Os economistas já reagiram ao Boletim Económico da Primavera divulgado esta terça-feira pelo Banco de Portugal (BdP) e concordam que Portugal está a atravessar um período incerto e negativo. Por isso, o susto é grande.

O economista César das Neves disse, em declarações à Agência Financeira, que é razoável o que o BdP vem dizer, já que «ainda é muito cedo para se fazerem avaliações definitivas», sublinhando ainda que «o impacto da crise internacional na economia nacional é inevitável».

«A crise ameaça coisas horríveis e ninguém sabe quanto tempo durará. Ainda não se verificou o pior, estamos longe disso, mas por outro lado o susto é grande», disse o também professor da Universidade Católica Portuguesa, que admitiu que «é impossível Portugal não sofrer alguma coisa». Apesar de assumir que o que estamos a viver é «desagradável e negativo», refere que para já não há razão para pânico: «A situação frágil da economia portuguesa justifica algumas preocupações, mas penso que não devemos exagerar», disse à AF.

Para João César das Neves, antecipar uma redução em baixa da economia portuguesa é por isso mais provável, mesmo depois de termos obtido «grandes resultados».

«Os resultados são bons mas grande parte deles foram conseguidos com medidas intemporais: baixaram os salários dos funcionários públicos, houve uma altura em que subiram o IVA, o que significa que não estamos nos perfis certos» e que a maioria das medidas «não são muito sólidas» e não trazem «uma segurança garantida dos resultados».

Governo tem de deixar de ser «autista»

Já Luís Mira Amaral garantiu à Agência Financeira que esta crise «não é passageira» e, por isso, vai continuar a afectar a economia portuguesa durante 2008.

O especialista considera ainda que vamos ter surpresas ao nível das exportações, que «vão ser afectadas» e ao nível do crédito que será «mais racionado». De esperar são ainda as «elevadas taxas de juro», que vão afectar o comportamento da economia portuguesa.

«O problema ainda não está resolvido e as metas que foram colocadas na crise do subprime são irrealistas», disse acrescentando que «se houver uma revisão da economia será em baixa».

Para Miguel Frasquilho, o ambiente de incerteza que foi reiterado pelo BdP «era previsível» e, perante este ambiente, «só o Governo é que continua a olhar de forma autista».

«O crescimento económico não se promete, o crescimento é o que é», acrescentou o economista à AF, pelo que o actual discurso do Partido Socialista «só o descredibiliza».

«A maior parte do que foi feito até aqui foi pelo lado da receita, agora deve-se ter em conta a despesa», recomenda o também deputado do PSD.

Consolidação: «o mais duro» já passou

Já a economista do BPI, Ana Paula Carvalho, concorda que os dados do Banco de Portugal são uma espécie de abertura de portas para uma redução em baixa das perspectivas de crescimento no próximo boletim estatístico. «É possível que o banco de Portugal venha a ajustar ligeiramente a sua previsão de crescimento», afirmou à AF.

O esforço de consolidação orçamental vai, por isso, ter que de continuar, apesar de ter sido «mais duro nos últimos dois anos». Para a economista é essencial ser feito um esforço «em direcção a um orçamento mais equilibrado de modo a ganhar espaço caso seja necessário actuar de forma contra-cíclica» e, por outro lado, é fulcral «ganhar espaço pelo lado da despesa, de forma a também reduzir a carga fiscal».