Mais de metade dos nomes divulgados pela Lusófona como fazendo parte do Conselho Científico que deu o aval às equivalências para a licenciatura do ministro Miguel Relvas nunca participou em qualquer reunião para analisar o caso.

Em respostas por escrito enviadas à agência Lusa, seis docentes indicados na lista divulgada pela Universidade Lusófona como fazendo parte do Conselho Científico do Departamento de Ciências Socias e Humanas no ano letivo de 2006/07 disseram nunca ter participado em qualquer reunião para analisar o assunto, não se lembrar de tal encontro e, num dos casos, são até apontados outros quatro nomes de membros daquele órgão que não participaram em qualquer deliberação.

A professora Selma Calasans Rodrigues afirma que «felizmente» não foi convocada para tal reunião e acrescenta ser contra as equivalências atribuídas, num despacho que é apenas assinado pelo presidente deste Conselho Científico, Fernando Santos Neves, segundo o processo do aluno consultado pelos jornalistas no início da semana.

«Felizmente não fui convocada para tal ou tais reuniões do Conselho Científico da Universidade, que me deixariam bastante constrangida se lá estivesse e tivesse de votar, principalmente por ser contrária às decisões tomadas», respondeu a docente.

Também o professor Luís Manana de Sousa confirma não ter estado presente em qualquer reunião para atribuição de equivalências.

Nalguns casos, os docentes contactaram os órgãos da Universidade Lusófona antes de responder, como aconteceu com Zoran Roca, que respondeu que, «depois de elucidado» nada tinha a acrescentar.

Houve também casos de docentes que disseram à Lusa não se lembrar de ter discutido o assunto em sede do Conselho Científico, como foi o caso de Teotónio de Souza, outro nome indicado pela Lusófona como fazendo parte daquele órgão.

«Estas decisões são tomadas na comissão científica de cada departamento e, neste caso, na comissão científica do departamento de Ciência Política. Não me lembro de ter sido discutido o assunto no conselho científico da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, ou talvez não estive presente nessa reunião», escreveu.

Já Manuel Tavares Gomes adiante que, embora os nomes referidos pela Lusófona fizessem parte formalmente do Conselho Científico do Departamento de Ciências Socias e Humanas no ano letivo de 2006/07, «há um conjunto de membros que pertencem ao CC [Conselho Científico] do Instituto de Educação», como é o seu caso, e que «nunca participaram de qualquer Conselho Científico onde essa matéria tenha sido discutida».

Como exemplos Manuel Tavares Gomes aponta, entre outros, os nomes de José Grosso de Oliveira, José Braz Rodrigues e de Óscar de Sousa. Este último, na resposta enviada à Lusa, diz não ter memória de tal reunião.

«Já lá vão alguns anos e confesso que não tenho presente se participei nessa reunião e, no caso afirmativo, se me pronunciei sobre o assunto», afirma o docente, acrescentando: «Posso apenas lembrar que estávamos no início do processo de Bolonha e que a legislação sobre o assunto era vaga.»

O caso da licenciatura do ministro Miguel Relvas começou a dar polémica há cerca de duas semanas por causa do número de equivalências que obteve na Universidade Lusófona.

De acordo com o processo do aluno que a Lusófona disponibilizou para consulta na passada segunda-feira, foram atribuídos 160 créditos ao aluno Miguel Relvas no ano letivo 2006/07 e que lhe permitiram concluir a licenciatura com a realização de apenas quatro cadeiras.