Há várias formas de medir o sucesso de Sebastian Vettel, mas há uma que é sintomática. Ayrton Senna foi campeão do mundo pela primeira vez com 28 anos. Vettel tem 26 e já leva quatro títulos.

Não é difícil perceber, portanto, que se nada de errado acontecer, o alemão que colocou a pequena cidade de Heppenheim no mapa da Fórmula 1, caminha (ou melhor, acelera...) para bater todos os recordes.

Para já, deixou para trás nomes incontornáveis na contagem de títulos. Ayrton Senna, Niki Lauda, Nelson Piquet... Igualou Alain Prost e está a um de Juan Manuel Fangio. A fasquia mais elevada ainda é Michael Schumacher, com os seus sete campeonatos.

Mas a vitória na temporada de 2013 já o coloca, contudo, ao nível de Fangio e Schumacher, que um dia, tinha Vettel nove anos, lhe entregou um título numa corrida de karts na Alemanha. Os três ganharam quatro títulos seguidos (Schumacher chegou aos cinco). Mais ninguém fez igual.

A vitória na Índia coloca um ponto final na questão do título, mas não fecha o livro dos recordes para Vettel. Afinal, está a apenas um triunfo de igualar o seu melhor registo de sempre: 11 vitórias numa época, em 2011. E se vencer as três corridas que faltam (alguém duvida que é capaz?) iguala o recorde absoluto: em 2004, Michael Schumacher venceu treze corridas.

Da polémica na Malásia aos rebentamentos em Silverstone

O quarto título da série de Sebastian Vettel passou a ser uma realidade muito forte a partir do momento em que a Fórmula 1 deixou a Europa.

Se no ano passado, por aquela altura, Vettel estava 54 pontos atrás de Fernando Alonso e ainda chegou ao tri, o que iria acontecer com o piloto da Red Bull destacadíssimo na frente antes de chegar à fase que lhe é, tradicionalmente, mais favorável? Só podia dar tetra. E deu.

A época até começou de forma conturbada, com toda a polémica do Grande Prémio da Malásia, a segunda prova do campeonato. Para quem não se lembra, Mark Webber estava na frente de Sebastian Vettel já na reta final da corrida. A Red Bull deu ordens diretas aos dois para não competirem e levarem os carros até ao final nas mesmas posições.

Webber obedeceu e desarmou. Vettel quis mais, atacou o companheiro de equipa, passou-o e ganhou a corrida. A atitude do alemão gerou enorme confusão. Webber ameaçou deixar a Fórmula 1, o público que procurava um motivo para não gostar do piloto de maior sucesso da atualidade encontrou-o. Oferecido pelo próprio.

Nesse início de época, tudo parecia, de resto, bem mais equilibrado. Kimi Raikkonen (Lotus) tinha ganho a primeira corrida, na Austrália. Fernando Alonso (Ferrari) venceu a seguinte, na China. É verdade que no Bahrain Vettel voltou a vencer, mas Alonso fez o mesmo em Espanha e no Mónaco foi Nico Rosberg (Mercedes) a triunfar.

Era um domínio repartido, mas com uma constante: ao contrário dos rivais, quando não ganhava, Vettel fazia bons resultados. Quarto na China e em Espanha; terceiro na Austrália e Hungria; segundo no Mónaco.

Adivinhava-se, ainda assim, nova temporada competitiva depois da disputa metro a metro, até ao Brasil, em 2012. Tanto mais que os pneus Pirelli davam enormes dores de cabeça à Red Bull por desgastarem demasiado rápido.

Quando contornava o problema, Vettel vencia. E fazia-o, inclusive, onde nunca o haveria feito. Ganhou no Canadá e na Alemanha natal, inscrevendo pela primeira vez o seu nome na lista de vencedores daqueles Grandes Prémios.

Pelo meio, a corrida que mudou toda a face da temporada: Silverstone.

O Grande Prémio da Grã-Bretanha ficou marcado por vários rebentamentos de pneus. Pilotos furiosos, equipas de mãos na cabeça e organização a ter de tomar medidas. A Pirelli foi obrigada a voltar aos compostos de 2012, alegando questões de segurança. Solução sensata para uns. Traição e favorecimento à Red Bull para outros.

A verdade é que equipas como a Lotus e a Ferrari acabaram por perder ritmo com a mudança. A Lotus chegou mesmo a dizer que a competição tinha sido ferida com a troca, porque o carro tinha sido projetado a pensar precisamente no excessivo desgaste dos pneus. E de nada lhes iria valer dali para a frente.

Vettel, esse, ficou indiferente e embalou. 

Os assobios e o passeio asiático até ao título

Após a pausa de verão ganhou todas as corridas! Já são seis. Venceu na Bélgica e em Itália, na casa da Ferrari, onde foi assobiado no pódio. Já antes, quando teve o único abandono da época, em Silverstone, devido a problemas mecânicos, o público tinha festejado.

Em Singapura ganha outra vez e é novamente assobiado. Mantém-se indiferente. E vai passeando na Ásia. Coreia do Sul, Japão e agora Índia. Tudo pintado a Vettel. Tudo pintado a Red Bull.

O futuro é uma incógnita. Com a anunciada revolução nas normas da Fórmula 1 para 2014, as equipas parecem partir todas do zero.

Ainda assim, e numa altura em que se discute muito sobre quem foram, afinal, os melhores de sempre da Fórmula 1, Vettel já ganhou direito ao seu lugar no panteão dos imortais do desporto motorizado. Como Ayrton Senna, Michael Schumacher, Sebastien Loeb ou Valentino Rossi.

E, alargando a questão ao desporto em geral, vão ter mesmo de arranjar uma vaga junto a Maradona, Pelé, Federer, Michael Jordan ou Usain Bolt para o menino de Heppenheim que, questionado por um jornalista sobre se o primeiro título na F1 tinha sido o dia mais feliz da sua vida, respondeu assim: «Diz isso porque não esteve comigo quando perdi a virgindade».

Classificação final do Grande Prémio da Índia:

1. Sebastian Vettel (Red Bull)
2. Nico Rosberg (Mercedes)
3. Romain Grosjean (Lotus)
4. Felipe Massa (Ferrari)
5. Sergio Pérez (McLaren)
6. Lewis Hamilton (Mercedes)
7. Kimi Raikkonen (Lotus)
8. Paul di Resta (Force India)
9. Adrian Sutil (Force India)
10. Daniel Ricciardo (Toro Rosso)
11. Fernando Alonso (Ferrari)
12. Pastor Maldonado (Williams)
13. Jean-Eric Vergne (Toro Rosso)
14. Jenson Button (McLaren)
15. Esteban Gutierrez (Sauber)
16. Valtteri Bottas (Williams)
17. Max Chilton (Marrusia)
18. Jules Bianchi (Marussia)

Abandonos:
Nico Hulkenberg (Sauber)
Mark Webber (Red Bull)
Charles Pic (Caterham)
Giedo Van der Garde (Caterham)

Classificação do Mundial de pilotos:

1. Sebastian Vettel, 322 pontos
2. Fernando Alonso, 207
3. Kimi Raikkonen, 183
4. Lewis Hamilton, 159
5. Mark Webber, 148
6. Nico Rosberg, 144
7. Felipe Massa, 102
8. Romain Grosjean, 102
9. Jenson Button, 60
10. Nico Hulkenberg, 49
11. Paul di Resta, 40
12. Sergio Perez, 33
13. Adrian Sutil, 28
14. Daniel Ricciardo, 19
15. Jean-Eric Vergne, 13
16. Esteban Gutierrez, 6
17. Pastor Maldonado, 1

Classificação do Mundial de Construtores:

1. Red Bull, 470 pontos
2. Ferrari, 309
3. Mercedes, 303
4. Lotus, 285
5. McLaren, 93
6. Force India, 68
7. Sauber, 55
8. Toro Rosso, 32
9. Williams, 1