Ainda não passaram 1001 noites e Vítor Pereira já tem histórias intermináveis para contar sobre o Al Ahli e a Arábia. Em entrevista ao Maisfutebol, o ex-treinador do FC Porto aproveita a paragem da liga saudita para abordar o «tremendo desafio desportivo» encontrado e as experiências «ricas e muitas vezes surreais» do ponto de vista pessoal.

Primeiro, os números: o Al Ahli é terceiro no campeonato e Vítor Pereira continua sem perder um único jogo. A grande diferença para os dois primeiros, explica o técnico português de 45 anos, tem residido no rendimento/disponibilidade dos jogadores estrangeiros.

Cada equipa só pode utilizar quatro, um deles obrigatoriamente asiático, e nesse capítulo a sorte não tem acompanhado o homem responsável pelos dois últimos títulos nacionais ao FC Porto.

«O Suk (ex-Marítimo) fraturou um dedo e tem estado de fora; o Victor Simões esteve seis meses parado; o Bruno César alterna entre o relvado e as lesões; o Mossoró é o único que joga regularmente», refere Vítor Pereira.

«A minha defesa e meio-campo é constituída essencialmente por jogadores árabes. Os quatro estrangeiros são atletas ofensivos e, sem eles, no ataque têm estado atletas muito jovens», acrescenta o treinador, antes de mais um dado.

«Não sou muito de me lamentar da sorte, mas no nosso último jogo falhámos 12 flagrantes ocasiões de golo. Foi incrível. Isso também reflete o nível técnico. A equipa tem evoluído, ainda assim, e é pena o campeonato parar sistematicamente por causa das seleções».

«Temos feito uma reestruturação total no clube»

A mudança para o Golfo Pérsico envolveu um significativo número de alterações na vida de Vítor Pereira. Familiar, social e profissionalmente, o técnico foi forçado a adaptar-se a uma realidade radicalmente oposta. Mas tem valido a pena estar em Jeddah, assegura

«O projeto desportivo é ambicioso, sinto-me bem, mas um dia vou regressar à Europa e a uma grande liga. Eu e a minha equipa técnica temos feito uma reestruturação total no clube, o trabalho é árduo e, naturalmente, às vezes desesperamos um pouco. O desafio é duro, aliciante e o clube é cumpridor no aspeto financeiro», sublinha Vítor Pereira.

No segmento meramente desportivo, o treinador fala de um campeonato com «um nível menos alto do que o português», embora «competitivo e com várias equipas a lutarem pelo título».

«Fiz muitas mudanças no clube, tive de perceber esta mentalidade e impor um tipo de jogo que é novo para eles. Moldei o treino às minhas ideias, impus a minha matriz e estamos muito melhores. O Al Ahli pode chegar ao título», esclarece o técnico português.

«Dizem-me que o Al Ahli nunca jogara em futebol apoiado e a fazer pressão constante, como faz agora. As outras equipas optam quase sempre por um bloco baixo e passes longos. Nós já temos a nossa matriz de posse e circulação».

Duas mil braçadeiras vendidas por culpa de Vítor Pereira

Uma rápida consulta à página oficial de Vítor Pereira permite confirmar a «empatia extraordinária» entre o técnico e os adeptos árabes. É essa «onda de respeito e carinho» a responsável pelo atenuar de dúvidas nos momentos mais difíceis.

«É um povo extraordinário, vivem tudo isto com o coração. São tão apaixonados que às vezes até fico chateado, porque as coisas passam a ter um ambiente familiar e não um ambiente profissional. Vale a pena porque eles são fantásticos comigo».

Um exemplo perfeito da idolatria em redor da figura de Vítor Pereira é o caso da braçadeira. Na Arábia, os treinadores não costumam levar a braçadeira no braço durante os jogos.

O português terá sido o primeiro a fazê-lo. Resultado: o Al Ahli passou a vender braçadeiras e numa semana esfumaram-se dois mil exemplares. A partir daí, o ex-técnico do FC Porto passou a ser O Capitão.

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