O governo francês proibiu nesta terça-feira os espetáculos «Le Mur» (O Muro) do controverso humorista Dieudonné M'bala M'bala, condenado várias vezes por antissemitismo, dois dias antes do início de sua digressão pelo país. O presidente francês François Hollande, o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault e o ministro do Interior Manuel Valls declararam guerra ao humorista de 47 anos por considerarem que atenta contra a dignidade das pessoas.

Nos seus espetáculos de «stand-up comedy»,  o filho de pai camaronês e mãe bretã, goza com humor agressivo os judeus e o Holocausto, ataca os Estados Unidos, os chineses e as mulheres em geral.

A popularidade de Dieudonné, particularmente em vários desportistas franceses que atuam no estrangeiro (como Nicolas Anelka ou Tony Parker), converteu-se numa dor de cabeça para Hollande e os seus ministros, que fazem tudo para não serem acusados atentarem contra a liberdade de expressão. O partido de extrema-direita Frente Nacional (FN) juntou-se à festa, com a presidente Marine Le Pen a condenar os excessos de Dieudonné, apesar das aproximações do humorista ao partido, prosseguindo a sua estratégia de conquista de votos tendo em vista as eleições municipais de março e as Europeias de maio.

Os entusiastas de Dieudonné gostam do seu «humor negro», que ultrapassa largamente o politicamente correto, mas não lhes agrada que se cole à estratégia da FN. O humorista já foi multado em mais de 90 mil euros, mas tem conseguido evitar o pagamento refugiando-se em subterfúgios jurídicos e fiscais, como atribuir a autoria dos textos à sua mãe.

A ministra da Cultura, Aurélie Filippetti, considera que Dieudonné deixou de ser um artista e tornou-se um militante «revisionista», que nega o Holocausto e faz a apologia da extrema-direita.

A responsabilidade dos desportistas



O nome de Dieudonné surge associado ao desporto através das amizades que cultivou com algumas figuras importantes, como os futebolistas Nicolas Anelka, Samir Nasri e Mamadou Sakho ou o basquetebolista Tony Parker. O primeiro chegou mesmo a utilizar uma saudação especial, a «La Quenelle», na comemoração de um golo pelo West Bromwich Albion. O problema é que esse gesto tem conotações racistas (as organizações judaicas interpretam-no como uma saudação nazi invertida) e se não foi assim interpretado em Inglaterra, levantou uma onda de polémica em França.

Não é a primeira vez que jogadores da Premier League assumem posições políticas. No final da década de 90 o jugoslova Sasa Curcic, então no Crystal Palave, protestou contra os bombardeamentos da NATO na ex-Jugoslávia; e pela mesma altura Robbie Fowler, no Liverpool, mostrou uma t-shirt de apoio aos estivadores.

Recentemente, o grego Giorgios Katidis foi suspenso por fazer uma saudação nazi depois de ter marcado um golo. A FIFA castigou o croata Josip Simunic com dez jogos de suspensão devido aos cânticos no final do jogo. Garantido o apuramento frente à Islândia, Simunic agarrou num microfone e foi cantar com os adeptos uma canção atribuída ao regime Ustasha, que foi pró-nazi durante a IIª Guerra Mundial.

Para já vão servindo as desculpas, mas os gestos políticos dos desportistas são cada vez menos inocentes.