Se a pressão sobre Cristiano Ronaldo é sempre muita, então que dizer do que rodeia Zlatan Ibrahimovic na seleção sueca por estes dias? Líder de uma equipa bem mais centrada nele do que Portugal em Cristiano, Zlatan é omnipresente. Mas ele gosta. A expressão omnipresente não é acaso, depois daquela piada de Ibra antes do Portugal-Suécia. «Só Deus sabe quem passa o play-off», dizia Zlatan à TV4 sueca. «É difícil perguntar-lhe», responde o repórter. «Bom, estás a falar com ele.»

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Mesmo tendo passado discreto por estes dias (foi um dos poucos jogadores da seleção que não falou à imprensa desde o jogo em Lisboa), ele está em todas as conversas na abordagem ao Suécia-Portugal.

Zona mista da Suécia, véspera do jogo. Seis jogadores a falar e, entre a abordagem ao que falhou com Portugal e o que vai ter que mudar, um nome transversal a todas as conversas. «O Zlatan vai ser sempre a chave para a Suécia», dizia Alex Kakaniklic. «Como equipa temos de passar mais a bola, ter mais coragem com a bola, pô-la lá em cima no Ibra.»

Ao lado, Pontus Wernbloom. «É claro que o Zlatan tem muita influência na equipa, é a esperança sueca. É um dos melhores do mundo.» Um dos melhores? «Sim, está no top 3», sorri Wernbloom, a escapar à armadilha.

Ibra é cada vez mais unânime na Suécia. Nem sempre foi assim. O caráter egocêntrico e controverso do avançado de origem bósnia dividiu durante muito tempo opiniões no seu país. Bjorn Nordling, jornalista da SVT, deixa este ponto de vista, em conversa com o Maisfutebol: «Estava sempre rodeado de controvérsia, fazia críticas aos outros jogadores. Pode ser muito duro no campo, faz coisas que não deve. Não é muito sueco fazer essas coisas.»

Mas Ibra cresceu e estabilizou a sua relação com a seleção. Deixou-se de amuos e discussões públicas com companheiros de equipa, assumiu o papel de capitão e foi conquistando a unanimidade entre os suecos, à custa de golos. Tem 46 golos marcados em 95 jogos pela Suécia. A FIFA fazia esta terça-feira uma comparação entre o sueco e Cristiano Ronaldo: o português tem 44 golos em 108 jogos pela seleção nacional.

«Desde que é capitão está diferente, até ajuda os mais jovens. Ficou um pouco mais humilde. Amadureceu muito», observa Bjorn Nordling: «Agora é muito mais amado.»

Não que se tenha transformado de repente num menino de coro. Ibra será sempre Ibra, a polémica e a atitude fazem parte da imagem dele. A relação com a imprensa sueca, por exemplo, não é fácil, porque Ibra gere-a como lhe dá jeito.

Agora até arranjou forma de chegar direto aos adeptos, sem passar pelos media. Se as outras grandes estrelas já o fazem através das redes sociais, onde têm as suas páginas que são regularmente alimentadas, Zlatan deu um passo à frente.

Há um mês lançou na Suécia uma aplicação, a que chamou Zlatan Unplugged, que é de acesso gratuito, para telemóveis ou tablets. É apresentada como sendo alimentada diretamente pelo avançado e, segundo informação dos responsáveis pela aplicação ao Maisfutebol, teve 315 mil downloads no primeiro mês e tem 1,5 milhões de visitas por dia. É por ali que Zlatan vai passando mensagens. Mas também recados.

A aplicação publica regularmente a resposta de Zlatan a três perguntas, aparentemente feitas por adeptos. No dia seguinte ao Portugal-Suécia uma das perguntas era se não se sentia frustrado por ter de jogar de forma tão defensiva e com tão pouca posse de bola. A resposta de Zlatan foi politicamente correta («Temos de nos adaptar e tentar tirar o melhor partido da situação»), mas a pergunta já tinha posto o assunto no ar.