Se há condição que devia trazer vantagens, em bombas de gasolina, nas pousadas da juventude, nas salas de cinema, enfim, qualquer coisa, então devia ser a condição de adepto do Sporting.
 
Não é fácil ser adepto leonino. Sejamos francos: não é.
 
Há sempre qualquer coisa, qualquer imponderável, que torna as coisas mais difíceis do que é suposto elas serem. Mais sofridas do que se imagina que seriam.
 
O adepto do Sporting não nasceu para sofrer, mas se não se habituou ainda, é melhor que se habitue. Vai sofrer. Parece que é uma imposição inerente à qualidade de adepto leonino.
 
Agora, por exemplo, surgiu um problema chamado Alvalade. O lar tornou-se um doce inferno, onde a equipa acumula minutos de padecimento e dor.

Confira a ficha de jogo
 
Depois do empate com o P. Ferreira, a formação leonina sofreu tanto, mas tanto, tanto, tanto, que deve ter havido solteiras de cinquenta anos a ter pena dos adeptos leoninos. O que nos permite chegar a esta conclusão singular: foi mais fácil conseguir três vitórias em três jogos fora de casa, do que uma vitória em dois jogos em Alvalade.
 
Sintomático, não é?
 
Mas há mais. Há mais porque, por exemplo, o Sporting não tirou o pé do acelerador por um minuto. Desde o apito inicial que partiu para cima da baliza adversária, incessantemente à procura do golo.
 
Então o que correu mal, meu Deus? Basicamente tudo. Houve passes mal feitos, cruzamentos mal tirados e muito desperdício na zona de finalização. Slimani foi nesse sentido um caso óbvio, mas não foi o único. Gelson Martins tem também muito por onde crescer em frente da baliza.


 
O Sporting teve sempre coração, e disso ninguém pode acusar a equipa de nada, mas faltou-lhe o resto: faltou-lhe cabeça e faltou-lhe alma.
 
Faltou-lhe não querer fazer apenas as coisas: fazê-las mesmo. Acrescentar qualidade à vontade, agitar tudo e servir uma enxurrada de futebol.
 
Os princípios estão lá. Saídas através de bolas mais ou menos longas, nos avançados, com apoio dos médios, crescimento em toda a largura do relvado, procura de espaços interiores pelos extremos a abrir espaço para as subidas dos laterais. Os princípios estão lá e são bons, mas falta o resto.
 
Falta criatividade, ligeireza, agilidade. Mais imaginação e menos repetição.
 
Valeu no final o suspeito do costume. Fredy Montero.

Montero derrubou a muralha: veja os destaques do jogo
 
O colombiano tem um jeito especial para mexer com os jogos. Já o tinha feito, recorde-se, na final da Taça de Portugal, mas já o tinha feito também pouco antes, ainda em maio, quando frente a este mesmo Nacional saiu do banco para fazer os dois golos da vitória.
 
Manuel Machado não deve ir muito com a cara dele, portanto. Mas esse não é um problema nosso. É um problema do Nacional, que até se fechou bem e contou com um Rui Silva inspirado na baliza. Durante muito tempo foi suficiente para enervar Alvalade.
 
No final deixou de o ser, e ainda bem. O resultado é muito mais justo assim.
 
É verdade que o Sporting jogou uma hora com mais um jogador, depois de uma expulsão exagerada de Sequeira, e por isso esperava-se mais. Mas também é verdade que os leões se podem queixar de dois penáltis por marcar e de mais uma mão cheia de oportunidades de golo não concretizadas.
 
Por isso ganhou bem, sim senhor, e regressou à liderança da Liga, em igualdade com o FC Porto. O que acaba por ser um conforto justo para tanto sofrimento no regresso a estar lar, doce inferno.