Num filme complicado, até incoerente, salva-se o final. Para o Benfica, claro. As águias seguram a liderança e salvam-se de 45 minutos de sofrimento e equívocos na Feira, casa do último da Liga, um Feirense sem vitórias há 26 longas jornadas.

Há argumentistas desinspirados e o autor deste Feirense-Benfica faz parte dessa estirpe.

O aflito entra condenado, mas passados 40 minutos já veste a pele de herói e usurpa o poder ao rico da Luz; faz o 1-0 num golão de cabeça, ameaça o 2-0 mas o árbitro assistente (amparado pelo VAR) diz que não, joga um futebol alegre e envolvente, como se tivesse passado o campeonato todo nisto.

 

Sem nexo. Sentido proibido.

 

De repente o filme já muda de tom e o protagonista já não é o Feirense.


FICHA DE JOGO DO FEIRENSE-BENFICA: 1-4

Em dez minutos, apenas dez, o Benfica faz tábua rasa de tudo o que vimos nos primeiros capítulos e marca três golos. Começa a mudar a história num penálti sofrido e transformado por Pizzi – o VAR avisou João Pinheiro e João Pinheiro disse que sim -, consegue a reviravolta nos descontos do primeiro tempo às custas de um patinho feio com a braçadeira de capitão (André Almeida) e acaba com as comoventes esperanças do herói que agora já é vilão aos 49 minutos.

 

 

Respirem fundo: Caio Secco e Bruno Nascimento estorvam-se, o defesa afasta a bola de cabeça e Seferovic marca de primeira, de pé esquerdo, para um chapéu perfeito. Caio estava longe dos postes. Golão!

 

Senhor argumentista, algum tento, por favor. Portanto, o Feirense que era último e passou a resistente-mor já era, novamente, aquilo que tem sido quase toda a época: um saco de pancada para os oponentes. Inverosímil, no mínimo.

 

Com tanto para contar, quase nos esquecíamos de dizer que um dos atores da película é Adel Taarabt. Já o tinham visto? Esperou quatro anos para ser titular do Benfica e sai da Feira com boa nota. Lógica? Pouca, muito pouca.

 

Bruno Lage escolhe o marroquino e o menino Florentino para atenuar a ausência de uma rampa de lançamento do passe (Gabriel) e de uma bala (Rafa). Não é bem a mesma coisa.

DESTAQUES DO JOGO: Seferovic, viciado no golo

Adiante. Depois das dificuldades tremendas e da reviravolta servida em dose tripla, o comandante Benfica lá navega em águas menos tormentosas, mais tranquilo e despreocupado, e mostra nesse período a sua melhor cara: toques de primeira, pressão efetiva, movimentações em busca dos espaços.

 

 

O filme passa de complicado a chato e de chato a feliz. Para o Benfica, naturalmente.

 

Antes do apito final e da última cena, o suíço Seferovic faz o 1-4 num cabeceamento fantástico: 11º golo nas últimas 11 jornadas. É ele o artista principal, o Benfica agarra-se à liderança, mas a sensação de quebra nas últimas semanas não o larga. 

 

Contas feitas: o Feirense apresentará razões de queixa sobre a arbitragem, principalmente pelo golo anulado e que seria o 2-0 aos 21 minutos; aparentemente, o árbitro assistente viu algo que nos escapou e o VAR não o contrariou; o penálti de Pizzi? É difícil ver naquele lance uma ação faltosa. Mas talvez haja alguma câmara capaz de o fazer.

 

Um filme assim, tão destrambelhado, só pode ser salvo por um realizador competente.