Jesualdo Ferreira conhece como poucos os dois lados dos clássicos entre Sporting e FC Porto, em Alvalade. Em 2008 venceu pelos dragões, para a Liga, por 1-2, triunfo que só viria a ser repetido 12 anos mais tarde, já sob comando de Sérgio Conceição (0-1).

Nas voltas da carreira, o professor assumiu o comando técnico dos leões em 2013, ano no qual travou o FC Porto de Vítor Pereira (0-0), que mais tarde se sagraria tricampeão.

Em Alvalade, começa por contar Jesualdo ao Maisfutebol, este é um clássico pautado pela estratégia, pela «agressividade positiva» dos portistas e pela «organização posicional» dos leões, ancorada na qualidade a meio-campo. E eis que o técnico puxa do quadro tático:

«O Sporting, em casa, sempre foi um adversário muito incómodo, não de pendor defensivo, mas capaz de neutralizar a agressividade do FC Porto. O Sporting sempre teve boas referências no meio, como Miguel Veloso, João Moutinho, Dier – que estreei como médio – e Fábio Rochemback», analisa.

Já que o momento às memórias pertence, o melhor será reavivar o arquivo. Jesualdo recua, então, até 2007 e relata a disputa entre os então «rivais diretos».

«O FC Porto chegou aos quartos de final da Liga dos Campeões em 2008. Contudo, a mesma equipa, em 2007, empatou 1-1 em Alvalade. Naqueles três anos, até 2009, a luta pelo título foi com o Sporting», lembra.

Independentemente de eras, a história deste clássico em Alvalade evidencia o equilíbrio dos confrontos, de tal forma que, em 246 encontros, o resultado mais habitual na casa dos leões é 1-1. Como treinador do Sporting, Jesualdo também se socorreu da já tradicional organização a meio-campo, e adicionou uma pitada de contra-ataque, para «controlar» os então bicampeões de Vítor Pereira.

«Nesse jogo tivemos três grandes oportunidades, fomos bem melhores, mas o Helton salvou [o FC Porto] e esta narrativa atesta a história. O FC Porto encontra sempre dificuldades, tanto é que não conseguiu vencer entre 2008 e 2020», remata.

A aura de Alvalade

Vencer em casa ou descolar na liderança isolada. Para Jesualdo, o clássico desta segunda-feira resume-se a duas hipóteses, uma delas semelhante a 2008, quando comandava os azuis e brancos.

«Essa vitória em Alvalade (1-2) permitiu deslocar na liderança. E foi um triunfo muito importante para ganhar confiança, depois de um arranque de campeonato menos bom», recorda, como quem adivinha a possibilidade de Sérgio Conceição alcançar algo semelhante. Em todo o caso, alerta o professor, o recente sucesso dos dragões na casa do rival não se deve apenas ao técnico. Trata-se, em primeiro lugar, do ADN entranhado no balneário, uma matriz que ultrapassa plantéis e ideias táticas.

Mas, ressalva, a aura de Alvalade poderá ser trunfo na manga de Rúben Amorim, uma vez que, além da estratégia no relvado, as bancadas anseiam repetir 2021.

«O Sporting sempre foi uma equipa diferente, com excelentes jogadores, mas que por vezes falhava em aplicar as ideias. Agora são uma equipa mais estável, acreditando muito no treinador, de quem os jogadores são próximos. O tal clima de Alvalade está relacionado com o histórico de confrontos e conquistas. Quanto maior é o hábito de ganhar, mais se exige», descreve o experiente técnico, de 77 anos, por agora sem clube.

De Gyökeres a Eustáquio, e a corrida pelo título

Sem qualquer ânsia por «guerras táticas», Jesualdo Ferreira salienta o controlo do FC Porto no meio-campo e zona interior do ataque, contrastando com a velocidade do Sporting pelas alas. Estratégias díspares, mas ideais para um jogo rico em oportunidades.

«O FC Porto, com o Taremi e Evanilson como referências na frente, terá de estender a equipa para defender o Sporting mais exterior. Contudo, poderá ter problemas pelo meio, onde surge Gyökeres, apoiado por três hábeis: Pote, Edwards e Trincão», rascunha o professor.

Quanto ao processo defensivo dos leões, Jesualdo destaca a capacidade de os azuis e brancos açambarcarem o meio-campo com Eustáquio e Varela, além da técnica e velocidade de Pepê e Galeno. Por isso, os contra-ataques dos portistas poderão ser chave para o desfecho do clássico.

E quanto à corrida do título, serão contas a quatro? Ainda não, atira prontamente o técnico.

«Por agora, há três equipas com capacidade para chegarem juntas à reta final da Liga. O Sp. Braga, que já foi 2.º e jogou uma final europeia, ganhou o estatuto de “grande”. Contudo, precisará de ser melhor e consistente até às últimas jornadas. O Sp. Braga cresceu muito desde 2003, mas, para conquistarem títulos, terão de continuar a acumular adeptos, força política e capacidade financeira», concluiu.

Na noite desta segunda-feira, o Sporting recebe o FC Porto, no encontro que encerra a 14.ª jornada da Liga. Os leões e dragões estão empatados no topo da tabela, a 31 pontos. Esta será a edição 191 deste clássico, em duelos a contar para o campeonato.

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