Pedreira no caminho? Há que ultrapassar um antigo aliado para dar mais um passo no longo caminho até os Aliados. Bem podia ser este o lema do FC Porto para a deslocação a Braga, sábado (20h30), naquele que é o jogo grande da 29.ª Jornada da Liga.

Vencer é fundamental para os portistas na corrida pelo título, sobretudo considerando que o rival e líder Benfica está em vésperas da deslocação a Alvalade. Isto na perspetiva dos azuis e brancos, claro está, já que o jogo é também importante para os arsenalistas, que disputam o quarto lugar com o vizinho e também rival Vitória de Guimarães.

Nesta semana de duelo entre «guerreiros» e «dragões», houve polémica com a cedência de bilhetes e António Salvador apresentou a sua recandidatura à presidência do clube que lidera há 14 anos – disputará as eleições de 27 de maio com António Peixoto, conhecido por Pli, ex-guarda-redes de futsal do clube.

Neste contexto, fazemos o balanço de trocas de jogadores e transferências entre os dois clubes ao longo da era Salvador, para concluir que FC Porto e Sp. Braga já não têm uma relação tão profícua como outrora.

19 para Braga, cinco para o Porto

Quando António Salvador chegou à presidência, em março de 2003, teve nos azuis e brancos um dos seus principais aliados na estratégia de crescimento do clube.

Até 2012/13, 17 jogadores rumaram do Dragão até à Pedreira, quase todos em final de contrato ou por empréstimo – a única exceção foi o médio uruguaio Luís Aguiar. Na última meia década, apenas dois fizeram esse percurso: Sami (2014/15) e Josué (2015/16), ambos por empréstimo.

Em sentido contrário, quatro jogadores saíram de Braga para vestirem de azul e branco até 2010/11 e daí em diante apenas Willy Boly, precisamente no início desta época, trocou Braga pelo Porto numa transferência de 6,5 milhões de euros.

Não é um contrassenso que o negócio mais caro de sempre entre os dois clubes se tenha realizado num período de esfriamento de relações, já que há que considerar que o defesa-central francês foi uma solução de última hora no defeso, depois de os portistas não terem conseguido garantir o empréstimo de Mangala (desviado para Valência).

A verdade é que na primeira década da era Salvador, em Braga, o relacionamento foi profícuo para os minhotos. A «parceria» começou com a cedência do goleador brasileiro Pena em 2003/04, prosseguiu com outros valores do futebol português que saíram por empréstimo ou a custo zero (Cândido Costa, Hugo Leal, Bruno Gama), continuando com jogadores como Alan, capitão bracarense que ainda hoje faz parte do plantel. Ao todo foram 19 jogadores azuis e brancos para Braga.

Jogadores que seguiram do Sp. Braga para o FC Porto:

Época Jogador Negócio
2004/05 Bruno Gama 750 mil euros
2008/09 Andrés Madrid Empréstimo
2009/10 Orlando Sá 3 milhões de euros
2010/11 Kieszek Troca (Hélder Barbosa)
2016/17 Boly 6,5 milhões de euros

O trânsito de craques na A3 foi bem menos intenso em sentido contrário: o FC Porto investiu e praticamente não teve proveito do quarteto de jogadores que contratou antes de Boly: Bruno Gama, Andrés Madrid, Orlando Sá e Kieszek.

Jogadores que seguiram do FC Porto para o Sp. Braga:

Época Jogador Negócio
2003/04 Pena Empréstimo
2004/05 Paulo Santos Custo zero
2004/05 Cândido Costa Custo zero
2005/06 Hugo Leal Empréstimo
2006/07 Bruno Gama Empréstimo
2006/07 Maciel Empréstimo
2007/08 Jorginho Custo zero
2007/08 César Peixoto Custo zero
2008/09 Luis Aguiar 600 mil euros
2008/09 Alan Custo zero
2008/09 Rentería Empréstimo
2009/10 Diogo Valente Custo zero
2009/10 Adriano Custo zero
2010/11 Hélder Barbosa Troca (Kieszek)
2011/12 Miguel Lopes Empréstimo
2012/13 Beto Custo zero
2012/13 Emídio Rafael Custo zero
2014/15 Sami Empréstimo
2015/16 Josué Empréstimo

Recentemente, o Sp. Braga encontrou um parceiro bem mais regular no Benfica, com Jorge Mendes muitas vezes a fazer a ponte nos negócios entre os dois clubes, enquanto o FC Porto passou a estar mais próximo do Vitória de Guimarães, conforme o Maisfutebol já detalhou.

Diferendos da época: Rafa, Assis e bilhetes

Para lá do gradual afastamento na negociação de jogadores e da consequente aproximação aos rivais, FC Porto e Sp. Braga tiveram esta época outros momentos de dissonância.

Desde logo Rafa Silva, uma «novela» que durou praticamente todo o defeso. A cedência de Josué a meio da época anterior foi até entendida como uma forma de facilitar a contratação do extremo português pelos dragões, que esbarraram sempre na intransigência do Sp. Braga, que exigiu o pagamento dos 20 milhões da cláusula de rescisão. Rafa acabou por ser desviado pelo rival Benfica, no início da época.

Na reabertura de mercado, a disputa foi pela contratação do médio Assis ao Desp. Chaves, que preferiu rumar no imediato a Braga. Ainda assim, ambos os presidentes (e o próprio treinador do Sp. Braga Jorge Simão) comentaram publicamente o sucedido.

Esta semana, surgiu novo incómodo relacionado com a cedência de bilhetes para o jogo deste sábado: os portistas queriam encher um setor da Pedereira, mas receberam menos de metade dos 6 300 bilhetes pedidos – ainda assim, acima dos 1 500 que correspondem aos cinco por cento da lotação estipulados pelo regulamento. Além disso, o preço unitário para adeptos portistas será de 30 euros, um aumento de 50 por cento em relação à recente receção ao Benfica.

O assunto foi até referido pelo técnico Nuno Espírito Santo, na antevisão do jogo, nesta quinta-feira: «Para Braga, sabemos que foram solicitados 6300 bilhetes, não vão ser todos, serão 2500... O mais importante é o que nós temos sentido. Os adeptos transformam o espírito do dragão em qualquer cidade do país.»