Antonio Adán fez um balanço bastante positivo do tempo que passou no Sporting e que agora está a acabar. Em entrevista à Sporting TV, o guarda-redes espanhol, que vai prosseguir a carreira de futebolista, confessou que vai deixar Alvalade com «uma felicidade enorme», por encerrar um capítulo que «foi uma experiência espetacular».

Adán destacou ainda os valores que encontrou nos leões. «O respeito pelo jogador, sobretudo pelo jogador que vem de fora. Como de repente nos envolvem com o seu carinho. Acho que a união entre os adeptos e nós foi muito importante, o amor incondicional a este clube. Mesmo nos momentos piores, eles estiveram sempre do nosso lado. E fico com isso, com esse amor incondicional, apesar de virem de uma trajetória de poucos títulos. O carinho e a união que sempre houve com este plantel.»

«No primeiro ano, mesmo sem adeptos nas bancadas, quando ninguém acreditava em nós, um projeto praticamente novo com a chegada do míster, em que ninguém acreditava na quantidade de jogos que ganhávamos nos minutos finais. Nesse primeiro ano já deu para perceber esses valores, que é a luta até o fim, o orgulho e deixar tudo no campo para conseguir a vitória. Acho que nesse ano já deu para perceber tudo o que este clube nos ia dar nos próximos três anos», assumiu.

O guardião de 37 anos considerou que viveu no Sporting «o período mais bem-sucedido da carreira».

«Apesar de ter passado por grandes clubes e conquistado alguns títulos, a importância e os títulos que ganhei aqui, não os ganhei em nenhum outro lugar. Por isso, vai ser inesquecível para mim. E depois, a nível pessoal, tenho um filho que é português e isso também vai ser para sempre. São muitos momentos bons no clube, na cidade, e obviamente também somos um país vizinho, e voltarei muitas vezes», garantiu, tendo também destacado a importância da união do balneário.

«Apesar de ter partilhado o balneário com jogadores historicamente muito importantes em grandes clubes, acho que este balneário foi especial durante quatro anos», revelou.

Adán também recordou o momento em que chegou ao Sporting, em 2020, já a par da grandeza dos leões. «A quantidade de adeptos que move, tanto em Portugal como na Europa, acho que só poucos clubes conseguem isso, e o Sporting é um deles. Eu tinha essa noção do que era o clube que vinha a representar, mas é verdade que não tinha a noção de que íamos conseguir tanto como conseguimos durante estes quatro anos. Sabia que íamos lutar, que o clube estava com um projeto novo, que era para crescer, para voltar a unir o plantel com os adeptos e, pouco a pouco, durante estes quatro anos, foi muito melhor do que eu esperava.»

O espanhol confessou sentir-se honrado por «estar entre tantos nomes importantes da história», do Sporting. Adán também reconheceu que cometeu erros durante estas quatro épocas e lembrou o jogo em Marselha.

«Eu acho que nenhum jogo, por muito importante que seja para tudo, é decisivo para a carreira continuar. É certo que aquele jogo em Marselha foi catastrófico, mas os três anteriores na Champions foram muito bons. Isso muda de um dia para o outro. A seguir, jogámos contra o Santa Clara e fui o homem do jogo. A experiência ensina-te que não é um jogo em particular, se cometes um erro, ou estás mal, que vai mudar vai mudar o futuro da tua carreira. O que acho que te ajuda a crescer cada dia é o trabalho, a consistência, cuidar-te, trabalhar todos os dias, e assim estás mais perto de que as coisas corram bem, apesar de que há dias em que correm mal», frisou.

Adán reservou elogios para Ruben Amorim e destacou que o treinador do Sporting foi o grande obreiro dos títulos que conquistou nos leões. «É uma pessoa muito inteligente para o mundo do futebol. Sabe gerir o balneário na perfeição. Sabe gerir os seus próprios colegas de equipa técnica. E é uma voz com uma mensagem muito clara, tanto para dentro como para fora do clube. E com uma força mental também espetacular para os poucos anos que leva no futebol como treinador. Ao nível pessoal, foi uma relação espetacular com ele, de confiança. Acho que é um treinador espetacular e que vai continuar a dar vitórias ao Sporting.»

«A primeira mensagem do míster foi: “ou ganho títulos ou vou embora”»

Recordando a época 2020/21, o espanhol salientou a importância das vitórias conquistadas nos últimos minutos, assim como a frase de Amorim na apresentação.

«Essa frase gerou uma ilusão enorme em todos. E por que não, por que não tentar? Estamos aqui, somos 11 para 11, estamos a representar um clube enorme, estamos todos juntos nisso. Nos momentos mais difíceis… eu lembro-me de ir para o Nacional, caiu uma chuva tremenda e tivemos de esperar pelo dia seguinte para jogar. E a união, e sobretudo que se vivia depois do jogo.... Ganhas um e já só queres jogar o próximo e estávamos com a confiança de que ia ser assim», recordou.

Já a presente temporada, foi de tudo ou nada. «A primeira mensagem do míster foi: “ou ganho títulos ou vou embora”. Chegamos à pré-época e a mensagem era igual: “no ano passado fizemos uma temporada má, ou este ano voltamos a ser campeões, ou todos nós que estamos aqui temos de sair do clube, porque não merecemos estar aqui”. O clube não podia passar mais anos sem ganhar um campeonato. Foi dia a dia, jornada a jornada, que se foi criando o espírito de “somos muito bons e temos de conquistar outro título”.»

«Durante estes quatro anos, foi difícil encontrar uma equipa em que tivéssemos perdido um jogo e que a equipa rival fosse muito superior a nós. Tínhamos sempre a perceção de que perdemos o jogo por uma coisa ou outra, mas nunca porque o rival fosse muito superior, sobretudo no campeonato», acrescentou.

Adán também recordou os festejos do título no Marquês e explicou o motivo para ter subido um andaime.

«É uma coisa inacreditável. O jogo do Benfica era às 20h30 e estávamos um pouco na dúvida porque as pessoas só deviam ir para a rua quase à meia-noite, sendo que no dia seguinte tinham de ir trabalhar. Não esperávamos um ambiente daqueles. Quando chegámos ao Marquês e subi aos andaimes só tinha uma preocupação: ficar com aquela imagem da praça cheia de gente», contou.

O experiente jogador espanhol confessou que vai ter saudades da «família» que tinha no balneário, mas garantiu que vai seguir «com muita atenção o que acontece no Sporting».

«Tive a possibilidade de chegar a este clube antes e, na altura, senti que não era o momento. Desta vez sim, senti porque estava convencido de que este projeto, este clube e o momento em que chegava aqui nos iria dar muitas alegrias tanto a mim como à minha família. E foi assim. O que disse no último dia na despedida do clube, que pedia aos adeptos que não deixassem cair este clube. O que pedia era que continuassem com a união que têm hoje com este plantel, com esta equipa, com este corpo técnico. Mesmo nos momentos piores, mostraram uma união e uma força espetacular», concluiu.