Surpresa embrulhada em requintes de malvadez. Traiçoeira, atordoante. Oito jogos sem vencer deixaram a Académica num estado de alerta máximo. Ávidos de pontos, em risco de sobrevivência, os de Coimbra ludibriaram o conquistador Vitória numa peça de cinco actos.

Entraram numa agonia fingida, a permitir tudo; despertaram catatónicos e a mexer apenas os olhinhos; moveram-se furtivamente e marcaram, perante o sono do caçador; refugiaram-se num porto seguro e seguraram a vida de lábios trincados; já a salvo, deram a estocada final e fecharam o marcador: 0-2, triunfo importantíssimo.

FICHA DE JOGO

Novo comandante, novos ditames. Avesso a mitologias e coraçõezinhos rodopiantes, Ulisses Morais investiu no pragmatismo. Sem aventuras, longe de qualquer risco, a Académica foi paciente, sofredora e mais inteligente do que o favorito Vitória.

Fez bluff, vestiu o papel de coitadinha e aproveitou duas desatenções para somar três pontos. O precipício está outra vez mais longe. Os golos foram anotados por Éder, após lance brilhante de Adrien Silva, e Laionel, este já fora de horas. A Académica tornou-se, enfim, apenas na segunda equipa a vencer no D. Afonso Henriques, depois da Naval.

O V. Guimarães falhou redondamente no assalto ao terceiro posto, apesar das boas intenções. Teve um início electrizante, com 15 minutos de pressão constante sobre a defesa estudantil. Depois, o mal do costume. Deixou-se inebriar na estratégia oposta, baixou o ritmo para níveis preocupantes (e do agrado da Académica) e ao despertar já estava atrás no marcador.

Houve demasiada gente em sub-rendimento nos minhotos. Jorge Ribeiro, Toscano, até João Ribeiro. Ansiosos, sem serenidade na hora das definições, falharam uma e outra vez. O castigo foi duro, excessivamente severo.

AO MINUTO

A avalancha final até foi forte, o Vitória teve boas hipóteses para marcar, mas nesse assalto decisivo encontrou um Peiser absolutamente intransponível. Duas vezes João Ribeiro, depois Rui Miguel e ainda Edgar. Nada feito. Esta noite os minhotos caíram sem perceber nas manhas e artimanhas da Académica.

O resultado deixa os «estudantes» a salvo de problemas maiores, pelo menos no imediato. Ulisses Morais acaba por ter aqui um excelente sustento para trabalhar em tranquilidade, algo que o seu antecessor procurou dois meses sem sucesso.