«A ruptura dos laços com os pais afectivos, de forma permanente, mesmo que não abrupta, é um factor causal de doença mental e a entrega ao pai biológico potenciará a patologia da relação pais/criança, criando as condições essenciais a curto-prazo para a instalação duma perturbação de stress pós-traumático», pode ler-se no relatório da equipa que tem acompanhado a menor e que data de terça-feira.
Numa reacção à decisão do Tribunal da Relação de Coimbra que ordena a entrega da menor ao pai até final do ano, os médicos que têm acompanhado a menina criticam o acórdão judicial, que vem contrariar aquilo que entendem ser o melhor para a criança.
«Esta é a principal razão pela qual não nos poderemos co-responsabilizar antecipadamente por aquilo que entendemos ser completamente errado», refere o relatório, que aponta também riscos de «desenvolvimento de uma perturbação da personalidade».
Técnicos elogiam casal
«Os adolescentes submetidos a anteriores separações graves apresentam um padrão de relacionamento instável com actos impulsivos tais como a auto-mutilação e tentativas de suicídio», recordam os médicos, considerando que Esmeralda Porto «não deve ser orientada nem coagida a fazer novas escolhas afectivas que a irão desorganizar e desestabilizar emocionalmente».
No passado, o departamento já havia pedido um maior espaçamento dos contactos com os progenitores, visando regular a «perturbação da ansiedade» que a menor sofria, evitar o «desenvolvimento de qualquer trauma psicológico inerente à aceitação de Baltazar e Aidida (figuras que praticamente desconhecia)» e «prepará-la para o estabelecimento de elos afectivos e relacionais com os pais biológicos».
No entanto, essa aproximação não implicaria a «perda das vinculações ao casal que a criou», já que Luís Gomes e Adelina Lagarto «fazem e farão, inevitavelmente, parte da sua vida, do seu imaginário e da sua identidade como pessoa, independentemente de qualquer decisão jurídica».
Elogiando o comportamento do casal, que preparou «diariamente a menina para um convívio saudável com os pais biológicos», os médicos salientam que criança se encontra «clinicamente bem», mas a decisão judicial vem prejudicar o trabalho realizado ao longo de nove meses.
Instituto de Reinserção Social acusa casal de instrumentalizar a menor
Ao longo deste processo, os pareceres dos técnicos não têm sido coincidentes e o Instituto de Reinserção Social (IRS) de Tomar tem emitido posições que contrariam algumas das questões levantadas pelo Centro Hospitalar de Coimbra.
Num dos seis últimos relatórios, a técnica do IRS Florbela Paulo acusa o casal de não colaborar com os serviços e de promover uma «clara instrumentalização desta criança», o que não salvaguarda a sua «integridade psíquica».
Na visita do pai biológico, a menor mostrou-se inicialmente um pouco mais introvertida, mas acabou por ter uma «interacção muito positiva», tendo brincado «em conjunto e registou-se contacto físico entre ambos», refere a técnica do IRS.
Nas conclusões deste relatório, Florbela Paulo considera que a postura do casal poderá «condicionar de forma constrangedora o processo de acompanhamento das visitas a desenvolver e eventualmente repercutir-se na estabilidade da criança».
RELACIONADOS
Pais de afecto vão entregar Esmeralda
Esmeralda: «A maior prova de amor»
Esmeralda: pai procura escola para a filha
Esmeralda: «Como vou explicar?»
Esmeralda fica «prejudicada»
Entregue ao pai no dia de Natal
Esmeralda não será entregue ao pai de imediato
Esmeralda: «Hoje estive com ela»
Esmeralda pode ser internada
Esmeralda: sargento libertado
Sargento vai continuar preso
Mãe adoptiva pode perder direitos