Por Sérgio Pires

Dois golos de Kléber, devidamente coadjuvado por Tozé, ajudaram a fazer a diferença numa partida em que o Boavista demonstrou muita vontade mas pouca arte perante um adversário com mais argumentos.

O piso sintético, a chuva e a vontade que um Boavista com alma guerreira entrou em campo quase que disfarçavam a grande diferença de valor entre as duas equipas no jogo desta tarde no Bessa, mas quando Kléber decidiu aparecer para virar o tabuleiro... acabou-se o xadrez.

Antes de salientar o papel de Kléber e de Tozé na reviravolta estorilista, há que salientar que aos axadrezados falta em arte o que lhes sobra em determinação. E foi assim que abordaram a partida e logo no primeiro lance chegaram à vantagem num cabeceamento de Idris Mandiang, após cruzamento de Leozinho, logo aos 3 minutos.

O primeiro quarto de hora até foi do Boavista, mas a partir daí o Estoril, com Tozé a comandar o meio-campo e Kléber como referência lá na frente, foi tomando conta do jogo. A equipa de José Couceiro dominou mais no terreno do que em oportunidades de golo. Essas não foram particularmente claras ou abundantes no primeiro tempo. Do lado do Boavista decorreram sobretudo dos raides pela esquerda de Montenegro, enquanto pelos estorilistas saiam sobretudo da criatividade de Tozé.

Até que em cima do intervalo Kléber resolveu aparecer na partida virá-la do avesso. Na sequência de um canto de Fernandinho, o ponta-de-lança brasileiro antecipou-se de cabeça no coração da área para surpreender a defesa axadrezada e desviar para o golo do empate.

Um resultado justo ao intervalo, apesar do ligeiro ascendente estorilista. Mesmo assim, o Boavista voltou a entrar melhor no regresso dos balneários. Esteve até perto do golo, por Uchebo, que por não ter o instinto matador do avançado que ameaçava a baliza contrária não marcou depois de contornar o guarda-redes. A falta de eficácia e o cada vez menor fôlego da equipa da casa permitiu que o adversário crescesse e desse a volta ao marcador, aos 65 minutos. Novamente Tozé e Kléber em destaque. O jovem médio emprestado pelo FC Porto entrou com a bola controlada desde o meio-campo até a grande área do Boavista e assistiu primorosamente o ex-avançado portista, que aproveitou a saída de Mika para picar a bola com classe para a reviravolta no marcador.

Nem dois minutos passaram e Kléber ameaçou o hat-trick que resolveria a partida, num remate forte e cruzado na área, mas os restantes vinte minutos de jogo viriam a retrair o Estoril. Mais cautelosa, a equipa de Couceiro recuou as linhas e esperou por um Boavista que procurou o empate com fogachos.

O Estoril controlou os acontecimentos, apesar da determinação do Boavista, sempre com mais coração que cabeça. Muita bola bombeada, muita correria, mas cada vez menor discernimento à medida que o cronómetro avançava.
A vontade é a imagem de marca de Petit, que de um contentor de jogadores (recebeu mais de uma vintena nesta época) fez uma equipa de futebol. Não um Boavistão, porque não há matéria-prima para isso, mas ainda assim uma equipa que à entrada para esta última jornada da primeira volta estava apenas três pontos do Estoril. Apesar de tudo, este Boavista ainda não chega para se bater com adversários como este Estoril... com argumentos como Kléber, que traz golos na ponta da chuteira.