«A contracção de 3,5 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) é um valor bastante acentuado e que representa uma recessão bastante cavada. E em termos de curto prazo é sobretudo gravosa para os que perdem emprego», disse à agência Lusa o ex-ministro das Finanças, Bagão Félix.
Desemprego é epicentro da crise
O economista considera que esta contracção, associada à descida de 14,2% das exportações e de 14,4% do investimento, devido ao ambiente de adiamento de consumo de bens duradouros «vai repercutir-se brutalmente no desemprego».
«O epicentro da crise é o desemprego. Estas previsões representam perdas significativas de postos de trabalho e terão repercussões nas despesas sociais. Os que já não têm emprego, vão continuar a não ter, além dos outros que também vão perder», afirmou Bagão Félix.
Apesar da queda das exportações, que considera «brutal», Bagão Félix lembra que está prevista uma depreciação do euro, o que pode contribuir para «algum estímulo» às vendas no exterior.
«Nas outras recessões que passaram por Portugal, as exportações estiveram sempre a níveis confortáveis, quando contrariando até a tendência geral. Mas esta crise tem a particularidade de ser generalizada e ocorrer numa economia que é bastante vulnerável e aberta», afirmou.
Quanto à inflação, que segundo as previsões deve ser negativa em 0,2%, o ex-ministro das Finanças sublinhou ter ficado surpreendido, já que esperava um crescimento de 0,3/0,4%, mas afasta contudo o cenário de deflação, atribuindo a situação a uma descida temporária de preços condicionada pelos preços dos combustíveis, à semelhança do Banco de Portugal.
«Pode é vir a ser uma acendalha para a própria recessão», admitiu Bagão Félix.
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