*por Rui Pedro Paiva

O Santa Clara venceu o Marítimo por 2-0, na jornada inaugural da I Liga. Num jogo em que a criatividade não abundou, foi Thiago Santana que resolveu o encontro com dois golos que selaram a vitória para a equipa açoriana, que foi sempre a formação que mais procurou almejar a baliza contrária.

E 202 dias depois o futebol ao mais alto nível voltou aos Açores. A pandemia da covid-19 afastou o Santa Clara dos Açores na reta final da temporada passada e os açorianos mudaram-se para o continente, para jogarem como visitados na Cidade do Futebol. A última vez que o Santa Clara tinha jogado no estádio de São Miguel foi a 2 de março, na altura com uma derrota frente ao FC Porto (2-0).

O regresso dos açorianos foi marcado pelo aniversário do adversário insular: o Marítimo que este domingo cumpre 110 anos. Com tanto para celebrar, ambas as equipas imprimiram intensidade no início da partida. O Marítimo, mais forte e mais pressionante, começou os primeiros minutos a tentar encostar o Santa Clara «às cordas».

Após o fôlego inicial, o jogo equilibrou-se, tornando-se numa grande batalha a meio campo pela disputa da posse da bola. O Santa Clara foi subindo no terreno e ganhou o domínio da posse de bola, mas, para chegar à baliza adversária, os açorianos recorriam a bolas bombeadas para a área que a defesa maritimista ia resolvendo com maior ou menor dificuldade. O primeiro lance de perigo no encontro chegou aos 19 minutos, através de um lance de bola parada. Osama Rashid, em zona central, atirou direto à baliza para uma defesa atenta de Abedzade.

Com o passar dos minutos, o Santa Clara assumiu a despesa do jogo, dominando a posse de bola, procurando penetrar no meio campo adversário. Um domínio que não se materializou em lances de golo. Pela frente encontrou um Marítimo mais recuado, com as linhas muito próximas e com um bloco compacto que foi travando as iniciativas açorianas.

A equipa de Vidigal procurou ser cirúrgica nas saídas para o ataque, fazendo-o através de transições ofensivas rápidas. Após estar lá na frente, o Marítimo encontrou um recurso para fazer chegar o perigo à baliza de Marco: os lançamentos de linha lateral, constantemente bombardeados para a área adversaria.

A equipa madeirense dispôs de dois lances perigosos no primeiro tempo, ambos por Correa, ambos de bola parada. Aos 38 minutos, Correa, esteve perto de fazer um golão de canto direto. Valeu aos açorianos a atenta defesa de Marco. Mesmo em cima dos 45 minutos, através de um livre do «meio da rua», encostado à lateral direita, o jogador do Marítimo surpreendeu todos com um remate em arco que ia para o fundo das redes. Surpreendeu todos, menos Marco, que correspondeu novamente com uma defesa crucial. Ainda assim, de parte a parte, foram escassas as oportunidades de golo na primeira parte.

A tónica da primeira parte foi transposta para a segunda. O Santa Clara com mais bola, a jogar no meio campo adversário, mas sem conseguir penetrar na muralha madeirense. Faltava criatividade ao Santa Clara – e ao encontro.

Para compensar a criatividade, veio a força de vontade. Numa das poucas vezes que o Santa Clara conseguiu ultrapassar o bloco adversário chegou ao golo. Aos 57 minutos, Mansur (que até então estava desinspirado) foi guerreiro na ala esquerda, ganhou o lance aos adversários, cruzou para a área e Santana, mais rápido que os centrais madeirenses, rematou para o fundo da baliza. Estava desbloqueado o marcador.

Vidigal meteu de uma assentada Milson e Rodrigo Pinho para tentar mudar o rumo do jogo. O Marítimo subiu no terreno e procurou chegar a baliza açoriana. Várias bolas bombardeadas, sem grande objetividade, colocaram a defesa açoriana em sentido.

Aos 66, após um canto, o Marítimo esteve perto do golo após uma cabeçada forte de Jean Cléber. Valeu uma grande defesa de Marco, que assegurou a vantagem para a sua equipa. Nesta altura, quando o Marítimo carregava, Lito Vidigal foi expulso, devido a protestos após o guarda-redes do Santa Clara ter recebido assistência medica no relvado.

Numa altura em que o Marítimo procurava subir no terreno, foi o Santa Clara a marcar. Novamente Thiago Santana aos 71 minutos. O homem-golo dos açorianos aproveitou um cruzamento de Carlos Júnior para voar entre os centrais e cabecear para os fundos das redes.

Aos 76, Carlos Júnior teve nos pés a oportunidade de selar definitivamente a vitória açoriana, mas foi perdulário. Totalmente isolado, após um brinde da defesa do Marítimo, permitiu a defesa do guardião madeirense.

Até final do encontro, o Marítimo procurou atacar, mas o Santa Clara manteve a organização defensiva e procurou manter, sempre que podia, a posse de bola, esperando pelo apito final de Manuel Mota.