José Mourinho voltou a colocar-se no centro de uma questão no futebol inglês com as declarações que fez depois do jogo desta terça-feira da Liga dos Campeões. O treinador português assumiu que poderá fazer alinhar frente ao Liverpool aquela que não será a mais forte equipa do Chelsea.

O jogo de domingo tem carácter de encontro decisivo na discussão do título de campeão inglês. Ora, o que Mourinho assumiu foram duas coisas: uma, que o Chelsea poderá abdicar dessa discussão; outra, que fazê-lo será benéfico para o Liverpool ganhar esta corrida onde também está o Manchester City.

O quadro é o seguinte: o Liverpool é o líder da «Premier League», com mais cinco pontos do que o Chelsea; e com mais seis pontos do que o Manchester City (que tem menos um jogo). Ora, apresentando uma equipa menos competitiva, o Chelsea pode abrir as portas para que o Liverpool ganhe facilmente o jogo (frente a um adversário que desistiu dessa competição) mantendo a vantagem confortável quando ficarem duas jornadas por disputar do campeonato.



A revelação de Mourinho foi feita após um jogo da «Champions» em que o Chelsea perdeu dois jogadores por lesão. Petr Cech já não joga até final da época. John Terry só regressará, nas palavras do próprio treinador, se o Chelsea «jogar a final» da Liga dos Campeões. Mas a decisão tem por base antecedentes que respeitam à «Premier League». Os «blues» estão entre mãos das meias-finais das competições europeias (terça-feira que passou e a próxima quarta) e o técnico português queria jogar com o Liverpool no sábado.

Após o empate (0-0) em Madrid com o Atlético, o treinador do Chelsea explicou em entrevista à «ITV» o quadro: «Temos um jogo importante para jogar na quarta-feira (…) que pode dar ao Chelsea mais uma final da Liga dos Campeões. Pedimos, pedimos e pedimos para jogar no sábado…», diz o português reforçando responsabilidades e também sobre a opinião que o City terá sobre as facilidades dadas ao Liverpool: «O Manchester City devia lutar para que o nosso jogo fosse disputado no sábado… E não [devia ser] o Man City, para ser justo… Porque são um clube como nós. Devia ter sido a Premier League! Não o fizeram… Não sei…»



Como é dito no vídeo, Mourinho só espera o «OK» dos responsáveis máximos do Chelsea. «Temos de pensar, de falar internamente (…) há decisões em relação ao jogo de domingo que não posso tomar sozinho e tenho de discuti-las com o clube», diz sem deixar de voltar a acusar a Liga Inglesa e o próprio Liverpool, que se «recusou a jogar no sábado». E apontou o caminho que está disposto a seguir: «Se o clube quiser ir com tudo na direção da Liga dos Campeões, estou preparado para isso.»

Isso significará apresentar em Liverpool uma equipa sem as melhores opções disponíveis, poupando os jogadores mais valiosos para a «Champions», três dias depois. «Acho que sim, acho que sim… Mas é algo que temos de falar internamente. Não é uma decisão que um treinador possa tomar sozinho. Eu sou apenas uma peça num grande clube e tenho de corresponder à decisão que tomarmos coletivamente», explicou.

Casos anteriores

A decisão, noutros tempos, poderia valer uma multa de dezenas de milhar de libras. Nos tempos de hoje… A ver vamos. [Por enquanto, ainda tem de recorrer sobre o que se passou no jogo com o Sunderland - como Rui Faria e Ramires.] Noutros tempos, jogar com equipas secundárias valeu multas pesadas. Que o diga Ian Holloway, enquanto treinador do Blackpool. A «Premier League» multou o técnico em 25 mil libras por ter mudado 10 jogadores no «onze» em relação ao jogo anterior.

A «Premier League» considerou que foram violadas duas normas dos regulamentos. A norma B.13 estipulava que «cada clube deve comportar-se para com os outros clubes e para com a Liga com a máxima boa fé». A norma E.20 estipula que «em todos os jogos da Liga cada clube participante deve alinhar uma equipa na forma máxima». Holloway foi multado já em janeiro da época 2010/11, temporada em que houve alteração dos regulamentos. E nem alegar as novas regras valeu ao então treinador do Blackpool. Apesar de ter estado em cima da mesa da renovação, a norma E.20 foi mantida pelos clubes. Holloway foi apanhado no ano de transição.

As novas regras da «Premier League» passaram a estipular quotas de utilização de jogadores jovens e formados no Reino Unido: cada clube deverá ter um plantel até 25 jogadores dos quais, pelo menos, oito que já tenham estado inscritos em clubes ingleses ou galeses durante três épocas (ou 36 meses) até completarem 21 anos. Além disso, os clubes podem reforçar o plantel com qualquer jogador de idade até 21 anos, em número ilimitado - o que compõe a equipa sub-21 (ou B).

Um «onze» possível

José Mourinho tem agora à sua disposição aproveitar os regulamentos da «Premier League» ao máximo. Comecemos por recapitular o plantel «principal» do Chelsea: Petr Cech, Ivanovic, Ashley Cole, David Luiz, Ramires, Lampard, Torres, Óscar, Obi Mikel, Schürrle, Mohamed Salah, Marco van Ginkel, Hazard, Demba Ba, Matic, Willian, Schwarzer, Cahill, Terry, Nathan Aké, Azpilicueta, Etoo, Tomas Kalas, Jamal Blackman e Hilário. Cá estão os 25. Além destes, Mourinho tem à sua disposição mais 17 jogadores da equipa sub-21.

Recapitulamos agora os jogadores indisponíveis para a segunda mão das meias-finais da Liga dos Campeões: já certos são Cech e Terry (lesionados) e Lampard e Mikel (castigados). Os problemas físicos de Etoo e Hazard também não deixaram que o camaronês e o belga fossem opção para esta primeira mão. Dos que jogaram na terça e podem jogar na quarta-feira excluem-se - porque são
os mais fortes - Ashley Cole, David Luiz, Ramires [que até deverá estar castigado na liga inglesa], Torres, Schwarzer, Cahill, Azpilicueta, Ba e Schürrle. Quanto a Ivanovic, Mourinho também já disse que conta com o croata para a «Champions».

Dos que não jogaram na terça-feira, sobram então do plantel principal Óscar, Salah, Van Ginkel, Matic, Aké, Kalas e os guarda-redes Blackman e Hilário. Juntando os castigados para a Liga dos Campeões Lampard e Mikel ficam nove jogadores. É preciso ir buscar um defesa e um avançado ao plantel sub-21 para fazer um «onze»: escolhemos o defesa Andreas Christensen e o avançado Alex Kiwomya. Assim se explica o «onze» – levado por nós também ao máximo – na galeria que precede este texto.