Como se constrói uma equipa vencedora? Esta é a pergunta de um milhão de euros que toda a gente quer ver respondida, mas tão pouca gente pode responder.

Ora, no Soccerex, em Oeiras, juntaram-se dois históricos médios do futebol europeu que têm a resposta na ponta da língua: Deco e Marcos Senna.

O primeiro dispensa apresentações. Internacional por Portugal 75 vezes, foi a estrela maior do FC Porto de José Mourinho que conquistou a Champions em 2004 e prosseguiu depois a carreira em clubes como o Barcelona e Chelsea.

O segundo é um dos homens que começou a hegemonia espanhola no futebol mundial – dois europeus e um Mundial em quatro anos – e marcou uma geração no Villarreal, uma das maiores equipas de Espanha.

Numa conversa aberta, os dois médios revelaram os ingredientes para se construir uma equipa que consiga alcançar o que mais se deseja no futebol: títulos.

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Para Senna, por exemplo, a disciplina é um dos fatores mais importantes, mas Deco assume que tem de haver uma vontade extra de vencer.

«Acredito que há uma coisa que os grandes jogadores têm: a vontade de vencer de verdade e não aceitar a derrota. Isso começa no dia-a-dia e depois reflete-se no jogo. No final, esse contributo individual de cada um é que vai construir uma equipa vencedora», defendeu o antigo médio portista.

Senna lembra até esse detalhe para justificar a vitória da Espanha no Euro 2008, depois de muitos anos sem qualquer título conquistado: «A Espanha sempre teve talento, mas a mudança fundamental em 2008 foi a mentalidade. Mas nesse ano o mister Luis Aragonés conseguiu transmitir-nos essa mentalidade. Dando um exemplo, quando jogámos com a Itália muitos pensavam que não íamos passar porque já tínhamos sido eliminados por eles muitas vezes, mas a mentalidade já era outra. E a partir daí ganhámos o Euro, o Mundial e depois Euro novamente. Foi a mentalidade que mudou.»

Como já foi referido, Deco fez parte da geração do FC Porto que venceu a Liga dos Campeões em 2004, além da Taça UEFA um ano antes, e explica o que aconteceu para os dragões conseguirem ter tanto sucesso na Europa.

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«No FC Porto tivemos uma geração que não é fácil de encontrar. Os grandes jogadores ficaram no clube durante algum tempo e depois tínhamos um treinador com uma mentalidade vencedora absurda [José Mourinho]. Tínhamos uma grande equipa, mas tínhamos acima de tudo um treinador revolucionário naquele momento. Foi um privilégio ser treinador pelo Mourinho, foi fantástico.»

Como se gere uma «vedeta» num plantel?

Por detrás de uma grande conquista está, naturalmente, uma grande equipa. E por detrás de uma grande equipa está, muitas vezes, uma estrela que brilha mais do que as outras.

Ronaldo, por exemplo, assumiu especial preponderância na sua estadia em Madrid que culminou com quatro Champions League no bolso; Messi, o outro astro dos nossos tempos, é a bandeira de um Barcelona que encanta os adeptos de futebol há mais de uma década.

Mas, afinal, como se gere a presença de um jogador desta dimensão num plantel?

«Esse tratamento especial de um determinado jogador é da imprensa, no nosso dia-a-dia não acontece. Eu não me importava quem marcava golos, queria era ganhar. Se tivéssemos de fazer um sacrifícios para que esse jogador pudesse brilhar mais e ajudar-nos a vencer, fazíamos. Quando se tem jogadores desse nível é burrice não fazermos sacrifícios [para eles brilharem]», explicou Deco.

Senna assina por baixo as palavras do antigo jogador luso: «Nós, independentemente de quem seja a figura, queremos ganhar. Se tiver de dar um pique [de corrida] para outro resolver, não tem problema. Tem é de se saber gerir bem.»