A economia europeia só deverá começar a dar sinais de retoma, na melhor das hipóteses, em Outubro de 2010, disse terça-feira, em Santarém, o economista Daniel Bessa, citado pela agência Lusa.

Falando no VIII Encontro Millennium bcp, Daniel Bessa afirmou que a sua previsão se baseia nos indicadores mais avançados, adiantando que só após três meses de sinal positivo a economia dá sinais de recuperação, primeiro nos Estados Unidos (cinco meses depois) e, 17 meses depois, na Europa.

Como os indicadores relativos a Março ainda não foram positivos, «não há nada hoje que diga que na Europa haverá melhorias nas vendas antes de Setembro de 2010».

Segundo disse, esta sua previsão baseia-se num sistema de informação «que tem um passado e que produziu determinados resultados».

Daniel Bessa acredita que ao dizer isto presta «um serviço às pessoas», porque assim «sabem com o que podem contar».

Fugir aos custos fixos

O economista e docente da Universidade Católica afirmou estar hoje «menos animado que há duas, três semanas», uma vez que o mercado de acções afinal não parece estar a melhorar.

Daniel Bessa recomendou aos empresários presentes no Centro Nacional de Exposições, em Santarém, que, para enfrentar a actual crise, «fujam dos custos fixos».

Comprimir os custos e dar aos preços a flexibilidade necessária é «uma regra de ouro» para não cair para o «abismo», afirmou.

Nessa «flexibilidade», Daniel Bessa incluiu as relações de trabalho, especificando que, no seu entender, a solução não passa por despedimentos mas sim pela redução do tempo de trabalho, com uma redução da massa salarial proporcionalmente inferior.

O economista defendeu que, apesar de a legislação portuguesa ser das mais rígidas, as empresas se deveriam bater pela «flexibilidade dos salários», porque essa é «uma guerra justa».

Daniel Bessa saudou algumas das medidas adoptadas pelo Governo, como o pagamento de parte dos salários em alguns sectores ou a injecção na economia de mais de dois mil milhões de euros para pagamento de dívidas do Estado, declarando-se contrário à redução dos impostos.

Por outro lado, considerou ter «todo o sentido» o investimento público em obras de rápida realização (como o programa de recuperação de escolas) ou nas barragens, energias renováveis e banda larga.

«Já as grandes obras públicas não são para aqui chamadas, porque têm um tempo não sei se suficientemente célere para pensar nelas para resolver este problema», disse, considerando essa uma questão «mais política do que técnica».

Daniel Bessa disse que a nível orçamental se tem feito «o que se pode, receio que até demais», adiantando que existe «um risco de overdose e incontinência pela situação eleitoral» que se vive este ano.

«Se formos muito para além do limite, e receio que andemos muito perto disso», o excesso de despesa pública em 2009 terá que ser revertido em 2010, o que traria «muito más notícias», afirmou.