. A Premier League não foi a Liga que mais investiu neste mercado de inverno. Esse título vai para a Liga francesa, de acordo com os dados compilados pelo Transfermarkt, num investimento liderado pelo Lyon, seguido do PSG. Portugal, com gastos estimados em 47.4 milhões de euros, surge na sétima posição entre os campeonatos europeus.

A nível global, o Brasil ocupa o segundo lugar entre os mais gastadores, quando vive o período mais intenso de transferências, na preparação da nova época, e onde a janela de mercado continua aberta. Tal como em vários países, sobretudo fora do continente europeu, da MLS à Liga mexicana. Para esta análise, o Maisfutebol contabilizou apenas os campeonatos europeus, onde o mercado já está fechado.

Porque é que a Premier League travou a fundo?

França, Itália, Alemanha e Espanha gastaram mais do que há um ano, mas a travagem a fundo da Premier Legue, a grande potência financeira da Europa, atira muito para baixo os valores totais deste mercado. As cinco grandes Ligas gastaram cerca de 580 milhões de euros, contra 1.1 mil milhões há um ano.

Há um ano os clubes ingleses gastaram 840 milhões, liderados pelo Chelsea que, com novos donos, investiu mais de 300 milhões em reforços só em janeiro. Há muito que Inglaterra tem o campeonato com maior capacidade de investimento e no verão de 2023 bateu todos os recordes, com gastos de 2.8 mil milhões de euros, quase tanto como todas as outras grandes Ligas juntas. Passados seis meses, a torneira secou. Este foi um dos mercados de inverno mais comedidos de sempre da Premier League.

O lateral Radu Dragusin, que trocou o Génova pelo Tottenham numa transferência de 25 milhões de euros, foi o negócio mais avultado da Premier League em janeiro, seguido da transferência no último dia de Adam Wharton para o Crystal Palace, por 21 milhões. Nas contas dos gastos entra ainda a contratação de Claudio Echeverri pelo Manchester City, embora a promessa argentina apenas chegue em 2025. De resto, o mercado em Inglaterra fez-se sobretudo de empréstimos.

Esta súbita contenção inglesa deve-se sobretudo ao apertar do controlo financeiro por parte da Premier League e das regras que impõem limites aos prejuízos, com a aplicação de sanções desportivas. Esta época, o incumprimento já custou dez pontos ao Everton, que é ainda alvo de outro processo, tal como o Nottingham Forest. Perante este cenário, os clubes optaram por refrear gastos. Este é o factor com mais peso, mas haverá outros. Ente eles o facto de este mercado ter coincidido com a CAN e a Taça da Ásia. Isso reflete-se, como analisa o The Athletic, na oferta, porque muitos clubes estão com menos jogadores disponíveis nesta altura e menos dispostos a perder mais elementos, mas também na procura, uma vez que eventuais alvos entre os internacionais africanos e asiáticos não estariam disponíveis no imediato.

Arábia Saudita, será o fim da bolha?

Outra das notas de destaque deste mercado foi a discrição da Arábia Saudita, em contraste profundo com o investimento avassalador do verão passado, quando abalou o mercado europeu, aliciando uma legião de nomes sonantes e gastando qualquer coisa como 950 milhões de euros. Agora foi bem diferente. O lateral brasileiro Renan Lodi, que trocou o Marselha pelo Al Hilal de Jorge Jesus, foi a única transferência de peso entre clubes. Foram 23 milhões de euros, o valor total do investimento saudita. Menos de metade, portanto, do que gastou a Liga portuguesa.

Chegou também Rakitic, que rescindiu com o Sevilha e assinou pelo Al-Shabab, clube que poderá vir a ser treinado por Vítor Pereira - que perdeu em contrapartida o argentino Iván Banega, de volta ao Newell’s Old Boys. Nesta janela a Arábia Saudita foi aliás notícia sobretudo pelas potenciais saídas de jogadores desencantados com o El Dorado prometido. O caso mais sonante foi Jordan Henderson, que virou costas ao fim de seis meses para rumar ao Ajax, enquanto Karim Benzema alimentou manchetes mas para já continua no Al-Ittihad. O próximo verão dirá se foi apenas uma contenção tática ou se está a extinguir-se a bolha saudita.

Ligas europeias que mais gastaram 

Dados estimados pelo Transfermarkt

Itália lidera receitas, Portugal no quinto lugar

Gastou-se menos, ganhou-se menos. Também a nível das receitas este foi um mercado de inverno mais pobre do que o dos últimos anos, exceção feita a 2021, o ano da pandemia.

Itália foi o único campeonato a superar a fasquia dos 100 milhões de euros ganhos, verba liderada pelas transferências de Dragusin para o Tottenham e de Elmas, que trocou o Nápoles pelo Leipzig por 24 milhões de euros ou, como é norma na Serie A, por transferências internas como as de Ngonge, do Verona para o Nápoles, e Baldanzi, que trocou o Empoli pela Roma. Ainda assim, o campeonato italiano ganhou no total, lá está, menos do que o Benfica sozinho no inverno passado.

Em segundo lugar surge a França e em terceiro a Bélgica, enquanto a Premie League só aparece na 10ª posição. Os clubes ingleses também realizaram poucas mais-valias e, apesar de ter havido um fluxo considerável de transferências, assentou sobretudo em empréstimos.

A Liga portuguesa ocupa o quarto lugar entre as que mais ganharam. A maior fatia das receitas resulta das verbas que o Benfica encaixou com a transferência de Musa e as saídas de Lucas Veríssimo, João Victor e Chiquinho, um total de 26 milhões de euros.

Os outros «grandes» não tiveram vendas significativas, tendo promovido várias saídas, mas por empréstimo. O maior encaixe para um clube da Liga resultou de uma transferência interna, com o FC Porto a pagar 12 milhões de euros ao Famalicão por Otávio. Também o Estoril ganhou quatro milhões de euros com a transferência de Koba Koindredi para o Sporting.

Feitas as contas, também as receitas da Liga são inferiores às dos últimos anos, sem uma grande transferência de inverno para Inglaterra, como aconteceu no ano passado com Enzo Fernández, há dois anos com Luis Diaz, que trocou o FC Porto pelo Liverpool, ou em 2020 com a saída de Bruno Fernandes do Sporting para o Manchester United.

Ligas europeias que mais ganharam

Dados estimados pelo Transfermarkt