A pacatez de Lassad Nouioui rima bem com Arouca. O avançado que, antes de rumar a Portugal, teve como último clube o Celtic, onde ganhou o campeonato e a Taça da Escócia, e jogou a Liga dos Campeões, destaca-se pela discrição.

Mesmo habituado a meios maiores, desde Marselha onde nasceu, passando por Ajaccio, Corunha ou, finalmente, Glasgow, a passagem para um ambiente bem mais tranquilo em nada o incomodou. Tem as condições necessárias para trabalhar, e, o mais importante, está com a família. Pouco ou nada lhe falta, portanto.

Quando surgiu a hipótese Arouca, como é natural, procurou saber mais sobre esse nome novo no seu vocabulário, e a pergunta torna-se inevitável: já sabia onde ficava?

«Bem, isso não lhe posso responder…», começou por dizer ao Maisfutebol, por entre risos. Depois, mais a sério, puxou pelo seu lado sincero: «É claro que não sabia onde ficava, mas procurei informar-me e reunir o máximo de dados quando apareceu a possibilidade.»

Companheiro de Zé Castro, Bruno Gama ou Salomão no Depor, reteve as palavras favoráveis que ouviu deles sobre o futebol português, e aceitou partir à aventura. «É uma I Liga, uma oportunidade para voltar a jogar, pois estava no mercado, e o vosso futebol, é preciso notar, tem mais nível do que se possa pensar», defende, em jeito de análise:

«Há, obviamente, três equipas que se destacam, mais o Sp. Braga, mas, no resto, penso que há grande equilíbrio. É uma Liga competitiva e isso agrada-me bastante. Há boas equipas, com jogadores muito interessantes.»



A aposta já começou a dar frutos. No último domingo, apontou o primeiro golo no campeonato. «É sempre importante marcar, independentemente de ter sido o primeiro, e mais ainda quando isso permite conquistar os três pontos para a equipa. Não tenho qualquer meta. Fiquei satisfeito e espero que consiga fazer muitos mais», formula.

O que lhe interessa é recuperar a velha forma. «Serão, para já, seis meses para voltar ao meu nível, jogar ao máximo, e, no final da época, vamos ver. Não fecho a porta a nenhuma possibilidade», admite, revelando-se perfeitamente à vontade quanto à eventual continuidade em Arouca.

A Ligue 1, onde ainda não jogou, e o retorno à seleção tunisina - apesar da nacionalidade francesa preferiu esta última -, estarão, também, entre as suas prioridades.

Muita fé em Alá, boa vontade e improviso

Muçulmano praticante, não falha o momento das rezas, que têm coincidido com os momentos anteriores à disputa dos jogos. O mais difícil, por vezes, é encontrar um sítio adequado. Como não há uma mesquita por perto, o ritual é cumprido com uma boa dose de improviso.

A primeira vez causou estranheza, porque, apesar de dominar várias línguas, entre o árabe, francês, inglês e espanhol, disse ao assessor de Imprensa do clube que ia buscar a sua toalha antes de começar, quando, na verdade, queria dizer tapete. Mas o que iria passar-se ali?, terá dito para si próprio o responsável arouquense.

Resolvido o mal-entendido, Lassad passou a utilizar o gabinete do departamento de comunicação para fazer as orações, no estádio. O pior é quando a equipa tem de jogar fora. Nessas alturas, o nacional-desenrascanço entra em ação.

No jogo com o Gil Vicente, por exemplo, em Barcelos, a solução foi recorrer à sala de Imprensa do estádio. Ainda faltava algum tempo para começar a partida e, naturalmente, o espaço estava vazio. O assessor tomou a tarefa em mãos e «blindou» a sala por uns minutos. Missão cumprida.

Lassad explica que tem de rezar cinco vezes por dia e não necessariamente antes dos encontros. «Com um pouco de boa vontade, encontra-se sempre uma solução. Não faltam sítios para isso», considera.
 
Do Ramadão, um período que admite ser difícil para um atleta de alta competição, prefere falar quando a ocasião chegar. É compreensível, e nós respeitamos.

Um adversário com as cores do Celtic

Depois de duas épocas nos católicos de Glasgow, habituado portanto ao verde e branco, o avançado arouquense vai ter de olhar para estas cores como o «inimigo». O Arouca recebe o Sporting.  «Não vou correr o risco de me confundir [risos]. É uma grande equipa, que já conhecia antes de vir para Portugal. Está a praticar bom futebol», considera, longe de atirar a toalha ao chão. 

«Estamos bem, moralizados, porque vimos de duas vitórias consecutivas, e penso que se formos solidários e concentrados, podemos fazer um bom resultado», afiança, esperando poder reencontrar o amigo Salomão este sábado.

Em Portugal, não lhe sobram muito mais referências, mas é chegado ao irmão de Ghilas, do FC Porto, Kamel, que jogou no V. Guimarães. «Como somos todos de Marselha, não é difícil conhecer quem está neste meio», relembra. Como muitos, também começou nas ruas a jogar.

Na terra de Zidane, não podia deixar de ser, também ele, um admirador do antigo número 10 dos «Blues».