O único quadro de El Greco existente em Portugal vai estar exposto ao público, a partir da próxima semana, com a reabertura da capela da Rainha Maria Pia, no Palácio da Ajuda, em Lisboa, encerrada desde 1910.

O óleo, do primeiro quartel do século XVII, a «Santa face de Cristo», de El Greco, passa a fazer parte do programa museológico da capela, que abre ao público na próxima terça-feira, 103 anos depois de ter sido encerrada, após a proclamação da República, em outubro de 1910, e a saída da família real para Gibraltar.

A «Santa Face» foi adquirida pelo rei D. Luís, marido de D. Maria Pia, fazia parte da sua coleção de pintura e «é o único exemplar daquele pintor em Portugal», disse à Lusa o diretor do Palácio da Ajuda, José Alberto Ribeiro.

O projeto da capela, explicou José Alberto Ribeiro, visou «restaurar o espaço que é muito bonito, e mostrar nele algumas peças de referência da coleção do palácio, como pinturas importantes de mestres italianos dos séculos XVII e XVIII, escultura e alfaias religiosas» em prata.

Trata-se de «uma capela construída quase toda em madeira, num programa decorativo feito pelo arquiteto Manuel Ventura Terra, em finais do século XIX, com o pintor Veloso Salgado, autor da pintura de Nossa Senhora com o Menino, que é o orago».

Esta capela «é uma caixa em madeira de carvalho criada dentro de uma sala já existente no palácio, no piso térreo, à direita da entrada para o vestíbulo, na ala sul, e inclui alguns objetos criados pelo arquiteto, como as ferragens das portas e o sacrário, numa linha neomedieval e «arts & craft» de final do século [XIX], que é das últimas novidades e tendências estéticas aqui do palácio».

Isto revela, referiu o responsável à Lusa, o gosto da Rainha que era «muito atualizada» no tocante às correntes estéticas.

O espaço religioso mostra alguns santos da devoção da rainha Maria Pia, nomeadamente Santa Rita de Cássia, S. Francisco Xavier, S. Carlos Borromeo e a Virgem de Paris, ligada à «imagem milagrosa», e ainda o seu missal, em madrepérola, disse José Alberto Ribeiro.

«O corpo da capela, propriamente dita, seguiu as indicações documentais de 1910, a partir dos arrolamentos judiciais [da República] do que estava em cada divisão do palácio real e é muito fiel ao que seria no final da monarquia», disse o responsável.

«A antecâmara e a sacristia, com algum mobiliário original, foram musealizadas de forma a mostrar algumas peças de cariz religioso das coleções do palácio», acrescentou.

A recuperação da capela orçou entre os 70.000 e os 80.000 euros, tendo sido «fundamental» o apoio mecenático da Fundação Millenium/bcp, revelou José Alberto Ribeiro à Lusa.

Para o responsável, a reabertura da capela privada da rainha Maria Pia corresponde «às muitas questões que levantavam os visitantes do palácio - a única residência régia visitável, em Lisboa -, que se interrogavam por não haver um espaço religioso, num palácio de reis católicos».

Reabrir a capela é, para José Alberto Ribeiro, «devolver ao olhar do público um espaço desconhecido e que, desde 1910, servia de reserva das mais variadas peças».

O Palácio da Ajuda, imaginado pelo rei D. João VI, no Brasil, foi a residência oficial dos reis portugueses, tendo ficado fortemente ligado a D. Luís e à sua mulher, que o redecorou e nele viveu até partir para o exílio, onde morreu, em 1911, em Turim, na sua corte natal.

Lusa