No ilustre panteão do futebol grego, o apelido Santos já não é um estranho. A sonoridade lusa intromete-se entre as estátuas de Anatopoulos, Mavros, Manolas, Saravakos e Papaioannou, sem esquecer jamais o alemão responsável pelo título no Euro2004: Rehaggel.

Santos, o português Fernando Santos, chegou ao patamar consagrado aos mais ilustres benfeitores helénicos. Em 12 anos tornou-se unânime, conquistou o respeito de todos. Do mais fundamentalista adepto do Panathinaikos ao mais doente dos fiéis do Olympiakos.

Desde 2010 ao leme da seleção grega, Fernando Santos teve a rara capacidade de fazer esquecer o antecessor amado e projetar uma ambição renovada para todas as grandes provas. No Euro2012 esteve nos quartos-de-final, onde caiu apenas perante a Alemanha, por 4-2.

Para a qualificação do Mundial2014, a Grécia manteve a espinha dorsal e está a um passo de garantir a presença imediata. Para isso tem de derrotar o simpático Liechtenstein e torcer pelo empate ou derrota da Bósnia na Lituânia.

Se os bósnios, crónicos oponentes de Portugal, não cederem, Fernando Santos tem pelo menos garantido o estatuto de cabeça-de-série no play-off.

«Não falar sobre arbitragens foi decisivo»

A relação entre a Grécia e Fernando Santos arrancou em 2001. Falhado o título no FC Porto, o engenheiro do penta rumou ao AEK Atenas. Ganhou na primeira época a Taça (curiosamente, o seu único grande título neste país) e começou a convencer os desconfiados gregos.

Daí para cá, Santos passou por Panathinaikos, novamente pelo AEK e PAOK Salónica. Em todos estes projetos, Jorge Rosário foi o braço direito. Separaram-se em 2010, mas a amizade entre ambos está mais sólida do que nunca.

«Há dois aspetos fundamentais na relação entre o Fernando e o adepto comum na Grécia: primeiro, a opção de nunca falar sobre arbitragem; segundo, os bons resultados obtidos em clubes normalmente mergulhados em circunstâncias complicadas», explica Rosário, 17 épocas adjunto do atual selecionador grego.

Numa liga efervescente como a grega, não falar sobre arbitragens é tão estranho como evitar olhar para o filme numa sala de cinema. Santos resistiu ao óbvio, mostrou ser diferente.

«A isso juntou aquela imagem dele, muito própria. Parece andar chateado com todos e é, no fundo, um coração de ouro. O Fernando é um alfacinha típico, amante de uma boa anedota, de uma noite nos fados, de alguma paródia. E é um homem de família», conta Jorge Rosário.

«Ele é como um professor, culto e educado»

Kostas Katsouranis, internacional grego e ex-jogador do Benfica, fala em português e inglês ao Maisfutebol. Na véspera de «um dia muito importante» para a seleção da Grécia, Katsouranis explica de que forma os gregos olham para Fernando Santos.

«Ele inspira confiança e respeito. Está há muitos anos no país e ninguém tem nada a apontar-lhe. É como se fosse um professor exemplar, culto e educado», diz Katsouranis, um dos mais internacionais de sempre.

Foi Fernando Santos, de resto, o responsável pela sua vinda para o Benfica. Conheceram-se no AEK, trabalharam na Luz e na seleção. «Só ele conseguiu fazer-me jogar fora da Grécia (n.d.r. risos). Agradeço-lhe os três anos mais espantosos da minha carreira».

Para Katsouranis, um dos homens de confiança do português, a qualificação direta, a surgir, será «justíssima».

«O povo precisa do futebol e do Mundial para atenuar as dores da crise. Eles colocam uma grande responsabilidade em cima do Fernando Santos porque sabem com o que podem contar», advoga o antigo atleta do Benfica.

Seja por qualificação direta ou em dois jogos-extra, na Grécia ninguém duvida da presença no Brasil. Um português de apelido vulgar é o responsável por esta crença quase cega.

Como se fosse um deus, de torso musculado e origem helénica.

Fernando Santos nos clubes gregos:

. AEK Atenas: 2001/02 (2º lugar+Taça da Grécia)
. Panathinaikos: 2002/03 (2º lugar)
. AEK Atenas: 2004/06 (3º e 2º lugares)
. PAOK: 2007/10 (9º, 2º e 3º lugares)

Fernando Santos na seleção da Grécia:

. Seleção Nacional: 2010/... (4ºs de final Euro-2012)
. 37 jogos: 21 vitórias, 12 empates e quatro derrotas

LEIA AQUI TODA A REPORTAGEM SOBRE FERNANDO SANTOS