Quatro oscilações difíceis de explicar, sobretudo agora que se aproximam as grandes decisões da época:


1. O FC Porto escorregou na Madeira pela terceira vez esta época

Duas delas seguidas, dois meses depois do insucesso nos Barreiros (com algum azar à mistura, é certo) para o campeonato.

Para uma equipa com o plantel da qualidade dos azuis e brancos, é de estranhar.

Julen Lopetegui justificou a opção de poupar mais de metade dos titulares com o «bom desempenho dos jogadores que atuaram noutros jogos da Taça da Liga, como em Braga» e mereciam, por isso, manter-se titulares na prova. Percebe-se a ideia, mas não terá sido risco demasiado, para quem tinha perdido o encontro nos Barreiros para a Liga? Ou será que a Taça da Liga não era mesmo prioridade no planeamento desta época portista?

A questão que se coloca é que o FC Porto, tendo já garantido um excelente desempenho na Champions (chegar aos quartos é muito bom), não tem muitas hipóteses de sonhar com o título europeu, sobretudo tendo o Bayern Munique como adversário já nesta eliminatória. Assim sendo, resta aos dragões sonhar em ultrapassar o Benfica no campeonato para festejarem, pelo menos, um título esta temporada. 

A goleada de 5-0, com boa exibição, ao Estoril voltou a provar que o FC Porto de Lopetegui tem qualidade suficiente para isso e muito mais. Desde que não oscile assim tanto. Irá a tempo?


2. O Benfica mantém a fortaleza da Luz, mas continua a tremer longe de casa. 

Muito forte nos jogos em casa, o Benfica ultrapassou Sp. Braga e Nacional (dois adversários complicados) com clareza e autoridade.

Mas fora é tudo diferente: a vitória em Arouca, mesmo tendo sido 1-3, foi sofrida (ao intervalo estava 1-0 para o conjunto de Pedro Emanuel) e a derrota em Vila do Conde acusou fragilidades que a qualidade das exibições na Luz talvez esconda.

Se o FC Porto tem a «desculpa» do peso da Champions (mês de abril terrível, pelo menos em datas, para os azuis e brancos), o Benfica tem só a Taça da Liga ( a final com o Marítimo foi adiada para 28 de maio), pelo que o foco no campeonato é quase total. 

A partida com a Académica na Luz deverá confirmar essa fortaleza na Luz, mas antes do clássico com o FC Porto, a 29 de abril, que todos estão a apontar como sendo o jogo do título, a formação de Jorge Jesus tem duro teste em Belém. Não é garantido que a águia chegue intacta ao duelo com os dragões. 


3. Os árbitros oscilam, também eles, entre a ameaça de greve e a vontade de diálogo.

Quem acompanha há muitos anos os campeonatos profissionais, não ficará assim muito impressionado com uma ameaça de paragem dos árbitros. É um pouco como a história de Pedro e o Lobo: de tantas vezes se gritar que vem a ameaça, depois não se acredita quando esta está mesmo a aparecer. 

Um árbitro, numa competição profissional, tem que ser bem pago, para que o seu desempenho esteja ao nível da exigência (que é enorme) e da responsabilidade (que é ainda maior). Sucede que os árbitros já são, hoje em dia, bem pagos para dirigir uma partida da Liga e beneficiam de condições técnicas e logísticas incomparavalmente maiores que no passado. 

Não se questiona a justeza das reivindiações da classe da arbitragem. Mas questiona-se a oportunidade. Um cenário de boicote às jornadas decisivas seria terrível para o futebol profissional. Em primeiro lugar, para a imagem dos árbitros.

Espera-se, pois, que prevaleça a via do diálogo.



4. E para o fim fica, é claro, o melhor de todos: Cristiano Ronaldo.

Nunca foi prudente apostar contra CR7.

Cinco-golos-cinco num jogo da Liga espanhola, mesmo sendo com o Granada, é feito de assinalar, mesmo para quem já ganhou três Bolas de Ouro. CR7 passou, sem dúvida, uma fase de sombra, tanto a nível físico como psicológico. Mesmo ele, que em tantas coisas parece o Super Homem, tem direito a isso. «Regressar» com mão cheia de golos, três deles num espaço de oito minutos, não está mal para quem se fartou de ouvir, nas últimas semanas, que já não ia voltar a ser o melhor do Mundo, não...

«Nem de propósito» é uma rubrica de opinião e análise da autoria do jornalista Germano Almeida. Sobre futebol (português e internacional) e às vezes sobre outros temas. Hoje em dia, tudo tem a ver com tudo, não é o que dizem?