Dois golos nos sete minutos iniciais pareciam encaminhar o Sporting para uma vitória tranquila. Os prognósticos mais otimistas, quando se fala desta equipa de Marco Silva, são no entanto como as notícias da morte de Mark Twain: manifestamente exagerados.
 
Foi preciso esperar, portanto, quase hora e meia até respirar de alívio.
 
Hora e meia de um jogo em que o Sporting foi capaz de fazer tudo: até caridade.
 
Num assomo de compaixão e benevolência, a equipa leonina deu a mão ao Penafiel, arrancou o último classificado da Liga do buraco em que o tinha metido e relançou a incerteza no encontro.

Começou por fazê-lo logo aos dez minutos, quando Slimani teve um passe disparatado no meio campo defensivo que isolou Guedes em direção à baliza de Rui Patrício. Tobias foi inexperiente, teve pressa em corrigir o erro do companheiro e fez uma falta penalizada com a expulsão.


 
Como se o erro anterior não fosse suficiente, Slimani ainda saltou na barreira, permitiu que a bola rematada por Braga passasse por debaixo dele até entrar na baliza e com isso relançou o jogo em todo o seu esplendor.
 
O Sporting continuava na frente, é verdade que sim, devido àqueles dois golos madrugadores, mas estava reduzido a dez, deixara que o adversário encolhesse a diferença e fazia o Penafiel acreditar.
 
Ora o Penafiel acreditou tanto que chegou ao empate, em cima do intervalo: outra vez um erro, outra vez uma oferta de caridade. Desta vez foi Paulo Oliveira - até ele, que quase nunca erra... - que falhou um corte que deixou Vítor Bruno na cara do golo: o extremo rematou para o empate.

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Nessa altura todos os receios voltaram a Alvalade e deixaram os jogadores com pele de galinha.
 
O Sporting tinha sido melhor entre a primeiro e o segundo golo do Penafiel, mesmo com menos um jogador continuou a mandar no jogo e a criar boas ocasiões para marcar. Adrien, por exemplo, falhou por um metro o desvio de calcanhar no fim de uma jogada encantadora de tão bela.
 
O mesmo Adrien e Slimani, este por duas vezes, tinham tido outras boas ocasiões para marcar.
 
Tudo isso era verdade, sim senhor, mas pertencia a um outro tempo: um tempo em que o Sporting ainda estava na frente do marcador. Agora estava empatado, reduzido a dez e muito nervoso.
 
Marco Silva, é bom dizê-lo, também não saiu incólume desta revolução no marcador: hesitou demasiado em lançar Ewerton, foi mantendo William Carvalho numa posição de central e com isso desprotegeu o espaço à frente dos centrais. Adrien nunca foi um trinco na verdadeira aceção da palavra e o Penafiel encontrou tantas vezes aquele espaço solto que acabou por marcar por ali.


 
A prova de que até ele compreendeu que errou está no facto de ter feito entrar Ewerton no regresso dos balneários.
 
Ora com William Carvalho de volta ao meio campo, o Sporting foi recuperando aos poucos a confiança. Mas fê-lo sem nunca ser arrebatador: foi apenas suficiente.
 
Foi insistindo, e insistindo, insistiu num livre de Nani e num remate do mesmo Nani de fora da área, insistiu num remate de Carrillo e num cruzamento à procura de Slimani. Insistiu tanto que Carrillo encontrou Nani na área e cruzou para o cabeceamento do internacional português. Um cruzamento cheio de força e de cólera. Um cabeceamento para a vitória.

William, o bombeiro de serviço: veja os destaques do jogo
 
Faltavam vinte minutos para o fim e o Sporting voltava a respirar melhor. Ora respirando melhor, já se sabe, esta equipa ganhas asas: por isso ficou a dever a si própria um resultado mais robusto.
 
Não o conseguiu, mas ganhou e ganhou bem: até ao fim o Penafiel ainda teve duas expulsões, de resto. Venceu o segundo jogo nos últimos oito e aumentou a distância para o Sp. Braga para quatro pontos. Mas não pode passar despercebida a vertigem que esta equipa de Marco Silva tem pela emoção: parece que tem aversão às vitórias tranquilas, simples e lineares. Tem de ser sempre uma vitória sofrida.
 
Esta noite, lá está, foi capaz de fazer tudo: de marcar e de errar, de ser fantástico e medíocre, de estar nervoso e determinado. Foi capaz de fazer tanto que fez até caridade.