20 minutos em Guimarães bastaram para levantar a questão que titula a peça. Carlos Eduardo entrou e adensou as dúvidas sobre a futura composição do meio-campo do FC Porto. «Respira qualidade por todos os poros, das chuteiras à cabeça», escreveu o Maisfutebol na crónica do jogo.

E se o remédio para os males do meio-campo tricampeão nacional for este brasileiro, de 24 anos, recrutado ao Estoril-Praia? Não Steven Defour, não Hector Herrera, mas Carlos Eduardo.

Vinícius Eutrópio treinou-o em quatro clubes (Ituano, Fluminense, Grémio Barueri e Estoril) e é um «confesso admirador» das capacidades de Carlos Eduardo. Considera-o um «amigo íntimo da bola».

Rodolfo Canavesi, vice-presidente do Desportivo Brasil, descobriu-o numa «família simples do interior de São Paulo». Fala com «entusiasmo» sobre «a maior esperança» alguma vez peneirada no clube de Porto Feliz, proprietário de uma das melhores academias de futebol do país.

«O Carlos Eduardo é um pioneiro, um símbolo da nossa aposta em jovens atletas e do acordo com a empresa Traffic», descreve ao nosso jornal o dirigente, «pouco surpreendido» pela entrada do atleta no FC Porto.

João Coimbra partilha da ideia. O capitão do Estoril partilhou o balneário duas épocas e meia com Carlos Eduardo. «Tem dimensão para ser titular do FC Porto».

«Era júnior, veio treinar e jogou logo no Morumbi»

Seis meses de golos, assistências e exibições arrasadoras no Estoril levaram o FC Porto a interessar-se por Carlos Eduardo. Vinícius Eutrópio, atual técnico do Figueirense, conhece «como ninguém» o médio e garante que «o melhor está para vir».

«Ele demora sempre um pouco a impor-se. Foi assim em todos os clubes onde o treinei. Isso está diretamente ligado à personalidade dele e não à qualidade do seu futebol», refere Vinícius Eutrópio.

«O Carlos é muito reservado, tranquilo, precisa de sentir confiança e à-vontade para chegar ao relvado e querer a bola. Quando isso acontece, torna-se num médio extraordinário».

Quando Vinícius Eutrópio o conheceu, Carlos Eduardo tinha 18 anos. E um treino bastou para o técnico se deixar conquistar. «Eu treinava o Ituano e precisava de um júnior para completar a sessão de trabalho. Veio o Carlos Eduardo. Ficou e já não saiu mais. Foi logo titular».

A estreia, veja-se bem, aconteceu no mítico Estádio Morumbi. «Jogámos contra o São Paulo. A qualidade dele era já evidente. Passado alguns meses fui para o Fluminense e sugeri-o à direção».

O balneário do Flu tinha Conca, Fred e Thiago Neves. «Estava cheio de estrelas». Carlos Eduardo, «um menino», conquistou um lugar e ainda fez «sete jogos consecutivos a titular».

«No Desportivo Brasil comparavam-no ao Diego»

«Tecnicamente é muito apurado e isso faz toda a diferença. Joga facilmente com os dois pés, bate bem os livres e é um lançador de excelência», acrescenta Vinícius Eutrópio.

«Quer sempre a bola, em todo o relvado, e fisicamente é um privilegiado. Tem uma passada larga e é fantástico nas transições defesa/ataque».

A todas estas virtudes, João Coimbra acrescenta a «vontade de trabalhar». «É um jogador que treina bem e tem vontade de melhorar. Ficava sempre a bater livres no final dos treinos no Estoril».

Rodolfo Canavesi lança mais uns dados curiosos para a conversa. «No Desportivo Brasil comparavam-no ao Diego (ex-FC Porto), pela técnica e forma de tocar a bola. Eu acho-o superior, principalmente na componente física», considera.

8 ou 10? «Gosta de jogar de frente para a bola»

O desenho do meio-campo idealizado por Paulo Fonseca contempla três homens: dois médios centro - um mais defensivo (Fernando) e outro mais solto (Defour ou Herrera) - e um número dez que se aproxima de Jackson em vários momentos do jogo (Lucho).

Ora, perante este contexto, onde poderá encaixar Carlos Eduardo?

Viníciu Eutrópio e João Coimbra, profundos conhecedores do centrocampista brasileiro, coincidem na resposta:

«No Brasil e no Estoril utilizei-o nas posições 8 e 10, sem problemas. Gosto muito dele, tem inteligência e técnica, sempre entendeu bem o que lhe pedia», diz o ex-treinador de Carlos Eduardo ao Maisfutebol.

João Coimbra lembra que foi «a jogar entre o Gonçalo Santos e o Evandro» que Carlos Eduardo mais rendeu. «Alternava com o Evandro no apoio defensivo e o trio funcionava muito bem».

No FC Porto, dizem os nossos dois interlocutores, Carlos Eduardo pode muito bem ser «o apoio de Fernando» ou «uma alternativa a Lucho» num lugar mais adiantado.

«Gosta muito de jogar de frente para a bola e ler o jogo. Se melhorar o posicionamento defensivo pode ser um complemento excelente para o Fernando», refere João Coimbra.

O jogador do Estoril fecha a conversa e a análise com uma recordação: a melhor exibição de Carlos Eduardo pelo clube da Linha.

«Foi contra o Sporting Braga, em casa [21 abril 2013, 2-1]. Aos 90 minutos ainda arrancava e deixava todos para trás. Essa é outras das mais-valias dele. Tornou-se num jogador explosivo».

Em três meses e meio no FC Porto, Carlos Eduardo tem 12 jogos oficiais. Oito ao serviço da equipa B na II Liga, mais quatro no grupo principal: dois jogos no campeonato (17 minutos) e mais dois na Taça de Portugal (112).

A história está só a começar.

PLANO A: Carlos Eduardo ao lado de Fernando



PLANO B: Carlos Eduardo no lugar de Lucho