Vulgarizado.
Humilhante.
Crise.
Falência tática.
Chumbo.

Os jornais desportivos são, há anos, bastante comedidos quando se trata de criticar os grandes, sobretudo Benfica e FC Porto. Mas depois do que se viu em Paris, tornou-se inevitável. O leitor pode escolher a palavra que quiser para definir o que se passou no Parque dos Príncipes. Das que encimam este texto, ou outras, de alguma forma semelhantes. Eu prefiro duas: Liga Europa. O Benfica foi uma equipa de Liga Europa, sem vida para toda aquela luz e sem nada que a autorizasse a ouvir o hino da Champions.

Sobre o jogo já tudo foi escrito pelo enviado especial do Maisfutebol, Luís Mateus, e por Nuno Travassos, que passou os 90 minutos a analisar as questões táticas.

Gostaria de dizer só mais duas coisas.

Os planos A, B e C

Antes do jogo, Jorge Jesus bateu no peito e lembrou que o Benfica só tem uma forma de jogar, em qualquer tempo, em qualquer campo, em qualquer prova. Foi mais uma exibição pública da soberba do treinador encarnado, de resto um dos seus traços fundamentais. Ele é que sabe, as suas equipas são sempre as maiores, pode vir quem quiser. Foi ele, lembre-se, que explicou como se vai jogar a Camp Nou, esquecendo que lhe coube defrontar o Barcelona B, na época passada.

Por pensar assim, o Benfica anda há quatro anos a jogar da mesma forma, mais coisa menos coisa. Quatro defesas, dois médios no centro, dois alas de características ofensivas e dois avançados. E há quatro anos que se escreve que o Benfica devia ter um outro plano, uma outra forma de jogar. Uma alternativa. Quanto mais não seja porque os adversários não têm todos o mesmo poder e os jogos não são todos iguais.

Não se trata de alterar a natureza profunda da equipa. Trata-se de tomar as opções mais inteligentes. E de as treinar. A utilização de Djuricic perto de Cardozo parecerá destinada a equilibrar um pouco mais a equipa. Mas não, é só aparência. O sérvio tem menor capacidade de pressão sem bola do que Lima, não tem conseguido acrescentar talento e não liga o meio-campo e o ataque. Até ver é apenas uma má escolha. (tem pelo menos a vantagem de Djuricic não poder dizer que não joga)

Em alguns momentos da sua vida na Luz, Jesus pareceu decidido a estudar alternativas. Quando chegou Witsel, o belga jogou com Javi Garcia e Aimar. Era um meio-campo sólido, que fazia sentido. Mas durou pouco, por razões distintas.

Na época passada, Jesus deixou-se encantar por Matic e Enzo, que de facto jogaram bem, mas acabaram naturalmente esgotados. Falharam, por exaustão, quando a equipa mais precisava deles.

Esta época chegou Fejsa, uma espécie de Javi Garcia. Matic adiantou-se, Enzo foi para a direita. Porque o treinador quis, lembre-se. Matic não voltou a ser o mesmo, Enzo tem jogado bem na direita. Em Paris, Jesus começou assim. Depois Fejsa lesionou-se, ressuscitou André Gomes. A surpresa estava guardada para depois do intervalo. A perder por 3-0, Jesus inventou Enzo Pérez como número «10», quando tinha no banco Markovic (outra vez remetido para a ala) e Lima (um avançado que de repente deixou de prestar). Na verdade, tinha medo de sofrer mais. Resumindo, a falência tática do Benfica é uma falsa questão. Não se trata de falência, sequer. Trata-se de teimosia e incapacidade para trabalhar alternativas.

Um outro ponto sobre o qual gostaria de escrever alguma coisa é a comunicação.

O Benfica vive dias estranhos. De repente, toda a gente fala. Jesus, sempre. Mas também Vieira e até Rui Costa, mais Lourenço Coelho no sorteio da Taça, mais Rui Gomes da Silva na televisão. São muitos dirigentes a dizer essencialmente o mesmo: a equipa precisa de jogar mais, os árbitros ajudam a explicar a diferença de cinco pontos na Liga.
Este discurso é excessivo. É verdade que o Benfica anda a jogar pouco, mas não vejo a vantagem de o sublinhar ao mais alto nível, acrescentando pressão. O que se passa deveria ser analisado e discutido com o treinador, eventualmente com o plantel. Na verdade, um empate em casa com o Belenenses não devia justificar tanto barulho.

Por outro lado, o discurso de tiro ao árbitro, por muito justas que as críticas possam ser, passa imediatamente a soar como desculpa frágil e até os adeptos mais fiéis não hesitam em soltar um «joguem mas é à bola».

Por último, problema maior, há ainda Jesus. Antes do jogo diz uma coisa, depois de sofrer três golos confessa que ao intervalo se preocupou sobretudo em não encaixar mais e sai do Parque dos Príncipes a tentar convencer-nos de que o PSG está perto de ser a melhor equipa da Europa. Jesus tem evidentemente direito à sua opinião. E nós temos direito a seguir com atenção o futebol internacional.

E o FC Porto?

Começo pelo discurso. Paulo Fonseca não estava preparado para explicar a derrota em casa para a Liga dos Campeões. Lamentou as bolas paradas do adversário esquecendo que o seu golo também surgiu dessa forma. É verdade que o FC Porto dividiu o jogo com o líder da Liga espanhola, mas este era um daqueles jogos que não podia perder.

Tal como o Benfica, o FC Porto não teve um comportamento de equipa de Liga dos Campeões, sólida e concentrada do primeiro ao último minuto. Os problemas da equipa de Paulo Fonseca são visíveis (a organização do meio-campo, a súbita queda de Licá, a irracional pressão dos adeptos para o treinador utilizar Quintero). No jogo do Dragão, juntaram-se a falta de maturidade (as infrações de Josué e Mangala, origem dos golos, são inaceitáveis) e a falta de concentração em momentos decisivos. Fatal, a este nível.

Resumindo: apesar das derrotas, FC Porto e Benfica têm todas as condições para seguir em frente. O Zenit será mais complicado do que o Olympiacos, mas tem menos dois pontos, o que é uma ajuda. Têm é de voltar a ser equipas de Liga dos Campeões. Depressa.