As autoridades portuguesas foram sondadas nos últimos dias sobre uma eventual entrada do Bilbao Viscaya Argentaria (BBVA) no capital do Banco Comercial Português (BCP).

A iniciativa surge num momento em que Carlos Santos Ferreira, o presidente executivo do banco português, está a estudar soluções para reforçar o capital do BCP, o que pode passar por um aumento de capital, pelo recurso à linha de recapitalização estatal, ou à entrada de um accionista estratégico, avança o «Público».

A sondagem feita às autoridades nacionais ocorreu dias antes da cimeira luso-espanhola, que se realizou no final da semana passada em Zamora. O interesse do BBVA em assumir uma posição relevante no capital do BCP chegou a Belém e São Bento através de «emissários» e não de representas oficiais do BBVA. O seu objectivo foi saber se as autoridades nacionais aceitariam a entrada em força do segundo maior banco privado espanhol no capital do maior banco privado português.

De acordo com o mesmo jornal, a hipótese de uma entrada do BBVA no BCP foi encarada com algum receio por parte da Presidência da República, mas tanto Cavaco Silva como José Sócrates aceitaram vir a analisar este cenário.

Os contactos chegaram igualmente ao Banco de Portugal, que optou por não fazer qualquer comentário sobre este assunto.

Movimentações por parte de bancos de investimento

Em declarações ao jornal, em Madrid, o porta-voz oficial do grupo espanhol negou interesse no BCP. «Não existem planos para comprar nada em Portugal». Mas fontes do banco espanhol, não oficiais, admitem a possibilidade de terem existido movimentações, designadamente por parte de bancos de investimento, ou de outras personalidades, junto das autoridades nacionais, para promover o negócio.



Em causa estaria a aquisição de uma participação no BCP entre 20 e 30 por cento, que exigiria uma concertação accionista entre os outros accionistas mais musculados, como a Sonangol e a Eureko, cada um com 10 por cento do banco nacional. Mas dificilmente o BBVA aceitará, neste movimento de concentração espanhol, assumir uma participação até 30 por cento, caso não garanta que o caminho fica aberto para chegar aos 100 por cento. Isto implica a alteração dos actuais estatutos e o fim da limitação dos direitos de voto a 10 por cento (do capital social presente nas assembleias gerais), o que visa impedir o controlo da instituição por um só accionista (o BPI acautela esta possibilidade impondo o limite dos direitos de voto nas assembleias gerais a 17,5 por cento do capital total).

Contactado pelo «Público» Carlos Santos Ferreira negou «totalmente» ter alguma vez falado a este propósito com os responsáveis do BBVA.

As acções do banco seguem a ganhar 4,16% para os 0,80 euros.