Darwin.

[Pausa para respirar]

A expulsão de Otamendi, a reviravolta do Rangers em 6 minutos, o desnorte completo durante quase todo o jogo, o terceiro dos escoceses na segunda parte. E a ameaça do quarto: uma, duas, três vezes.

Até que o uruguaio, lançado em campo à hora de jogo num dos contextos mais cruéis para um jogador, resgatou para o Benfica um ponto altamente improvável numa noite em que quase tudo correu mal para a equipa de Jorge Jesus a partir do minuto 19.

FILME, FICHA DE JOGO E VÍDEOS DOS GOLOS

Até essa altura, os encarnados pareciam confortáveis na partida. Não só pelo golo inaugural (autogolo de Goldson) a fechar o primeiro minuto, mas porque a equipa de Jorge Jesus até já tinha beneficiado de pelo menos uma boa oportunidade para dilatar a vantagem.

Mesmo com quatro alterações no onze e um ataque renovado, com Pizzi nas costas de Seferovic, a águia apresentava dinâmicas interessantes, mas o tal minuto 19 precipitou a queda do Benfica. A defesa encarnada falhou no controlo da profundidade e Otamendi acabou expulso após derrubar Ryan Kent.

Jesus reagiu de imediato e fez entrar Jardel para o lugar de Pizzi, mas quando ainda procurava a afinação ideal no setor mais recuado o Benfica já tinha encaixado dois golos: minuto 25 e 26. Primeiro por Diogo Gonçalves numa tentativa e alívio que acabou na própria baliza; depois por Kamara, que aproveitou o espaço concedido para disparar colocado de fora da área.

A expulsão de Otamendi é um pretexto demasiado fácil para explicar o desacerto total do Benfica em quase todo o jogo, até porque muitas vezes ficou a ideia de que a vantagem numérica do Rangers era superior a um homem. Para isso contribuíram os posicionamentos deficientes dos defesas encarnados, mas também as incursões constantes Tavernier e Barisic pelo corredor. O primeiro, escudado por um homem do meio-campo, teve via-rápida permanente para a área contrária, estendida ora por Everton, ora por Nuno Tavares, incapaz de servir de tampão ao lateral.

Ao intervalo, Jesus retocou a defesa, ao ponto de no reatamento já só sobrar Vertonghen do quarteto original. Com Gilberto e Grimaldo em campo, o rumo do jogo manteve-se.

O domínio do Rangers, capaz de chegar com muitos homens ao último terço, e o desnorte completo do Benfica.

Aos 51 minutos, Morelos ampliou para 3-1 e os visitantes ofereciam um banquete de bom futebol e de oportunidades. Ao 70m, o quarto por centímetros e a águia presa por arames.

Darwin.

[Nova pausa para respirar]

Por essa altura, o uruguaio, que Jesus anseia por poupar, mas já se viu que não pode, já estava em campo (assim como Waldschmidt, que tanto jeito também dá). Entrara ao minuto 60 para o lugar de Seferovic. Se o suíço é voluntarioso, Darwin é isso e muito mais: reúne técnica, força e raça.

Foi com um misto de tudo isso que fabricou o segundo do Benfica, que ofereceu a Rafa aos 76 minutos.

A desvantagem era de um golo, mas a distância que separava os encarnados de um golo parecia ainda ser gigante perante um Rangers que continuava a ameaçar o quarto golo negado por Vlachodimos com uma mancha a remate de Morelos nos minutos finais.

Ao cair do pano, a águia lá encontrou motivos para sorrir. Waldschmidt isolou Darwin – onde já se viu isto? – e o uruguaio atirou para um (improvável) empate com sabor a vitória em jeito de milagre.