Por muito que seja lógico ouvir, da parte da Seleção Nacional, que a Suécia não é só Ibrahimovic, a verdade é que a dependência da equipa escandinava relativamente ao avançado do PSG é indisfarçável. E maior do que a dependência de Portugal em relação a Cristiano Ronaldo, seguramente. É que a equipa das quinas ainda tem jogadores como Nani, João Moutinho ou Pepe, por exemplo, e na Suécia é difícil encontrar jogadores deste patamar.

Importa depois derrubar uma ideia errada a propósito deste adversário do «playoff» de apuramento para o Mundial2014: os suecos não são nenhuns «papões» no jogo aéreo. A média de estatura será maior, é certo, mas essa não é uma vertente em que sejam muito fortes.

Também neste aspeto a principal ameaça é Zlatan Ibrahimovic. É que a Suécia aposta muito no futebol direto, e quase sempre à procura da sua estrela, com bolas colocadas sobretudo na «posição 10». O jogador do PSG tem depois aquela notável capacidade para segurar a bola, no peito, no pé ou com a cabeça, e depois criar desequilíbrios no último terço. «Ibracadabra», espera-se magia.

O «onze base» e as principais alternativas»

A estrela sueca gosta também de «esconder-se» entre linhas, à espera de receber a bola pelo chão, mas este movimento tão típico nele é menos visível na seleção do que no PSG (o Benfica que o diga), dada a menor qualidade coletiva na circulação de bola. Na equipa nacional faz isso com maior frequência na segunda parte, quando há mais espaço.

Em organização ofensiva, Ibrahimovic funciona então como um segundo avançado, ficando Elmander ligeiramente mais adiantado. Mas quando se trata de defender, o jogador do PSG fica mais na frente e é o jogador do Norwich que se sacrifica, recuando ligeiramente.

Juntar as tropas para esconder os defeitos

A Suécia joga habitualmente em 4x4x2. A seleção orientada por Erik Hamrén aposta muito na coesão, na formação de um bloco unido quando está em organização defensiva, e sempre que possível obrigando o adversário a fazer jogo direto.

É a forma de «esconder» as limitações do quarteto mais recuado, que nos últimos jogos tem sido formado por Lustig-Nilsson-Antonsson-Martin Olsson. A equipa procura concentrar-se num curto espaço, numa zona intermédia do seu meio-campo defensivo, e para isso a defesa apresenta-se ligeiramente adiantada em relação à linha de grande área, que muitas vezes funciona como uma referência posicional. Esse espaço nas costas pode ser aproveitado por Portugal, tendo em conta a falta de velocidade e de mobilidade da defesa sueca (com exceção, talvez, ao lateral esquerdo Martin Olsson). Ou então apostar numa boa circulação de bola que permita passar rapidamente de um flanco para o outro, já que os suecos se concentram muito na zona central.

Os pontos fortes, os pontos fracos e a estrela

Esta aposta num bloco coeso procura também disfarçar as fraquezas de um meio-campo em linha, mas quando não há possibilidade de o formar de forma tão eficaz aparece um espaço entre linhas (entre a defesa e o meio-campo) que também pode ser explorado, perante a ausência de um típico «6» na seleção sueca. Isto apesar de Larsson, o médio direito, funcionar muitas vezes como terceira unidade na zona central, junto de Elm e Kallstrom (ou Svensson).

Ibrahimovic não é só servido, também sabe servir

Em organização ofensiva a Suécia aposta muito no futebol direto, conforme já referido. Os médios não pegam no jogo em zonas recuadas, pelo que a primeira fase de construção passa sobretudo pelos centrais, limitados tecnicamente, que cometem muitos erros (dois dos golos da Alemanha, na última jornada, surgiram de bolas perdidas em zona proibida). A opção passa quase sempre por um pontapé longo para a «posição 10», onde aparece Ibrahimovic.

A estrela sueca é tão perigosa a marcar quanto no último passe (seis golos e cinco assistências na fase de qualificação), e é preciso ter isso em conta. Pensar que «Ibrahimovic não joga sozinho, precisa de ser assistido e servido», como disse Bruno Alves, é olhar apenas para metade do problema. O avançado não será apenas uma responsabilidade dos centrais. William Carvalho pode ser importante, neste aspeto,  como assume o selecionador.

E embora os médios não recuem muito para pegar no jogo, é preciso ter muita atenção com Kallstrom, um jogador fortíssimo nos passes de rutura, que não pode ter tempo para pensar.

O jogador do Spartak é, também, o médio com melhor capacidade para ganhar bolas no ar, mas os colegas de setor não são muito fortes nesse aspeto, pelo que a equipa das quinas tem todas as condições para discutir os lances aéreos nesta zona.

Bolas paradas? Nem um golo de cabeça!

A Suécia não é, de facto, uma equipa temível pelo ar. Embora seja preciso ter em conta que o grupo de qualificação incluía equipas também com forte presença física (Alemanha, Irlanda e a própria Áustria), note-se também que a equipa de Erik Hamrén apontou apenas um golo de bola parada na fase de qualificação. O último curiosamente, e com o pé!! Larsson cobrou um livre rapidamente e Hysen, que falha este «playoff» por lesão, apareceu solto na área e finalizou de primeira, com a defesa alemã a distraída.

Golos sofridos de bola parada foram três, mas nenhum de cabeça, o que mostra que a Suécia, embora não seja muito forte no ar, também não é vulnerável. Refira-se, ainda assim, que os centrais sentem algumas dificuldades perante cruzamentos para o espaço entre eles e o guarda-redes.

Não seria muito surpreendente se Portugal marcasse de bola parada à Suécia. De canto, por exemplo, situação em que Hamrén aposta numa defesa mista: três ou quatro unidades ocupam uma posição específica, em linha, no limite da pequena área, e os restantes fazem marcação individual. Ibrahimovic costuma ficar ao primeiro poste, a tentar cortar o lance logo ali.

Em termos defensivos referência ainda aos livres diretos, com Ibrahimovic e Kallstrom como ameaças. A estrela sueca aposta sobretudo em remates em força ao lado da barreira, para a zona do guarda-redes. O médio do Spartak tem outra variedade de opções com o pé esquerdo.