No dia em que os portugueses foram às urnas para escolher um novo Governo, Roger Schmidt apresentou uma nova equipa na Luz, deixando intocáveis como João Neves, Rafa Silva ou Di María no banco de suplentes para a receção ao Estoril para um jogo de enorme tensão. Os encarnados marcaram primeiro, mas permitiram o empate, voaram tochas para o relvado, mas um golo de Marcos Leonardo mesmo a fechar a primeira parte, permitiu à equipa serenar, para depois confirmar o importante triunfo com com golo de Tiago Gouveia.

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A primeira reação ao onze eleito por Roger Schmidt veio das bancadas, num dia em que não houve abstenção na Luz (quase 50 mil nas bancadas), o tribunal dos adeptos pronunciou-se no momento em que foi anunciada a equipa no sistema de som do estádio: silêncio, palmas tímidas para Tiago Gouveia e Florentino, assobios para Roger Schmidt e uma ovação estrondosa para João Neves, um dos suplentes de luxo esta noite. Uma aposta arriscada do treinador, acompanhada pela previsão de uma reação da equipa aos últimos resultados. Um enorme peso para o novo onze que, além disso, tinha pela frente um problema adicional: um Estoril ferido também pelos resultados e artilhado para defender e responder em transições rápidas.

O Benfica assumiu desde logo a iniciativa do jogo, com uma elevada posse de bola, mas tinha duas linhas amarelas pela frente, uma de cinco, à frente da baliza de Dani Figueira, reforçada por outra de quatro, ficando apenas Cassiano destacado na frente. Um desafio de paciência para este renovado Benfica nos primeiros quinze minutos, num jogo muito amarrado, com os encarnados a procurarem abrir brechas sobre as alas.

A primeira oportunidade, aos cinco minutos, surgiu num lance de bola parada, com Kökçü, na marcação de um livre, a atirar a rasar a barra, mas, logo a seguir, o Estoril conquistou o primeiro canto do jogo, metendo o Benfica em sentido com a primeira transição da noite. Foi preciso muita paciência e persistência para os encarnados chegarem ao golo, aos quinze minutos, num lance sobre a direita. David Neres cruzou a bola da direita para a entrada da área onde surgiu Kökçü, esta noite mais adiantado do que tem sido habitual, a rematar de primeira, com a bola a fugir de Dani Figueira. Um grande golo a provocar a primeira grande explosão de alegria nas bancadas.

Um golo que parecia lançar o Benfica para uma vitória tranquila, até porque, logo a seguir, teve nova oportunidade para marcar, desta vez num lance sobre a esquerda. Aursnes combinou com Tiago Gouveia, foi à linha de fundo e cruzou atrasado para mais um remate do turco, desta vez para defesa apertada de Dani. Não marcou o Benfica, marcou o Estoril na resposta, com Heriberto a fugir pela direita, a derivar para o interior da área e a rematar forte. Trubin ainda defendeu, para a frente, e Rodrigo Gomes, na recarga, atirou de primeira com o pé esquerdo. Pelo quarto jogo consecutivo, o Benfica voltava a consentir golos.

Tochas no relvado

Um empate que deixou o Benfica entorpecido. Nos minutos seguintes, o Benfica continuou com mais bola, mas parecia que estava a fazer um «meínho» no treino, com os jogadores a trocarem a bola, mas sem ninguém desmarcar-se, sem movimentos de rotura, sem inspiração. Um Benfica com menos metros. Ouviram-se assobios tímidos das bancadas até que aconteceu o absurdo. Na zona das bancadas onde costumam estar os adeptos associados às claques, acenderam-se várias tochas, rebentaram petardos e foi exibida uma faixa onde se lia «Ninguém está acima do Benfica Roger». As mesmas tochas foram depois lançadas para o relvado, para junto da área de Dani Figueira e o árbitro interrompeu o jogo.

Foram poucos minutos, mas os ânimos estavam definitivamente exaltados, com a maioria dos adeptos a sancionar o comportamento das claques com assobios. O jogo foi retomado e o Benfica ganhou um novo balão de oxigénio, já em tempo de compensação, antes do final da primeira parte. David Neres cruza da direita, Tiago Gouveia amortece de cabeça junto ao segundo poste e, já com Dani Figueira batido, Marcos Leonardo toca também de cabeça para o fundo das redes. O Benfica recuperava a vantagem e reconquistava o apoio dos adeptos mesmo antes do intervalo. O brasileiro voltava a ser amuleto.

Tiago Gouveia sossega corações

A verdade é que o Benfica regressou bem melhor para a segunda parte, mais ligado, com mais ritmo, com mais intensidade e a confirmar este novo estado de ânimo, com novo golo. Tiago Gouveia, servido por Kökçü, fugiu a Bernardo Vital e, depois, a Mangala, entrou na área e fez o terceiro do Benfica com um remata cruzado. O jovem avançado pediu de imediato desculpa, em respeito pela antiga equipa, mas os sorrisos regressavam, tanto no relvado, como nas bancadas.

O Estoril nunca baixou os braços, diga-se, e até voltou a crescer no jogo, Heriberto e Alejandro Marqués [rendeu Cassiano], obrigaram Trubin a aplicar-se para evitar novo golo do Estoril, mas o Benfica estava agora bem mais sólido e também teve uma oportunidade soberana para voltar a marcar. Kökçü, mais uma vez ele, arrancou pela direita, invadiu a área e rematou cruzado. Do lado contrário, Aursnes recuperou a bola e serviu Marcos Leonardo que, desta vez, atirou à figura de Dani Figueira. Um lance que foi analisado pelo VAR, devido a uma possível falta de Mangala sobre Marcos Leonardo. Fez-se silêncio e muitos, nas bancadas, foram surpreendidos pelo anúncio de que o árbitro ia explicar a sua decisão: «Não há penálti, o número 22 não cometeu infração».

Roger Schmidt foi, depois, transfigurando a equipa, com as sucessivas entradas de Benjamin Rolheiser [tinha apenas 8 minutos distribuídos por três jogos], Arthur Cabral, João Neves [mais uma grande ovação], Morato. Álvaro Carreras. Quase uma nova equipa em campo.

Vasco Seabra também mudou meia equipa de uma assentada e o jogo voltou a ganhar uma nova vida nos dez minutos finais. Rafik Guitane esteve muito perto de reduzir a diferença, mas logo a seguir João Neves deixou a baliza de Dani Figueira a abanar com uma bomba que explodiu na trave antes do jogo acabar.

Não terá sido propriamente a reação que Roger Schmidt esperava, mas o Benfica, depois do Sporting ganhar em Arouca também este domingo, acaba por conseguir o essencial: mantém a distância curta para os leões e descansou jogadores importantes para o segundo jogo com o Rangers.