Enzo Fernández e Otamendi vão continuar a representar a Liga portuguesa no Mundial e estarão no Qatar até ao último fim de semana da competição, mesmo que a Argentina não vença a meia-final com a Croácia. Ainda pode portanto haver «portugueses» campeões do mundo, mas a maioria dos restantes jogadores que saíram do campeonato nacional para o Mundial já estão de volta a casa. Entre os 19 futebolistas da Liga no Qatar há destaques evidentes, há jogadores que nem entraram em campo e há baixas por lesão entre as questões para os treinadores gerirem nos clubes com vista ao que resta da época.

O Benfica é o clube que voltará a contar mais tarde com a maioria dos internacionais. Não apenas Enzo e Otamendi, mas também os jogadores da seleção nacional, que voltaram neste domingo a casa depois da eliminação nos oitavos de final. Para já, no entanto, Roger Schmidt não tem problemas de lesões para gerir, ao contrário de Sérgio Conceição. Eustáquio lesionou-se ao segundo jogo pelo Canadá e Pepe sofreu uma fratura no braço no final do jogo com Marrocos.

No Sporting, que não teve jogadores na seleção nacional, levantaram-se outras questões, como admitiu Rúben Amorim, quando referiu que o facto de Ugarte não ter jogado qualquer minuto implica trabalho adicional na «reconstrução» do jogador.

Para um treinador, esse pode ser um problema maior do que receber um jogador com muito tempo de jogo nas pernas. Ainda que salientando a dificuldade adicional de gerir a utilização dos jogadores num Mundial que decorre a meio da época, Sérgio Conceição disse isso mesmo, no rescaldo do regresso dos primeiros internacionais ao Olival: «A competição não faz mal a ninguém, os jogos e os minutos fazem bem, a forma como se recupera hoje é muito melhor.»

Nessa altura, o treinador portista dizia ainda que os jogadores que já tinham voltado, à exceção de Eustáquio, estavam bem «física e animicamente». O estado anímico dos jogadores, em função do que foram as suas exibições e a campanha da sua seleção, é outra das questões a gerir pelos treinadores. Além da questão do mercado, em cima da reabertura da janela de transferências, para jogadores que saíram valorizados do Mundial.

Na reta final de um Mundial que teve ainda dois representantes do Sp. Braga, além do flaviense Steven Vitória, o Maisfutebol olha para a prestação dos 19 jogadores da Liga no Qatar.

Benfica: Ramos e Enzo revelam-se no palco mundial

Gonçalo Ramos é óbvio destaque entre os seis jogadores do Benfica que estiveram no Qatar. Depois de alguns minutos em campo frente a Uruguai e Gana, o avançado fez manchetes por todo o mundo com o hat-trick na vitória sobre a Suíça nos oitavos de final, no jogo em que «tomou» o lugar de Cristiano Ronaldo. Voltaria a ser titular na despedida, frente a Marrocos, aí bem menos influente, mas é obviamente um dos jogadores portugueses que melhor aproveitou o palco mundial.

Mas as águias têm em Enzo Fernández outro dos destaques da competição. O médio, que ainda tem vivo o sonho do título mundial, está a confirmar no Qatar o seu potencial e, tal como Ramos, sairá do Mundial com a cotação em alta. Foi até aqui utilizado em todos os cinco jogos da Argentina. Começou no banco nas duas primeiras partidas, marcou o golo que selou a vitória sobre o México e a partir daí ganhou a titularidade. Jogou de início frente a Polónia, Austrália, quando teve a infelicidade de marcar um autogolo que não invalidou o apuramento, e por fim Países Baixos. Jogou os 120 minutos dos quartos de final e rematou ao lado no desempate por penáltis, mas acabou a fazer a festa com os companheiros.  

Depois há Otamendi, de todos os jogadores da Liga que estiveram no Mundial aquele que soma mais minutos. E ainda pode fazer mais dois jogos. O central é nesta altura totalista na Argentina, a par de Lionel Messi e do guarda-redes Emiliano Martínez.

Mais discreta foi a passagem pelo Qatar dos outros jogadores das águias. Na seleção nacional, António Silva jogou frente à Coreia do Sul na última jornada da fase de grupos, quando o apuramento já estava garantido, tal como João Mário. Depois não voltaram a ser utilizados por Fernando Santos. Antes disso, João Mário tinha entrado nos minutos finais do jogo de estreia com o Gana.

Quanto a Alexandre Bah, somou apenas 46 minutos a sair do banco em dois dos jogos da campanha da Dinamarca, eliminada na primeira fase. Tem o regresso à Luz previsto para o início desta semana, enquanto os três internacionais portugueses ainda terão alguns dias de descanso.

FC Porto: o eterno Pepe e duas lesões na ressaca do Qatar

Aos 39 anos, Pepe foi mais uma vez referência da defesa da seleção nacional no Qatar. O central, que chegou ao Qatar com problemas físicos, falhou o primeiro jogo, mas a partir daí fez todos os minutos. Assumiu a braçadeira de capitão nos dois últimos jogos e ainda marcou um golo na vitória sobre a Suíça nos oitavos. Mas saiu lesionado, depois de ter estado muito perto de marcar nos minutos finais da derrota com Marrocos. O central português sofreu uma fratura num osso do braço esquerdo, aguardando-se ainda para perceber o que isso implicará em termos de recuperação.

Não foi a única baixa portista no regresso do Qatar. Stephen Eustáquio lesionou-se no decorrer do segundo jogo do Canadá e para ele o Mundial acabou aí. O médio tem uma lesão muscular na coxa que implicará, segundo Sérgio Conceição, a sua ausência «nas próximas semanas». «É o problema de diferentes formas de trabalhar e competições diferentes», lamentou o treinador: «O clube apaga por pagar.»

Dos seis jogadores portistas no Qatar, Diogo Costa foi o mais utilizado. O guarda-redes assumiu a titularidade desde o primeiro dia e foi o único totalista de Portugal no Mundial, mas acabou a sofrer o golo que eliminou a seleção. No regresso a Portugal, foi acarinhado pelos adeptos que receberam a comitiva.

Otávio, o terceiro jogador do FC Porto a representar Portugal no Qatar, foi titular em três jogos, com Gana e Uruguai e depois na despedida, frente a Marrocos. Somou cerca de 200 minutos no total.

Quanto aos estrangeiros, Taremi saiu de prova com o Irão logo na primeira fase, mas apesar da desilusão foi uma das referências da sua seleção. Jogou os 270 minutos da equipa no Mundial, bisou na derrota frente à Inglaterra, na segunda ronda e acabou como protagonista de um lance nos minutos finais do decisivo jogo com os Estados Unidos em que ficou a pedir penálti.

O avançado regressou ao Porto após alguns dias de descanso e já foi opção na partida da Taça da Liga com o Rio Ave na quinta-feira passada, saindo do banco. Titular nesse jogo foi Grujic, que estava «mais fresco», como disse Conceição. O médio foi o menos utilizado dos jogadores portistas no Mundial, com apenas 12 minutos em campo pela Sérvia.

Sporting: do «adulto» Morita à «preocupação» Ugarte

Entre os jogadores do Sporting, Morita foi quem ficou até mais tarde e quem teve mais tempo de jogo no Qatar. No extremo oposto esteve Ugarte, que não jogou qualquer minuto pelo Uruguai, o que colocou um problema adicional a Rúben Amorim.

Morita chegou ao Mundial com limitações físicas e ficou de fora do primeiro jogo do Japão, mas a partir daí foi titular nas três partidas seguinte. Nos oitavos de final, frente à Croácia, saiu antes do desempate por penáltis. Rúben Amorim elogiou a prestação do médio japonês, que regressou neste sábado a Alcochete: «O Morita esteve dentro do jogo dele numa equipa que joga mais baixa e que vive de transições. Isso não ajuda às características dele. Notei-o muito adulto, ele cresceu muito nestes meses.»

Coates também não foi opção na primeira partida do Uruguai, mas depois jogou os dois últimos encontros, frente a Portugal e Gana. Também já voltou à academia, tal como o jovem Fatawu, que não passou em claro na sua estreia no Mundial, ainda que só tenha entrado para jogar os descontos da partida final do Gana.

Ugarte foi o primeiro mundialista a voltar, uma decisão que Amorim justificou com a necessidade de o jogador recuperar ritmo e «ter minutos». «O Ugarte é uma preocupação. As seleções transmitem-nos os dados. É impossível as seleções treinarem, têm de estar prontas para os jogos. Nota-se uma quebra alta de intensidade. Vamos ter de voltar a construir o Ugarte», disse o treinador. O médio já foi opção na vitória do Sporting sobre o Rio Ave para a Taça da Liga, jogando os últimos 20 minutos.

Um Mundial com golo para Horta e o totalista Steven Vitória

O Sp. Braga teve dois jogadores no Qatar, mas Racic não foi utilizado na campanha da Sérvia, que ficou pela primeira fase. Ricardo Horta, em contrapartida, aproveitou a oportunidade. Titular ao terceiro jogo, quando Portugal já tinha o apuramento garantido e Fernando Santos procedeu a várias alterações, assinalou a estreia no Mundial com um golo logo aos cinco minutos, que não impediu no entanto a derrota frente à Coreia do Sul. Depois saiu do banco frente à Suíça e a Marrocos, quando entrou para o corredor direito nos minutos finais de pressão de Portugal. Fez 117 minutos no total.

E depois houve Steven Vitória. No Mundial em que teve pela primeira vez um representante, o Desp. Chaves viu o veterano central jogar todos os minutos da campanha do Canadá, que deixou o Mundial no final da primeira fase, com três derrotas. Vitória já voltou à equipa e jogou 90 minutos frente ao FC Porto, na quinta-feira passada.