Alta tensão, intensidade, incerteza até ao fim. O dérbi eterno esteve à altura da sua história centenária. Teve duas grandes equipas que mereciam a final da Taça, mas foi o Sporting a garantir o lugar no Jamor numa das poucas noites nesta época em que teve pela frente um adversário que lhe foi superior.

Na noite que valia uma final, Roger Schmidt abdicou do inconsequente ataque móvel do jogo da primeira mão, enquanto Ruben Amorim deixou de fora habituais titulares como Geny Catamo e Hidemasa Morita.

Em desvantagem na eliminatória, cabia às águias procurarem com mais vigor a baliza contrária. Depois de dez minutos iniciais de alternância de domínio, o Benfica encostou no Sporting. Florentino acumulava recuperações de bola e engolia, juntamente com João Neves, a dupla Hjulmand/Bragança, mas não foi só no meio-campo que os leões foram uma sombra de si mesmos nos primeiros 45 minutos.

Na defesa, Diomande comprometeu várias vezes e muitas das dificuldades que o Sporting teve à frente nasceram mesmo da primeira fase de construção; no ataque, Paulinho pouco acrescentava e Gyökeres era poucas vezes acionado pelos companheiros.

Rafa, Tengstedt, Di María. Um remate ao lado, outro à barra e outro a encontrar o caminho de Franco Israel. O Benfica da primeira parte fez aos leões o que estes tinham feito às águias no jogo de Alvalade. Agressividade nos duelos, pressão alta a funcionar e capacidade para isolar cada setor do terreno do adversário e impedi-lo de ser o que tem mostrado ser em 2023/24: a melhor equipa portuguesa.

Nos minutos que antecederam o intervalo, a pressão dos encarnados já não era tão acentuada, mas o Sporting continuava longe da clarividência e agilidade habituais.

Ruben Amorim podia ter-se agarrado à boa notícia que o apito de João Pinheiro para o descanso lhe dava: a da vantagem na eliminatória. Só que o treinador do Sporting, que prometera na véspera que não ia à Luz para defender o 2-1 de Alvalade mas foi forçado a fazê-lo como em poucas ocasiões nesta temporada, terá sentido que muito do que acontecera era responsabilidade da sua equipa e regressou para a segunda parte com três alterações.

Diomande, Nuno Santos e Ricardo Esgaio foram rendidos por St. Juste, Matheus Reis e Geny Catamo. Pela diferença de atitude e também pela acutilância ofensiva que Geny (bem pior no plano defensivo) introduziu, as melhorias foram imediatas e aos 47 minutos Hjulmand, de meia-distância, dobrou a vantagem leonina na eliminatória.

O Benfica reagiu à altura ao golo sofrido. Tengstedt foi travado perto da área quando se preparava para encarar Franco Israel e, a seguir, Otamendi empatou o dérbi ao segundo poste a cruzamento de Neres.

Na Luz ainda ecoavam os gritos do golo quando Paulinho aproveitou uma defesa incompleta de Trubin para finalizar para nova vantagem dos leões.

Os 20 minutos iniciais da segunda parte do dérbi foram de absoluta loucura. No fundo, foram o que transtorna qualquer treinador, mas que apaixona o comum adepto. Nessa altura, ao contrário do que acontecera nos primeiros 45 minutos, era o Benfica quem tinha mais bola e o Sporting quem procurava a letalidade das transições rápidas.

Numa delas, Gyökeres acertou na parte exterior do poste esquerdo; no minuto seguinte, Rafa finalizou para o 2-2 que deixou novamente tudo em aberto.

Depois disso, o domínio territorial do Benfica acentuou-se, mas os leões conseguiam, durante algum tempo, responder a cada investida das águias. Di María de um lado, Paulinho do outro. Israel a segurar a vantagem na eliminatória, Trubin a mantê-la viva.

O Benfica-Sporting, que merecia mais meia-hora não só porque tudo o que é bom merece ser prolongado, mas também porque a superioridade das águias a justificava, terminou com a equipa de Ruben Amorim a jogar com o relógio e teve até Trubin na área contrária.

O conjunto de Roger Schmidt, que acabou por colher as consequências fatais do mau jogo da primeira mão e de nunca ter estado na frente deste jogo na Luz, terminou a noite encostado à área do Sporting, mas o que faltou à equipa de Ruben Amorim no único dérbi da época em que terá sido inferior ao eterno rival, teve de sobra em capacidade de sofrimento.

E as finais também se alcançam assim.

Ao Benfica fica o consolo e a segurança de saber que, com as peças certas nos lugares adequados, é capaz de competir com aquele que é aos dias de hoje o seu maior rival. E isso, a escassos dias de um duelo potencialmente decisivo nas contas do título, não é irrelevante.

Que dérbi! Façam o favor de repetir no próximo sábado, meus senhores.