Um Belenenses a correr no sentido da baliza contrária, um Gil Vicente que só quis ter a bola depois de estar no conforto de uma vantagem numérica. No Restelo, as duas equipas reencontraram-se pela primeira vez na Liga depois do Caso Mateus. Agora sem a carga dramática desse final de época 2005/06, mas com o risco de os lisboetas caírem para o fundo da tabela. O nulo do resultado é injusto para o futebol, é castigo para o número de ocasiões e defesas que houve na partida.

E sobretudo mais injusto para os da casa. O Belenenses entrou melhor, foi melhor e só recuou quando Fredy foi expulso aos 35 minutos. Um lance determinante. Não no resultado, mas no modo como os planos que vinham dos balneários se alteraram. No geral dos 90 minutos, os do Restelo foram mais equipa, mesmo que a melhor ocasião tenha sido do Gil Vicente.

Não houve grandes surpresas nos onzes.
Num Belenenses sem Miguel Rosa, Fredy descai para a esquerda e deixa o meio para Tiago Silva. Caeiro desta vez ganhou o lugar a Diawara. No Gil, João de Deus optou pelo onze habitual. Apostou tanto que só o mudou nos últimos cinco minutos. Não deixou de ser estranho, até porque a equipa esteve a jogar com mais uma unidade durante muito tempo e nem sempre o fez bem.

Voltemos ao início. O Belenenses quis a bola, uniu ideias e com Fredy e Tiago Silva muito em jogo, assaltou a área contrária. Gabriel Moura tinha imensas dificuldades. Era por ali que o Belenenses começava a causar perigo. Ou por Fredy ou por Filipe Ferreira. O lateral-esquerdo ia sair do jogo como um dos melhors na partida.

O Belenenses foi mais do que isto. Foi equilibrado porque também na direita João Pedro e Duarte Machado conseguiram fazer o mesmo. O capitão cruzou imensas vezes para a área do Gil Vicente, ainda que nalgumas ocasiões não o tenha feito como o parceiro do lado oposto. Aos seis minutos, Tiago Silva atirava à baliza com perigo. Vinha lá mais, com u mGil Vicente demasiado expectante no próprio terreno e sem ver a cor da camisola de Matt Jones.

O assomo lisboeta foi interrompido apenas uma vez: Diakité perdeu uma bola e Paulinho tentou um chapéu do meio-campo. Foi ao minuto 14. Mais remates do Gil Vicente só no segundo tempo. Ainda assim, logo após Caeiro perder uma oportunidade, Fredy foi expulso após lance com o avançado gilista. Se o Belenenses tinha assumido o jogo até aí, mandava a prudência fazer recuar e deixar ver o que o Gil era capaz de fazer com a bola.

Até ao intervalo, não fez quase nada. Porque pura e simplesmente não estava preparado para isso
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No segundo tempo, e já com o Belenenses estruturado em 4x4x1, a o rio correu para outrolado, por assim dizer. O Belenenses assumiu o contra-ataque e executou-o bem. O Gil Vicente esperou que as pernas do adversário ficassem cansadas e só então entrou a sério no encontro. A um remate de João Pedro na área do Gil, respondeu Diogo Viana com um tiro de fora da área. Matt Jones apareceu pela primeira vez. Ele seria fundamental.

Paulinho rematou por cima, servido por Peixoto e o Belenenses estava obrigado a refrescar pernas. Assim o fez e Sturgeon também foi lançado, depois de Diawara ter substituído Caeiro. O Belenenses voltou à baliza de Adriano, que respondeu com duas grandes defesas. Aí, o encontro partiu-se. Porque depois de Adriano brilhar, Matt Jones foi estrela ainda maior com uma defesa que salvou o Belenenses de uma derrota. Seria injusta, diga-se. O Belenenses foi equipa em todos os momentos do encontro. Quando teve de atacar em posse, quando teve de defender com menos um, quando teve de jogar no contra-ataque. O Gil Vicente soma um ponto e continua trajeto europeu. É a surpresa do campeonato. Mas no Restelo, surpreendente foi aquilo que não apresentou.