A KPMG, auditora externa do BCP já na altura em que ocorreram as alegadas operações através de sociedades off-shore que estão agora sob investigação, diz que sempre cumpriu o seu dever de reportar às entidades reguladoras qualquer informação relevante.

O presidente do Conselho de Administração da KPMG em Portugal, Sikander Sattar, foi ouvido esta sexta-feira pela Comissão Parlamentar de Inquérito que está a averiguar a actuação dos reguladores no caso BCP, e afirmou aos deputados que a auditora «cumpriu o dever de reporte de toda a informação que conhecíamos», adiantando acreditar que também os reguladores terão dado a conhecer à empresa toda a informação relevante de que dispunham.

Sikander Sattar só não respondeu se reportou as alegadas operações irregulares em off-shores e os alegados perdões de dívidas a accionistas do BCP aos reguladores ou se não o fez, por as desconhecer.

Total colaboração com as autoridades

O responsável garantiu existir uma relação de colaboração, tanto com a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), como com o Banco de Portugal (BdP), acrescentando que até ao final de 2007, altura em que o caso BCP começou a ser investigado, a mesma «manteve uma relação de contacto com os reguladores, sempre que solicitado». Já sobre a relação com as duas entidades desde essa altura, afirmou existir com a CMVM um diálogo permanente e com o BdP um diálogo regular.

«Nós apoiamos as investigações. A KPMG tem sido parte da solução e não do problema», garantiu, adiantando que «a CMVM tem a total disposição da KPMG para analisar documentos, trabalhos e conclusões que entender, quando entender».

KPMG tem sido alvo de «ataques e especulações»

O responsável queixou-se ainda daquilo que chama ser «ataques e especulações montados à volta» da auditora, nomeadamente na comunicação social. «É inédito o tratamento dado pela comunicação social à nomeação da KPMG como auditora do BCP na Assembleia-geral. Em nenhum outro país do Mundo se escreveu tanto sobre a nomeação de um auditor externo de uma empresa cotada», disse, afirmando que, ao contrário do que chegou a ser escrito, «em momento algum a KPMG foi investigada por nenhum órgão de supervisão».

Em reacção a esta afirmação, o deputado Francisco Louçã, do Bloco de Esquerda, lembrou Sikander Sattar da carta enviada pela CMVM ao Conselho Geral e de Supervisão (CGS) do BCP na véspera de uma Assembleia-geral de accionistas em Dezembro do ano passado, alertando aquele órgão para o facto de a actividade de auditoria ao banco estar a ser alvo de investigação, e recomendando que esta informação fosse transmitida aos accionistas antes da referida assembleia.

Sikander Sattar admitiu então existir um «acto de supervisão» sobre a empresa, e confessou que «a linguagem da carta da CMVM ao CGS do BCP» lha causa «alguma dificuldade de interpretação».

O responsável da KPMG manifestou-se contra a rotação das firmas auditoras, ao contrário do que defende a CMVM, e disse ainda que, em sua opinião, nenhum banco devia poder emprestar dinheiro a qualquer cliente para comprar as suas próprias acções.

Em jeito de recomendação aos deputados, sugeriu ainda que se «acabem com as off-shores».