A conjuntura nos mercados internacionais está a ter um efeito claro no crescimento económico português. Cientes de que a «performance» nacional no primeiro trimestre «foi má», os economistas contactados pela Agência Financeira consideram que a revisão do crescimento em baixa anunciada esta quinta-feira pelo Governo, dos 2,2 por cento para 1,5%, é realista.

«O Governo está a ter uma atitude realista. Os números que havia não eram sustentáveis e fez bem para os tornar mais credíveis», considera o economista e professor da Universidade Católica, João César das Neves. Uma opinião que é partilhada por Paula Carvalho, economista do banco BPI:«O ajustamento foi grande, mas o cenário agora parece-me mais realista», disse à AF.

De acordo com a especialista, a previsão oficial tem «objectivos psicológicos na gestão de expectativas» importantes, pelo que tinha de estar em linha com um cenário «já bastante negativo». Segundo Paula Carvalho, se se enquadrar esta revisão em baixa de 1,5% com as restantes que têm saído, o cenário avançado pelo ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, «é até dos mais pessimistas».

Mais investimento: disparate ou resultado de esforço?

Sobre a posição do Governo em compensar o menor crescimento com mais investimento, João César das Neves considera que esta opção «é bastante negativa», apesar de ainda não se conhecerem todos os dados conjunturais. São «disparates para dar a algumas empresas de construção, mas nada de bom para a economia», refere.

Por outro lado, a economista do banco BPI considera que o esforço feito pelo Executivo ao nível das contas públicas permite agora uma aposta maior ao nível dos gastos para se amortizarem as quebras que se possam sentir em alguns sectores.

«Temos outros problemas que se têm vindo a arrastar como é a questão do grande endividamento das famílias e das empresas», acrescentou.

Cauteloso quanto a nova mexida nos impostos, João César das Neves lembra que «não estamos numa época de optimismo». Para os próximos tempos, o professor não prevê tempos fáceis: «Aquilo de que era preciso para darmos o salto, estamos longe disso. A rapidez de ajustamento que tínhamos não se está a verificar», disse à Agência Financeira.