Foto: Foto-Arte (Fafe)

CAMINHOS DE PORTUGAL é uma rubrica do jornal Maisfutebol que visita passado e presente de determinado clube dos escalões não profissionais. Tantas vezes na sombra, este futebol em estado puro merecerá cada vez mais a nossa atenção. Percorra connosco estes CAMINHOS DE PORTUGAL.


ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA DE FAFE

No final dos anos 80, início da década seguinte a região do Vale do Ave era uma das mais pujantes em termos futebolísticos a nível nacional. V. Guimarães, Rio Ave, Varzim, Tirsense, Famalicão ou Trofense eram clubes vizinhos que frequentemente surgiam entre os maiores do futebol português.

É neste contexto que desperta, também, a Associação Desportiva de Fafe - que atualmente disputa o Campeonato Nacional de Seniores - um clube fundado na década de 50, após a junção de duas coletividades locais e rivais. A década de 70 já tinha sido impactante com duas presenças nas meias-finais da Taça, mas foi no final dos anos 80 que o Fafe atingiu a sua maior projeção, quando chegou à principal Liga do futebol português.

Em 1988/89, o Fafe disputou pela única vez na sua história o principal campeonato do futebol luso, depois de um processo conturbado que abalou o futebol português e ficou conhecido como o caso Fafe-Famalicão-Macedo de Cavaleiros.

Eram tempos de prosperidade, nada a ver com os dias de hoje. João Freitas era o presidente na altura e fala com orgulho da obra feita. «Fafe é uma zona muito industrial e comercial. No meu tempo, com um grupo de trabalho de cerca de 30 pessoas arranjávamos milhares de contos para meter no clube», conta o antigo presidente, em conversa com o Maisfutebol.

António Valença também conhece bem o clube. Foi jogador, treinador e dirigente da AD Fafe e lembra o que distinguia aquele emblema: o bairrismo. «Vivia-se intensamente o clube, as pessoas iam mais ao futebol, eram apaixonadas por aquilo. Isso ajudou o Fafe a dar um pulo muito grande no final dos anos 70», explica ao nosso jornal.

Valença diz que João Freitas era o timoneiro. O ex-presidente confirma que ajudou a desenvolver ideias inovadoras para a época.

«Criámos o TotoFafe, por exemplo. Em todos os cafés das aldeias aqui da zona colocávamos boletins para as pessoas apostarem. Depois recolhíamos ao sábado e fazíamos o sorteio nos jogos. Chegámos a dar mil contos de prémio e o clube ganhava outros mil», descreve.

Mas não ficavam por aqui. Organizavam sessões de bingo e cinema ao ar livre. «Conseguíamos uma média de 15, 20 mil contos por época de receitas extra, porque não conto aqui os patrocínios diretos nem as receitas dos jogos», avisa João Freitas.

«O Fafe vivia de mecenas, sabe? Eram eles que pagavam o futebol. E depois era um clube com muito apoio. Aqui da zona só o V. Guimarães rivalizava connosco. No mínimo era sempre quatro ou cinco autocarros a apoiar a equipa», acrescenta.

António Valença confirma e dá mais um exemplo: «Se não estou em erro, o Fafe foi a primeira equipa em Portugal a ter uma claque organizada. Isto na década de 70. Eram gaitas de fole, tambores, caixa…tudo. Ir jogar fora era uma festa, então.»

O apoio do Fafe nas Antas:

 

«Que direção pega num embrulho destes?»

Problemas? Perdeu-se o bairrismo, lamentam ambos. «As pessoas deixaram de ir ao futebol e a situação económica do país também não ajuda. Esta zona foi muito afetada», lamenta António Valença.

O clube é gerido, agora, por uma Comissão de Gestão, presidida por Jorge Fernandes. E tem muitos problemas para resolver no capítulo financeiro, apesar de, desportivamente, a equipa só ter falhado o acesso à fase de promoção à II Liga na diferença de golos para o Bragança. Lidera, assim, tranquilamente, a zona de manutenção.

«Há sete anos dei uma entrevista a um jornal local onde antevi o cenário atual. Repare, nem se falava de crise como hoje, mas sabia que ia acabar nisto. Disse que a solução para o clube era a criação de uma SAD que mobilizasse 40 a 50 pessoas», relata João Freitas.

A ideia não foi avante e o presente é, no mínimo, cinzento. «Infelizmente as coisas estão bastante más. Fala-se, nos bastidores, que a melhor solução é acabar com o clube. O passivo é muito grande, deve andar à volta dos 600 mil euros. Mas até há quem diga que pode ascender a um milhão! Já viu? Que direção pega num embrulho destes?», comenta o ex-presidente.

António Valença lembra que não é só um clube em crise, é toda uma região: «Vejam o Tirsense, o Varzim, o Felgueiras. O Fafe está a ressentir-se como os outros.»

O Maisfutebol tentou várias vezes falar com Jorge Fernandes, líder da atual Comissão de Gestão da AD Fafe, sem sucesso.

Marques Mendes (sim, esse) foi guarda-redes

A história do Fafe teve páginas douradas no final dos anos 80, mas o clube não lançou, apenas, jogadores de futebol. Marques Mendes, antigo líder do PSD, passou pelo clube…como guarda-redes!

A história é contada por João Freitas, entre risos. «É meu amigo e muito bom político, mas como guarda-redes não tinha grande futuro», atira.

Na verdade, a carreira como guarda-redes de Luís Marques Mendes não chegou, sequer, à equipa sénior. «Foi nas camadas jovens. Iniciados, juvenis…não sei, sequer, se chegou aos juniores. Ele tinha muito boa vontade, mas pouco mais. E ele percebeu isso porque é inteligente», continua João Freitas.

Perdeu-se um guarda-redes, ganhou-se um político? «Não seis se se chegou a perder um guarda-redes. Ele jogou pouco tempo. Foi melhor assim», completa, sempre em tom bem-disposto.

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