De um lado um embuste, do outro um campeão europeu. Não há como comparar um dos maiores impostores da história do futebol, como um dos médios mais consagrados do futebol português.

Carlos Kaiser e Maniche só se misturam nestas linhas porque por estes dias há novidades no panorama cultural sobre ambos e sugestões muito interessantes para fazer.

A divertida biografia de Kaiser, acabada de lançar, vai estar no próximo fim de semana na tela do Porto/Post/Doc, que decorre na cidade Invicta, enquanto as histórias de vida de Maniche chegaram às livrarias na última semana.

Entre um e outro, como que a manter distâncias entre duas personagens tão díspares, um toque de atualidade para aproveitar a visita do Benfica à Alemanha, nesta terça-feira para a Liga dos Campeões: uma paródia musical sobre o atual momento do Bayern de Munique na Bundesliga.

Vale a pena ver, ouvir e ler.

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VER: «Kaiser: The Greatest Footballer Never to Play Football»

Género: documentário

Realizador: Louis Myles

País: Brasil e Reino Unido

Duração: 98 minutos

Farsante, impostor, burlão, mas sobretudo hilariante.

Carlos Henrique Cardoso é um bom malandro carioca, daqueles cuja vida deu mesmo um filme.

«Essa é a história de um não jogador de futebol. Não joguei, não fiz um golo, não dei um chuto…» A descrição do próprio é eloquente.

Carlos, que para as lides futebolísticas adotou o pomposo nome de Kaiser, é o maior futebolista que nunca pisou um relvado.

Foram 26 anos de uma carreira a driblar os factos e a contornar a verdade.  Simulou lesões, provocou confrontos nas bancadas, fez tudo para evitar entrar em campo e mostrar aos clubes que o contratavam que mal sabia dar um chuto numa bola.

Tudo sacrifícios de alguém que detestava jogar futebol, mas adorava a fama e as mulheres que a vida de futebolista lhe proporcionava.

«Ficava feliz da vida no departamento médico», contou Kaiser em entrevista ao Maisfutebol em 2011.

O realizador britânico Louis Myles agarrou na história e levou-a à tela num documentário biográfico estreado em junho.

O ator Eduardo Lara interpreta Kaiser num filme que conta com os testemunhos do próprio e de craques ilustres como Carlos Alberto, Bebeto, Renato Gaúcho, Ricardo Rocha. A banda sonora é de Carolina Lins & Planatos, que apropriadamente adaptaram o tema «I Predict a Riot» dos Kaiser Chiefs.

Esta homenagem à malandragem teve honras de abertura do Porto/Post/Doc e será exibido, no âmbito do festival, no próximo sábado, pelas 17 horas, no Passos Manuel (Porto).

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OUVIR: «Bayern song»

Autores: Dennis e Jesko

Género: paródia

País: Alemanha

Duração: 1:39 minutos

Parodiar o Bayern? Sim, agora já é possível. Quinto classificado da Bundesliga, a nove pontos do líder Borussia Dortmund, o heptacampeão alemão está a ter uma época atípica a nível interno.

Vai daí que a dupla Dennis e Jesko, do programa satírico de futebol Wumms, aproveitou o atual mau momento dos bávaros para juntar um beat tão animado quanto os versos. A condição de suplente de Müller, a conferência de imprensa inusitada de Rummenigge e Hoeness atacando a imprensa ou a intenção do clube integrar uma Superliga Europeia dão o mote este tema bem-humorado, cujo vídeo já ultrapassou os dois milhões de visualizações no youtube.

Ora aí está um bom motivo para o Benfica hoje, quando entrar na Allianz Arena para disputar uma partida decisiva da Liga dos Campeões, perder um pouco o respeito ao todo-poderoso Bayern.

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LER: «#Maniche18 – As histórias ainda não contadas»

Autor: Tiago Guadalupe

Editora: Prime Books

Género: Biografia

País: Portugal

Páginas: 224

Não é coisa pouca abrir o livro de memórias de uma carreira cheia, com mais de meia centena de internacionalizações, passagens pelos três grandes do futebol nacional e por emblemas ilustres do futebol europeu, como Chelsea, Inter de Milão, Atlético de Madrid.

Maniche foi ao baú das recordações para contar a história dos seus anos dourados, em particular no FC Porto, onde ganhou tudo o que havia para ganhar – conseguiu a façanha de conquistar de dragão ao peito Liga dos Campeões, Taça UEFA e Taça Intercontinental, além das provas nacionais.

Nestas 224 páginas escritas por Tiago Guadalupe, o antigo médio, agora com 41 anos, recorda desde a troca do Benfica pelo rival azul e branco, com um arroz de grelos que jantou em casa de Pinto da Costa, a episódios como o gesto impensável do ex-companheiro Carlos Alberto – que interrompeu uma reunião de Jorge Mendes com António Salvador e apertou as partes baixas do presidente do Sp. Braga – ou a polémica com a camisola de Rui Jorge, que afinal não foi rasgada por José Mourinho.

O livro, com prefácio de Mourinho e posfácio do presidente da FIFA Gianni Infantino, chegou às livrarias na última semana e custa 13,90 euros.

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«PLATEIA» é um espaço quinzenal de sugestões culturais sobre futebol do jornalista Sérgio Pires. Pode enviar as suas através do e-mail smpires@mediacapital.pt