Terminou a fase de grupos da Liga dos Campeões, a última como a conhecemos. Antes das grandes decisões da época, o que fica de quatro meses intensos, como sempre. Os favoritos, as desilusões, os protagonistas, os recordes. Muitos deles em português

Adeus

Antes de mais, um momento para uma despedida. Foram três décadas de fases de grupos a dar enredo à Liga dos Campeões, tantas vezes com decisões dramáticas. Pois bem, esta foi a última edição com esta fórmula. A renovação da Liga dos Campeões na próxima época acaba com a lógica de grupos, passando a haver uma Liga única, com cada equipa a defrontar oito adversários diferentes. Resta esperar para ver se o novo formato estará à altura do legado da agora extinta fase de grupos.

Benfica

Zero pontos nas primeiras quatro jornadas, uma sucessão de erros e debilidades que fizeram os benfiquistas reviver o pesadelo de 2017/18, que terminou só com derrotas. O Benfica foi a tempo de controlar os danos e acabou em tom épico, com uma vitória sobre o Salzburgo que teve golo olímpico de Di María e Arthur Cabral a sair do banco e a tocar na bola pela primeira vez para marcar de calcanhar, no último suspiro, o golo que valeu o terceiro lugar e o apuramento para a Taça UEFA. Foi de menos, sobretudo depois da muito competente campanha da época passada, mas salvou o objetivo mínimo.

City

O campeão em título está aí, pronto para o que der e vier. A fase de grupos foi um passeio para o Manchester City. Era um grupo acessível, sim, mas os Citizens dominaram-no em estilo. A equipa de Pep Guardiola, Haaland, Bernardo Silva, Rúben Dias e companhia somou seis vitórias em seis jogos, mesmo com um onze alternativo na última partida, frente ao Estrela Vermelha. Teve o melhor ataque da fase de grupos, com 18 golos, foi a equipa com mais posse de bola e com mais eficácia no passe. Se na Premier League o City tem sido mais irregular esta época, na Champions foi, até agora, a máquina do costume.

Diego Simeone

O treinador do Atlético Madrid fez história esta época, ao chegar aos 100 jogos na Liga dos Campeões, apenas o terceiro técnico a atingir essa marca por um só clube. «El Cholo», o treinador que já levou o Atleti a duas finais da Champions e em 13 épocas soma nesta altura 101 jogos na competição, conduziu desta vez a equipa numa fase de grupos dominadora. Depois de sair pela porta pequena na época passada, o Atlético de Madrid foi primeiro no grupo e teve o segundo melhor ataque da prova, ironia.

Erling Haaland

O fenómeno norueguês volta a estar entre os melhores marcadores da fase de grupos, desta vez com companhia. Tem cinco golos, tantos quanto Griezmann e Morata, a dupla do Atlético de Madrid, e ainda Hojlund, o dinamarquês de 20 anos que foi uma das poucas boas notícias para o Manchester United na Champions, onde marcou todos os golos que leva na temporada. Haaland chegou aos cinco golos em cinco jogos, ele que aos 23 anos já foi por duas vezes o melhor marcador da Champions e que na época passada marcou 12 na campanha do Manchester City até ao título. Tornou-se esta temporada o mais novo e o mais rápido de sempre a chegar aos 40 golos (em 35 jogos), um recorde que Mbappé deteve apenas por um ano.

FC Porto

O único sobrevivente português na Liga dos Campeões, uma vez mais. A vitória em Hamburgo, na visita ao Shakhtar Donetsk, deu o pontapé de saída para mais uma fase de grupos competente do FC Porto – venceu quatro jogos e só perdeu ambas as partidas com o Barcelona. Passa à fase seguinte pela quinta vez em sete anos com Sérgio Conceição, a 14ª nas últimas 20 temporadas, de longe a equipa portuguesa com melhor saldo de qualificações na era Liga dos Campeões.

Golos

Marcaram-se 96 golos na fase de grupos, o que dá uma média de 3.08 por golos. Em linha com as edições anteriores, com tendência para baixar um pouco nas fases a eliminar. Esta Liga dos Campeões ficou marcada ainda por um marca redonda. Sérgio Ramos apontou o golo 10.000 da competição, na derrota do Sevilha frente ao PSV. O espanhol tornou-se de resto o defesa mais goleador de sempre na Champions na última jornada, com o penálti à Panenka frente ao Lens, que foi o seu 17º golo na Champions. Entre as equipas portuguesas, destaque para o FC Porto, que marcou 15 golos e teve dois jogadores com quatro golos cada um, Evanilson e Galeno.

Hat-tricks

Falam português os dois únicos hat-tricks desta Liga dos Campeões. Inglório o do benfiquista João Mário, que marcou três golos ao Inter, um guião de sonho transformado em pesadelo perante a recuperação dos italianos até ao 3-3 final. Histórico o de Evanilson, que saiu do banco pouco antes do intervalo e apontou três golos na reviravolta em Antuérpia, o primeiro jogador do FC Porto a consegui-lo na Champions como suplente.

Imanol Alguacil

A Real Sociedad voltou à Liga dos Campeões pela primeira vez em dez anos e terminou na frente do grupo. Um prémio justo para a equipa que foi uma das boas notícias desta edição da Champions, onde levou a identidade construída nos últimos cinco anos sob o comando de Imanol Alguacil, o treinador que já venceu uma Taça do Rei e levou sempre a equipa aos seis primeiros lugares. Além da qualidade de jogo - o banho de bola que deu ao Benfica na Luz é exemplar -, a Real Sociedad ainda teve a melhor defesa da fase de grupos, com apenas dois golos sofridos.

João Neves

Foi ele que inventou a oportunidade da qual resultou o golo de Arthur Cabral, o tal que manteve o Benfica na Europa, um momento perfeito para fechar a Champions do menino que joga como gente grande, que tinha 18 anos quando começou a fase de grupos e esteve em campo em cada minuto da campanha do Benfica, um dos totalistas desta fase de grupos. João Neves estreou-se na época passada, mas foi nesta temporada que a Europa ficou realmente a conhecer a combinação de talento, visão de jogo e competitividade que já é o médio do Benfica, com tanto futuro pela frente.

Kepler Ferreira (o eterno Pepe)

De recorde em recorde, a escrever uma história que já é só dele. Aos 40 anos, Pepe tornou-se o mais velho de sempre a marcar na Liga dos Campeões com o golo ao Antuérpia na quarta jornada. E na última ronda bateu o seu próprio recorde, ao aparecer na área para, três minutos depois de o Shakhtar reduzir num autogolo de Eustáquio, aparecer na área a acabar com as dúvidas que pudessem restar sobre a vitória e a qualificação do FC Porto para os oitavos. O internacional português, que é também o mais velho jogador de campo a atuar na Champions, é um fenómeno de qualidade e longevidade. Entre Real Madrid, Besiktas e FC Porto, tem 118 jogos na Liga dos Campeões. E continua a somar.

Liga Europa

Para oito equipas da Liga dos Campeões, incluindo Benfica e Sp. Braga, é por aí que a história continua. Com uma boa notícia – já não estará lá o Sevilha, o rei da Liga Europa, vencedor por sete vezes e atual detentor do troféu. O Sporting também já tem o apuramento assegurado, pelo que Portugal garante três equipas no play-off de acesso aos oitavos de final. Mas esta é uma benesse que vai acabar. Na próxima época, com o novo formato, não haverá passagem da Liga dos Campeões para a Liga Europa.

Milhões

A simples presença na Liga dos Campeões é um jackpot, sobretudo para a realidade portuguesa. Uma base mínima de trinta milhões de euros, contas por alto, que no caso do FC Porto, associada ao melhor ranking do clube e à melhor prestação desportiva, vale para já o dobro desse valor. São 62,5 milhões já garantidos e um eventual apuramento para os quartos de final valeria mais dez. O Benfica fecha a participação com 43,6 milhões de euros e o Sp. Braga com 32.3 milhões. A isto ainda se junta o valor de market pool, a apurar mais tarde. Está tudo explicado aqui.

Not good

De quatro ficaram apenas duas equipas inglesas em prova, Manchester City e Arsenal. Pior, duas delas ficaram em último no grupo, o que acontece pela primeira vez na história. As eliminações de Manchester United e Newcastle podem ter sido só um percalço, mas o facto é que Inglaterra é, de entre as quatro principais Ligas, a que terá menos representantes nos oitavos de final da Liga dos Campeões.

Olé

Espanha, em contrapartida, terá quatro equipas na próxima fase. E todas elas passaram em primeiro lugar nos seus grupos. Real Madrid, Atlético, Real Sociedad e Barcelona seguem em frente, uma demonstração de força do futebol espanhol, que tinha cinco equipas em competição e perdeu apenas o Sevilha. A Alemanha terá de resto três equipas na próxima fase, tal como a Itália. França fica apenas com um representante, tal como Portugal, Países Baixos, com o PSV, e a Dinamarca, que tem o Copenhaga apenas pela segunda vez nesta fase da prova.

Portugal

Foi bom enquanto durou. Portugal teve três equipas na Liga dos Campeões pela oitava vez, a terceira consecutiva. Só por duas vezes passou mais de uma, mas essas contas agora são passado. A queda no ranking dita que a partir da próxima temporada apenas o campeão nacional terá entrada direta, enquanto o segundo classificado parte da terceira pré-eliminatória.

Quinze

Os golos sofridos pelo Manchester United em seis jogos. É uma galeria de horrores a campanha do gigante inglês na Liga dos Campeões. Último pela segunda vez na sua história – a primeira foi em 2005/06, num grupo em que passaram Villarreal e Benfica -, sai de cena pela porta pequena, a segunda defesa mais batida, a par de Estrela Vermelha e Celtic e atrás apenas do Antuérpia, com o pior registo defensivo de uma equipa inglesa na história da prova. Os problemas não se resumem à Liga dos Campeões, mas ela foi o espelho da instabilidade dos «Red devils», que perderam nada menos que metade dos jogos que disputaram esta época.

Real Madrid

O rei da Liga dos Campeões fez uma fase de grupos imaculada, liderado por Jude Bellingham, o menino de ouro a viver uma primeira época de sonho em Madrid, que somou quatro golos e fez três assistências no palco europeu. Tal como o Manchester City, os merengues venceram todos os jogos, as únicas duas equipas a fazer o pleno. Depois de ter caído na meia-final precisamente frente ao City na época passada, o Madrid está em velocidade-cruzeiro e continua a liderar o lote de favoritos à conquista de mais uma Taça dos Campeões Europeus, a juntar às 14 que já tem no museu.

Sp. Braga

No regresso à fase de grupos da Liga dos Campeões ao fim de onze anos, a sorte não sorriu ao Sp. Braga, num grupo com Real Madrid e Nápoles. Ainda assim, manteve a esperança viva até ao fim, segurou o acesso à Liga Europa e despede-se com alguns momentos memoráveis, da reviravolta em casa do Union Berlim, com aquele golo de Bruma, ao golo de Álvaro Djaló na receção ao Real Madrid.

Trintões

O Sevilha foi outra das desilusões da Liga dos Campeões, eliminado com apenas dois pontos, a reforçar no palco europeu os sinais de desgaste de uma equipa que anda a penar também na Liga espanhola. Uma equipa com muito peso nas pernas, que lhe valeu um recorde nesta Liga dos Campeões. O onze que apresentou na penúltima jornada, frente ao PSV, foi o mais velho de sempre num jogo da Champions, com média de idades de 32 anos e 19 dias. Jesus Navas, com 38 anos, era o mais velho, mas tinha a companhia de jogadores como Sergio Ramos, Fernando ou Rakitic, todos acima dos 35 anos.

UEFA

A última fase de grupos da Champions teve grandes jogos e também algumas polémicas, a envolver sobretudo decisões de arbitragem – com o penálti a favor do PSG frente ao Newcastle à cabeça. Mas o grande desafio para a UEFA vem agora, com a reformulação daquela que é a grande competição de clubes do planeta. A nova Champions terá mais clubes, 36 contra os atuais 32, e também mais dinheiro – a UEFA estima um aumento de receitas na ordem dos 33 por cento em relação aos atuais 3.5 mil milhões -, mas sobram as dúvidas sobre o sucesso do novo formato.

Vermelho

António Silva foi revelação na época passada, também na Liga dos Campeões, e voltou a ser protagonista esta época, mas a acusar dores de crescimento. O central do Benfica é o único jogador que viu dois cartões vermelhos nesta fase de grupos. Logo na primeira jornada, deixou o Benfica reduzido a dez frente ao Salzburgo antes do quarto de hora, por causa de uma mão na bola. E depois voltou a ser expulso frente ao Inter, uma entrada dura a acentuar o descalabro da equipa na fase final do jogo.

Wenderson Galeno

Um bis ao Shakhtar e depois mais outro, em cima disso quatro assistências para golo, de acordo com as estatísticas da UEFA. Com estes números, Galeno não apenas foi personagem principal da campanha do FC Porto como é um dos nomes a reter da fase de grupos da Liga dos Campeões, a liderar os rankings de envolvimento em golos. 

Xavi

Depois de duas épocas a cair na fase de grupos, o Barcelona cumpriu o objetivo. Passou aos oitavos e passou em primeiro, embora com os mesmos pontos do FC Porto. Mas a embaraçosa derrota na última jornada frente ao lanterna vermelha Antuérpia, mesmo com um onze em poupanças, reforça a ideia da irregularidade culé e acentua a pressão sobre Xavi. Tanto mais que foi antecedido por uma rábula não explicada, uma convocatória para Antuérpia sem alguns dos pesos pesados e entretanto alterada, segundo foi noticiado em Espanha, por indicação do presidente.

Yamal

Lamine Yamal está destinado a fazer história. O miúdo que foi lançado na primeira equipa do Barcelona aos 15 anos, ainda na época passada, tornou-se no Dragão o mais jovem de sempre a jogar como titular na Liga dos Campeões, aos 16 anos e 83 dias. E fechou a fase de grupos com uma grande assistência para Ferran Torres, também o mais novo de sempre envolvido diretamente num golo na Champions. O futuro passa por aqui.

Zaire-Emery

Por falar em promessa. O PSG estava em risco de ser eliminado, a perder em Dortmund. E quem apareceu a dar um pontapé nas dúvidas não foi nenhuma das estrelas consagradas. Foi o miúdo de 17 anos, autor do golo do empate que, aliado à vitória do Milan em Newcastle, apurou o PSG. Foi o homem do jogo em Dortmund, como já tinha sido na vitória do PSG sobre o Milan. Zaire-Emery é um prodígio, todos lhe vaticinam um futuro brilhante. Mas ele mostrou que também já é presente.