Durou apenas três meses a aventura de Mano Menezes no Flamengo.

Depois de uma saída inesperada da seleção do Brasil (em novembro passado), o que estará mal na carreira deste técnico conceituado, com um perfil que, no Brasil, muitos consideram «demasiado europeu»?

É certo que herdou um Fla em descrédito, mas logo começaram as críticas à forma como dirigia a equipa.

A derrota em casa frente ao Atlético Paranaense, por 2-4, para o Brasileirão, fê-lo bater com a porta, após 22 jogos ao comando do conjunto da Gávea. E tudo indica que acabou de nascer mais um processo confuso na carreira do técnico que, no final do ano passado, foi despedido pelo polémico presidente da CBF, José Maria Marin.

Apanhados de surpresa com a demissão, os dirigentes do Fla ameaçam com indemnização de um milhão de reais (cerca de 380 mil euros) a exigir ao técnico.

A frustração no escrete

A passagem pelo escrete foi a maior frustração da agitada carreira de Mano Menezes.

Em 33 jogos ao comando da canarinha, venceu 21 partidas, empatou seis e perdeu outras seis.

Demitido em novembro passado, deixou a Scolari uma herança pesada: um escrete que até fazia bons resultados nos amigáveis, mas sem espírito coletivo e com muitas dúvidas sobre quem iria ocupar posições chave.

Dois fracassos em competições oficiais (sobretudo a eliminação nos quartos-de-final da Copa América 2011) reforçaram a ideia de que Mano não era o homem certo no lugar certo.

Mesmo assim, a sua saída causou surpresa: nos três meses anteriores, tinha tido cinco vitórias e um empate.

Mano pegou no Brasil na sequência da saída de Dunga, que havia sido eliminado nos quartos-de-final do Mundial-2010.

Sem a pressão de obter a qualificação para 2014, os jogos de preparação tinham uma importância acrescida. Os bons resultados não lhe foram suficientes e na base da saída terão estado divergências de personalidade com o polémico presidente da CBF, José Maria Marin.

Dez meses depois, Mano Menezes volta a ter saída inesperada e conturbada, agora do Flamengo, onde passou apenas três meses.

Que se passa, Mano?

Demasiado «europeu» para o futebol brasileiro? Quando a ideia se começou a formar, em agosto de 2012, em fase de contestação ao então selecionador brasileiro, a empresa brasileira de consultoria em recursos humanos «Etalent» realizou um estudo que apontava para essa perceção.

«Mano parece mais europeu. Seu perfil burocrático seria ideal na seleção inglesa ou alemã. O brasileiro é mais sangue quente. Isso pode contaminar os jogadores dentro de campo, deixá-los mais cautelosos. Ao mesmo tempo, pode gerar intimidação. Imagino que isso possa acontecer com o Neymar e outras peças mais extrovertidas. Se ele fosse auxiliar, não haveria problema», apontou Jorge Matos, presidente da «Etalent», no estudo efetuado com base na Análise de Perfil Comportamental desenvolvida por William Marston, professor em Harvard.

Curiosamente, esse relatório identificava outro técnico como bem mais adequado às características brasileiras: Luiz Felipe Scolari, nem mais. O homem que, meses depois, haveria de suceder a Mano no escrete.

«Como gestor de uma equipa, o técnico ideal precisaria de entusiasmo, sociabilidade, autoconfiança. E a pesquisa identificou que o Mano tem essas características em um nível abaixo do considerado ideal para quem ocupa o seu cargo. Em uma escala de 0 a 10, ele tem nota 5», apontava a «Etalent».

Menezes foi traçado como «prevenido», «reflexivo», «sem pressa para tomar decisões».

MANO MENEZES

Nome: Luiz António Wencker Menezes (Mano Menezes)

Data de nascimento: 11 de junho de 1962 (51 anos)

Naturalidade: Passo do Sobrado (Rio Grande do Sul)

Percurso como treinador: Guarani (1997-2002), Brasil de Pelotas (2002), Iraty (2003), Guarani (2003), 15 de Novembro (2003-2004), Caxias (2004-2005), Grêmio de Porto Alegre (2005-2007), Corinthians (2008-2010), Seleção do Brasil (2010-2012), Flamengo (2013)