A história da suspensão do jogador egípcio que fez um gesto político de apoio ao presidente deposto em pleno relvado colocou um ponto final nas tréguas desportivas que pareciam ter chegado ao país depois da conquista da Liga dos Campeões africana pelo Al-Ahly. O quadro político está demasiado instável e os atletas estão impedidos de manifestar qualquer apoio que não seja ao poder vigente.

Ahmed Abdul Zaher, 28 anos, já sabe que não vai participar no Mundial de Clubes depois de ter comemorado com os quatro dedos um dos golos da vitória sobre o Orlando Pirates. O sinal constitui ato desafiando ao regime militar no poder e claro apoio ao movimento islamita do presidente deposto Mohamed Morsi, simbolizando o protesto da praça Rabaa Al-Adawiya (significa quatro em árabe), na cidade do Cairo, onde centenas de partidários de Mohammed Morsi foram mortos pela polícia. Centenas de pessoas viriam a morrer em confrontos subsequentes ocorridos em todo o país.



O jogador veio explicar-se, mas nada deverá impedir a suspensão e até a sua transferência. «Sim, fiz o sinal do Rabaa, mas não queria entrar em questões políticas. Não fiz o gesto para criar uma controversa política. O meu único objetivo era honrar os mártires, tanto na população civil quanto na polícia», justificou o avançado de 28 anos.

«À luz dos princípios do clube, e da firme rejeição em misturar política com desporto, à sua adesão aos regulamentos da FIFA e a confissão do jogador, que assumiu ter cometido um erro e aceitou a punição, o clube decidiu o seguinte: suspender o jogador e bani-lo do Mundial de Clubes, no próximo mês; não lhe dar os prémios oriundos do triunfo na Liga dos Campeões e colocá-lo à venda na janela de transferências de janeiro», diz a nota no site oficial do clube.

A decisão foi anunciada depois do ministro do Desporto do governo interino, Taher Abouzeid, ter afirmado que esperava que Zaher fosse multado e suspenso. Todos os pagamentos foram congelados e a federação deverá abrir um inquérito formal aos acontecimentos, mas, segundo relato de um correspondente da agência AFP, logo que se conheceu a notícia da suspensão um grupo de pessoas marcou presença junto da casa de Zaher para demonstrarem solidariedade. O jogador terá surgido à janela para os saudar e terá feito novamente o gesto com os quadro dedos.

Claro que este assunto fez estalar a polémica a nível interno, levando a diferentes reações. Enquanto que o ex-assessor de imprensa do Al-Ahly, Rahman Ramdy, disse na sua conta de twitter que o clube já tinha avisado os jogadores para não manifestarem posições políticas, o colega de Zaher, Warda, veio mostrar solidariedade na mesma rede social.







O clube também multou em 7200 euros a estrela Mohamed Aboutrika, outro apoiante de Morsi, por não ter comparecido na cerimónia organizada pelo ministro do desporto para receção de medalhas de campeão. Aboutrika preferiu ir para o balneário vestido com uma camisola com o número 72, que simboliza os adeptos que morreram em confrontos em Port Said, em fevereiro de 2012.

Estas suspensões surgem depois de no último domingo Mohamed Youssef, atleta de Kung Fu, ter sido afastado por dois anos das competições internacionais por ter usado uma camisola com o símbolo pro-Morsi quando recebeu sua medalha de ouro no Mundial de Kung Fu da Rússia.



Desde que Morsi foi deposto, no último dia 3 de julho, os defensores da Irmandade Muçulmana têm sido duramente reprimidos. Mais de mil pessoas foram mortas em confrontos com o Exército e as autoridades prenderam cerca de 2.000 pessoas, inclusive vários dirigentes do movimento afeto a Morsi.

O gesto de Abdel Zaher está a ser comparado no Egipto à atitude de Xavi e Puyol na África do Sul, quando mostraram a bandeira da Catalunha depois da Espanha se ter sagrado campeã mundial de futebol em 2010. No entanto, neste caso não houve qualquer punição para os jogadores.