O FC Porto podia ter ganho ao Moreirense de mil maneiras. Foi pelo mais curto. Marcou só um golo de penálti e teve de esperar pelo fim para tirar o peso das costas, sacudir a poeira e respirar fundo com o segundo e o terceiro. Os dragões mereciam uma saída mais heroica, adulados por ninfas e sereias celestiais, mas estiveram agarrados tempo a mais ao 1-0 e com os nervos em franja. Por culpa própria.

Numa interminável linha reta, como se conduzisse à noite na solidão do Mojave, o FC Porto bateu recordes de velocidade e de oportunidades de golo. Esqueceu-se, porém, que a via era de dois sentidos e que do outro lado estava um Moreirense com vida. E desejo de acelerar.

Seria contranatura e até ilógico, tendo em conta o filme do jogo, mas a realidade diz-nos que o Moreirense sobreviveu a respirar na diferença mínima e teve duas grandes ocasiões para marcar. Na primeira, Walterson não chegou por centímetros ao cruzamento do baixinho Yan; na segunda, um livre venenoso atravessou a baliza portista e ninguém deu o toque final.

FICHA DE JOGO E AO MINUTO

Os primeiros 20 minutos foram equilibrados, até descontrolados, mas com o golo de Sérgio Oliveira de penálti – falta claríssima de Ferraresi sobre Corona, minuto 21 – os dragões soltaram-se e trocaram o modo pacifista pelo modo gladiador.

Remates, recuperações de bola, intensidade altíssima, a melhor versão do FC Porto idealizado por Conceição, embora com um defeito grave: incapaz de encontrar o golo da tranquilidade. Ora Pasinato fazia milagres (uma cabeçada de Marega e um desvio de Corona), ora a barra não deixava (Taremi, de cabeça), ora o VAR encontrava três centímetros irregulares e anulava (Toni Martinez).

Ora, este massacre sem sangue só agradou a vegetarianos e ao Moreirense. Foi como se o dragão espancasse a vítima de forma virtual, num universo qualquer em 3D. No campo, o Moreirense suportava a pressão e continuava a tentar levar qualquer coisa do jogo.

DESTAQUES DO JOGO: o patrão Sérgio

As reticências só desapareceram com os golos dos avançados lançados do banco por Conceição. Primeiro Toni Martinez – entrou cheio de raiva o espanhol – e depois o brasileiro Evanilson, dois homens que ainda procuram espaço e golos no reino azul e branco.

Esses golos sacramentais para o FC Porto apareceram aos 89 e aos 90+2 minutos. O que nos leva ao início da crónica. Os campeões nacionais tiveram mil maneiras e mil oportunidades para ganhar o jogo e recolocarem-se a quatro pontos do líder Sporting. Preferiram a versão utilitária e minimalista.

  Veja o resumo do jogo: