Ah, como é bonito o amor!

Aquele a dar e receber sem esperar nada em troca. A partilha da felicidade nos momentos bons e a união quando as coisas correm menos bem.

Em dia de S. Valentim, o Benfica decidiu presentear os românticos da formação.

Esqueceu essa coisa volátil do materialismo e, numa competição que ainda vale encaixes financeiros relevantes, deu prioridade ao reforço da relação da formação com a equipa principal.

Depois de já ter deixado em terra Grimaldo, Pizzi e Jonas, Bruno Lage abdicou também de Rafa e Samaris – que têm sido titulares -  e apostou de início em seis jogadores made in Seixal. Dois deles, em estreia absoluta na Europa: Ferro e Florentino.

Mas além desses dois «reforços de inverno», ainda houve em campo Yuri Ribeiro, Rúben Dias, Gedson e João Félix.

Um amor como há muito não se via no clube, no fundo. E um amor correspondido no relvado, revelamos desde já.

Os miúdos retribuíram a confiança e foram eles a dar os presentes – golos, leia-se – na primeira vitória de sempre do Benfica na Turquia. E importante que ela pode ser para as águias voarem para os oitavos de final da Liga Europa.

O triunfo do Benfica começou a ser construído nos pés de Yuri Ribeiro, que até foi, de todos, aquele que falhou mais. Porém, não foi isso que aconteceu aos 26 minutos. O lateral esquerdo cruzou bem para a entrada de Salvio, Marcão, ex-Desp. Chaves, afastou com o braço, no entender do árbitro, que assinalou grande penalidade.

Nas imagens, ainda que não seja perfeitamente percetível, o desvio parece ser com o peito, mas isso foi algo que não incomodou Salvio. Da marca dos onze metros, o jogador argentino atirou muito colocado e deu vantagem que o Benfica levou para o intervalo.

No reinício do encontro, contudo, uma contrariedade. Salvio, que nesta noite se tornou o terceiro melhor marcador estrangeiro da história do Benfica nas competições europeias - só atrás de Cardozo e Isaías -, pediu a substituição logo nos primeiros instantes da segunda parte.

Avançou Gabriel para o campo, o que obrigou Gedson a deixar o miolo e passar a jogar mais sobre a direita.

O Benfica viveu então o período de maior desnorte na partida, permitindo que o Galatasaray fosse ameaçando. E das ameaças aos atos não passou muito tempo.

Aos 54m, Luyindama ficou na área depois de um lance de bola parada e surgiu nas costas de Yuri Ribeiro a cabecear para o golo um cruzamento de Nagatomo da esquerda.

Só que o golo despertou as águias. O Benfica voltou a estabilizar o seu jogo e a mostrar-se superior no inferno turco.

E voltou a ser um miúdo a evidênciar-se: Rúben Dias. O central que herdou a braçadeira de capitão após a saída de Salvio voltou a mostrar o crescimento que tem tido em passes longos, chamou a corrida de Seferovic nas costas da defesa turca e o suíço deu seguimento à época de sonho que tem tido.

Aproveitando a displicência com que Marcão abordou o lance, Seferovic ganhou no corpo a corpo e rematou ao ângulo, selando a vitória encarnada, na noite que marcou também a estreia europeia de Lage… outro produto da formação, é bom não esquecer.

Para a segunda mão, na Luz, o Benfica traz da Turquia uma vantagem que pode ser determinante e ainda a notícia de que Fernando será ausência nessa partida, uma vez que o médio ex-FC Porto viu um amarelo que o tira do jogo.

Resumindo: numa noite em que apostou na formação - a bandeira do clube nos últimos anos - o Benfica sai da Turquia com uma vitória histórica e excelentes perspetivas de seguir em frente na Liga Europa.

Não é bonito o amor? Os românticos da formação, com certeza, estarão felizes.