Rio Ave e Sp. Braga discutem a presença no Estádio do Jamor ao lado de FC Porto e Benfica. O clássico do futebol português vai concentrar as atenções de grande parte dos adeptos mas sobram motivos de interesse para acompanhar as incidências deste duelo no Estádio dos Arcos.

Será o quinto confronto da temporada entre vilacondenses e arsenalistas. Mais que FC Porto e Benfica, curiosamente. A balança pende para a equipa de Nuno Espírito Santo, com dois empates e duas vitórias, garantindo o inédito apuramento para a final da Taça da Liga. Na primeira mão, 0-0 no Estádio AXA.

Os homens de Vila do Conde podem escrever mais uma página de ouro no clube, regressando ao Jamor trinta anos após a única presença. Em 1984, um Rio Ave orientado por Félix Mourinho ultrapassou o V. Guimarães nas meias-finais – as imagens desse jogo foram mostradas ao plantel atual – mas caiu perante o FC Porto no encontro decisivo (4-1).



Sobra uma curiosidade no lançamento deste Rio Ave-Sp. Braga. Rui Casaca, atual coordenador técnico no clube arsenalista, foi titular dos vilacondenses nessa final da Taça de há três décadas.

A equipa dos Arcos procura o regresso ao Jamor e sabe que a simples presença pode garantir a concretização de mais um objetivo, já que do outro lado estará Benfica ou FC Porto: a participação na Liga Europa e, possivelmente, a disputa da próxima edição da Supertaça de Portugal.

«Quarta-feira temos um jogo muito importante para nós como equipa, para o clube, para a cidade e para os nossos adeptos. Será o jogo da época e das nossas vidas», admitiu o técnico Nuno Espírito Santo, acrescentando: «Temos uma oportunidade de ouro para fazer história, mas pelo crescimento do Rio Ave acredito que, se não conseguirmos, mais oportunidades vão surgir para o clube, técnicos e jogadores.»

Para Nuno Espírito Santo, curiosamente, esta será mais uma oportunidade. O antigo guarda-redes esteve em quatro finais da Taça e foi utilizado em três, sempre no FC Porto (ficou no banco durante a vitória frente à U. Leiria). Perdeu para Benfica e Sporting, acabando por levantar o troféu frente ao Paços de Ferreira, em 2009.

Os jogadores do Rio Ave, por outro lado, lutam por uma viagem inusitada ao Jamor. Tarantini deixou-se influenciar pela história e tomou uma decisão, secundado por Marcelo: não cortam a barba até chegar à final, para lembrar aqueles que o conseguiram em 1984.



A salvação na quinta final para os arsenalistas

Do outro lado estará um Sp. Braga sem grandes motivos para sorrir. O quinto lugar está a seis pontos e a Taça de Portugal pode ser a salvação para uma equipa que se habituou a andar pelas competições europeias.

O Rio Ave já desfez o sonho de revalidação do título na Taça da Liga (ganha ao FC Porto na época passada) mas o Jamor oferece abre melhores perspetivas desportivas para os intervenientes. Jorge Paixão quer deixar a sua marca e seguir em frente, contornando o empate verificado na primeira mão das meias-finais.

«Em termos matemáticos ainda podemos chegar ao quinto lugar, mas sabemos que é difícil. Quarta-feira é o jogo da nossa vida. Vamos colocar tudo, vamos deixar tudo em campo. É um jogo que nos levará à Europa, mas que também nos levará à final da Taça de Portugal, um sonho de qualquer um, e que pode ainda, depois, garantir-nos a presença na Supertaça», disse o técnico no domingo. Na véspera da deslocação ao Rio Ave não foi realizada a habitual conferência de imprensa.

O Sp. Braga procura a quinta presença numa final da Taça de Portugal. Em quatro tentativas, a última das quais há dezasseis anos, conquistou apenas por uma vez o troféu.

A 22 de maio de 1966, Miguel Perrichon marcou o tento solitário frente ao V. Guimarães e garantiu o título para os arsenalistas. Recentemente, desde o México, o antigo jogador falou com o Maisfutebol sobre esse dia histórico no Jamor.

«Foi um dia inesquecível. Lembro-me que o V. Setúbal nos tinha ganho por muitos no campeonato. Repito, naquela altura o Braga era uma equipa pequena. Mas conseguiu ganhar esse jogo e é um imenso orgulho para mim estar na história do Sp. Braga. Nem imagina. Quero saudar todos os bracarenses, tenho muitos amigos aí», frisou o septuagenário.



O papel de Jorge Mendes e a tensão pouco habitual

No meio desta história surge o nome de Jorge Mendes. Não que o super-agente português tenha ligação direta com o jogo das meias-finais da Taça de Portugal mas a sua influência nos dois clubes é notória.

Curiosamente, sem haver dados que apontem para uma relação causa-efeito, a crescente aproximação da Gestifute ao Rio Ave surge a par de um afastamento entre a empresa de representação de jogadores e o Sp. Braga.

Nuno Espírito Santo foi o protagonista de uma das primeiras grandes transferências de Jorge Mendes e a ligação manteve-se até aos dias de hoje. O treinador representado pela Gestifute chegou a Vila de Conde e, na presente temporada, conta com elementos como Roderick, Rodriguez, Tiago Pinto ou Ukra. Diego Lopes e Júlio Alves também pertencem ao universo de Jorge Mendes, assim como Filipe Augusto.

Fabinho é outro exemplo. O jovem lateral brasileiro assinou pelo Rio Ave com a intermediação de Jorge Mendes mas nunca jogou pelos vilacondenses, seguindo para Real Madrid e AS Mónaco.

Esta, de qualquer forma, é uma questão paralela na análise à relação dos dois clubes. O Sp. Braga costuma ter uma ligação estreita com o Rio Ave e cedeu vários jogadores por empréstimo ao longo dos últimos anos. Pedro Santos e Kritciuk rumaram a Vila do Conde nessa condição.

Porém, o ambiente em torno deste encontro não é o mais sereno. A meia-final da Taça da Liga abriu espaço para controvérsias. Na Taça, após o jogo da primeira mão, Jorge Paixão garantiu ter sido ofendido por Miguel Ribeiro, diretor-geral do Rio Ave.

«Não provoco ninguém, mas tenho de lamentar que o diretor-geral do Rio Ave me tenha ofendido várias vezes durante e no final do jogo. O Rio Ave tem uma grande equipa, é uma instituição com muita história e mérito, não precisa que os seus funcionários ofendam e não respeitem os adversários», disse o técnico arsenalista.

Nuno Espírito Santo seguiu outra direção: «Quem teve a coragem de vir a público manifestar a indignação em outras ocasiões, também devia assumir e dar a cara quando é beneficiado. Incomodou-me, no final, ver o Rúben Micael, que julgo que jogou comigo no FC Porto, dirigir-se ao Rio Ave usando a expressão ‘eles’. Não gosto de responder a essas declarações, mas seria bom que todos tivessem mais respeito por uma instituição com história como é o Rio Ave.»

Será muito mais que um mero jogo de palavras. O Rio Ave cedeu apenas 900 bilhetes ao Sp. Braga e patrocinadores do clube distribuíram os restantes pela população de Vila do Conde, procurando encher o Estádio dos Arcos. Afinal, este é o jogo de uma vida.