O dia 17 do Mundial-2014 em cinco pontos:

1.
Avé, Júlio César! O guarda-redes do escrete salvou o Brasil de uma humilhação que entraria para a História, caso o organizador deste Mundial caísse nos oitavos perante o Chile. Mas isso não ficou muito longe de acontecer: Pinilla, ex-sportinguista, atirou ao ferro no minuto 120, seria o 1-2, não havia tempo de reação que valesse o escrete. O Brasil voltou a acusar problemas, a equipa jogou com linhas muito afastadas na segunda parte, o jogo não fluía. Neymar só apareceu a espaços, não foi brilhante, valeu a concentração máxima no penálti decisivo. O 1-0 cedo parecia anunciar tarda relativamente tranquila. Nada disso. O Chile reagiu bem, mostrou coração de gigante, Sampaoli mexeu bem na equipa. Uma falha inacreditável de Marcelo e Hulk levou a que um lançamento lateral para o Brasil terminasse em… golo do Chile! 1-1, eliminatória relançada. O Brasil ressentiu-se, foi-se abaixo, jogou pior. Mas no prolongamento foi o Chile a rebentar, o 2-1 esteve perto, na cabeça de Neymar. Penáltis? Sim, mas antes Pinilla, à trave, quase entrou para a História.

2. Júlio César lavado em lágrimas, na flash, momentos depois da suadíssima eliminação do Chile, é um dos grandes momentos deste grande Mundial. A tensão máxima que se sentia nas faces e expressões dos jogadores do Brasil era impressionante. O peso da responsabilidade que recai nos ombros dos futebolistas do escrete é tremendo. Ninguém queria ficar com o estigma de ser o «Barbosa de 2014». Estará o escrete a acusar em demasia a pressão? Isso sentiu-se na primeira meia hora do jogo de abertura, com a Croácia, e voltou a sentir-se na segunda parte deste emocionante encontro com o Chile. Mas isso não esconde o essencial: este Brasil não convence, não destila magia, está «Neymardependente» em doses pouco recomendáveis. E hoje, ainda por cima, com um Oscar apagadíssimo e um Hulk a querer fazer a diferença (golo anulado em lance em que terá dominado com o braço), mas desconcentrado em momentos fulcrais (oferta incrível no 1-1 e penálti falhado). O Brasil teve sorte, claro que teve, mas nunca é de descurar a força especial de Scolari nestes «mata-mata». Os deuses estiveram com o escrete. Com a extraordinária Colômbia de James e Jackson e companhia, vai ser preciso bem mais do que a proteção da Nossa Senhora de Caravaggio.

3. James, tanto talento! Um orgulho para a Liga portuguesa, e em especial para o FC Porto claro, ter contado em fase tão precoce com um dos melhores jogadores deste Mundial (talvez o melhor, até). «El Bandido», 22 anos apenas, assinou um golo soberbo, momento sublime, talvez o mais belo do torneio (a par do voo de Van Persie no Espanha-Holanda). O 1-0 é para ver, rever, guardar, divulgar. Um tento extraordinário. O 2-0 menos vistoso, mas coletivamente exemplar: lance da esquerda, Cuadrado (outra grande exibição!) de cabeça a assistir, James a faturar. Triunfo indiscutível da Colômbia, «cafeteros» a confirmarem credenciais ofensivas tremendas, claramente uma das melhores seleções a atacar. Com a novidade de, perante o Uruguai, também terem defendido bem, confirmando com toda a justiça a primeira qualificação para os «quartos» da sua história. Uruguaios traumatizados com o «caso Suarez». Sem o seu pistoleiro, a celeste perdeu com a Costa Rica e foi eliminada pela Colômbia, com Suarez venceram Inglaterra e Itália. Mesmo assim, Uruguai só ficou em branco por força de um enorme Ospina, que tudo defendeu. Brasil-Colômbia a 4 de julho em Fortaleza? Entre Neymar e James, quem for melhor pode muito bem vir a ser o craque da Copa. Digo eu.

4. A acreditar nas declarações deste sábado de Snejder e Miguel Herrera, a Holanda assume-se como candidata ao título e o México pelo menos aos «quartos». Obviamente, alguém ficará frustrado. Depois daqueles fantásticos 1-5 à Espanha, as expetativas em relação à Holanda ficaram naturalmente altas. Mas talvez excessivamente altas. Os jogos com Austrália e Chile, embora tenham mostrado mais duas vitórias e sempre com uma laranja goleadora, revelaram também uma seleção de Van Gaal um pouco desequilibrada, sem conseguir dominar todos os momentos de um jogo. Em contraponto, o México foi das melhores equipas da primeira fase. Travou o Brasil, só não ganhou aos Camarões por mais porque o árbitro «apagou» dois tentos de Giovani dos Santos, e cilindrou uma Croácia que tinha fortes esperanças de passar. Ataque holandês «vs» organização mexicana? Mais ou menos isso, mas que o duelo promete, isso promete. Robben, um dos melhores elementos ofensivos deste Mundial, contra Ochoa, um dos melhores guarda-redes. Isso e muito mais, claro. Ainda por cima com Pedro Proença (candidato à final, agora que Portugal já não está lá?), a dirigir o duelo. Vou querer ver.

5. Mais à noite, o duelo mais improvável destes oitavos: Costa Rica-Grécia. Costa-riquenhos fantásticos a vencerem o «grupo da morte», com percurso que vai ficar para a história dos mundiais (sete pontos perante Uruguai, Itália e Inglaterra!!). Gregos menos talentosos, muito menos até, mas organizados e com uma resiliência especial para enfrentarem as (muitas) adversidades que já tiveram neste Mundial. Costa Rica passou a ser ligeira favorita, depois do que fez na fase de grupos, mas a maior experiência da Grécia de Fernando Santos talvez venha a ser premiada. Talvez.

«Do lado de cá»
é um espaço de opinião da autoria de Germano Almeida, jornalista do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo, sempre às 23.30h. Germano Almeida é também responsável pelas crónicas «Nem de propósito» e pela rubrica «Mundo Brasil», publicadas na MFTotal. Pode segui-lo no Twitter ou no Facebook.