Muito aconteceu entre o bom arranque e a incrível festa em pleno Estáio da Luz, na última jornada da Liga. O Benfica andou numa roda viva, chegou a parecer capaz de garantir o título ainda por alturas da Páscoa, mas acabou a sofrer até segurar o 38.º troféu de campeão.
Da vitória em casa do FC Porto à derrota em Braga, da derrota em casa com o FC Porto à vitória sobre o Sp. Braga, eis dez momentos que marcam a monhanha russa de emoções que foi a temporada do novo campeão nacional:
1. Jogar mal e ganhar... só pode ser bom sinal
O jogo era com o Casa Pia, o palco era em Leiria, mas por uma daquelas razões em que o futebol é fértil o Benfica fez uma das piores exibições da época. Sem David Neres, o treinador entregou a direita do ataque a Diogo Gonçalves e o entendimento com Gilberto não funcionou. O Benfica jogou mal e ganhou com dificuldades. Marcou numa jogada isolada, em que Rafa serviu Gonçalo Ramos para a finalização, aos 58 minutos, e depois disso Schmidt fez entrar Vertonghen e Julian Weigl. No fim, Otamendi ainda foi expulso, deixando a equipa reduzida a dez jogadores. Mas, lá está, o Benfica ganhou e isso é que era importante. Porque um campeão também se faz de jogos assim: de jogos em que soma os três pontos, mesmo quando tudo corre mal.
2. A primeira fuga ao maior rival
Estávamos na quarta jornada quando o Benfica fugiu pela primeira vez ao FC Porto. Os encarnados conseguiram-no depois de um excelente triunfo por 3-0 no Estádio do Bessa, que o tempo haveria de mostrar que não era um terreno assim tão fácil. A formação de Roger Schmidt tinha garantido a meio da semana a entrada na fase de grupos da Champions, depois de uma sequência louca de jogos entre campeonato e pré-eliminatórias, e para além disso não contava com Otamendi. Foi João Mário, por isso, a utilizar a braçadeira e a liderar a equipa, com dois golos. Curiosamente, no dia a seguir o FC Porto perdeu por 3-1 em Vila do Conde, com o Rio Ave, e ficou a três pontos de distância.
3. Três anos depois, uma vitória no Dragão
O Benfica já não ganhava no Dragão desde 2019, precisamente a última época em que foi campeão. Mas esta estava destinada a ser uma temporada especial. Por isso tudo correu bem nesta viagem ao terreno do adversário. Para começar, Stephen Eustáquio fez duas faltas duras sobre Bah em três minutos e foi expulso. Depois Schmidt mexeu bem ao intervalo, lançando Gilberto, Nerez e Draxler nos lugares dos amarelados Bah, Enzo Fernández e João Mário. Por fim, uma saída rápida perfeita, com Neres a lançar Rafa, permitiu fazer o único golo do jogo e celebrar um sabororoso triunfo.
4. A primeira derrota da temporada
O campeonato tinha parado e em novembro para assistir ao Mundial do Qatar, voltou só no último fim de semana de dezembro e com uma bomba para os adeptos do Benfica. Depois de uma primeira parte da época sem qualquer derrota, inclusivamente frente a alguns gigantes da Champions, a equipa de Roger Schmidt caía com estrondo em Braga: Abel Rui abriu o marcador aos dois minutos, Ricardo Horta marcou duas vezes depois disso e o Benfica questionava-se o que raio tinha acontecido ao líder de novembro. O tempo havia de mostrar que foi só um deslize, corrigido logo a seguir.
5. Quem é que pára este Benfica?
25 de fevereiro em Vizela. Noite gelada de inverno, relvado em mau estado e o regresso ao Minho maldito, onde o Benfica já tinha tropeçado quatro vezes: duas vezes em Braga, uma em Guimarães e uma em Moreira de Cónegos. Era um teste duro, num jogo que se tornou feio e difícil. Foi preciso saber sofrer, mas os jogadores encarnados mostraram fibra e venceram com dois golos de João Mário, um deles já em período de compensação. Foi um triunfo arrancado do fundo da alma, daqueles obrigatórios para uma equipa que quer ser campeã neste campeonato português. Para tornar tudo melhor, no dia seguinte o FC Porto perdeu em casa com o Gil Vicente e o Benfica acabou o fim de semana com oito pontos de vantagem. O campeão começava a desenhar-se onde muitas vezes se faz a diferença: nos relvados frios e pesados.
6. O clássico de todos os medos
7 de abril, o Estádio da Luz coberto de entusiasmo até às orelhas. 60 mil pessoas nas bancadas, preparadas para fazer a festa frente ao maior rival. O Benfica entrava em campo com dez pontos de vantagem sobre o FC Porto e em caso de triunfo ficava com treze de avanço, mais toda a vantagem psicológica que isso significa. Era praticamente um campeão anunciado, portanto. O jogo até começou bem, com um autogolo de Diogo Costa, mas depois os dragões viraram o resultado com golos de Uribe e Taremi. Até ao final do jogo, aliás, as melhores oportunidades ainda foram deles. A vitória na Luz não sofria contestação e o campeonato estava relançado, numa tarde infeliz para o Benfica.
7. Afinal ainda temos líder
A derrota com o FC Porto, no Estádio da Luz, precipitou todas as dúvidas em cima da equipa do Benfica. Logo a seguir a formação encarnada perdeu com o Inter Milão, depois perdeu com o Desp. Chaves e depois empatou outra vez com o Inter. Foram três derrotas e um empate, numa sequência de quatro jogos sem ganhar, a que se seguiu um triunfo magro por 1-0 em casa sobre o frágil Estoril: os canarinhos somavam oito derrotas nos últimos nove jogos. Barcelos era por isso terreno perigoso, como o jogo mostrou. O Gil Vicente deu água pela barba, teve várias ocasiões para marcar, mas os encarnados também. Após a entrada de Chiquinho, aos 70 minutos, o Benfica fez mesmo dois golos, ganhou o jogo e celebrou efusivamente. Sobretudo Roger Schmidt, que não escondeu o sorriso rasgado. Aquela vitória podia ser o bálsamo que o grupo precisava (e o tempo mostrou que foi mesmo).
8. Outra vez Rafa decisivo num jogo grande
O Benfica recebia o Sp. Braga, que por essa altura estava a seis pontos de distância e ainda sonhava com o primeiro lugar. A formação bracarense precisava, porém, de ganhar na Luz, naquele que era um jogo decisivo na luta pelo título. O Benfica, no entanto, não deu hipótese. O clássico teve praticamente sentido único, o Sp. Braga pouco conseguiu para lá de defender e a vinte minutos do fim, o herói dos jogos grandes decidiu o encontro com o golo que fez o resultado final. Rafa, pois claro.
9. O título é uma questão de tempo
O golo de João Neves, aos 94 minutos, garantiu um empate que soube a vitória no dérbi eterno, com o Sporting, em Alvalade. O rival chegou ao final da primeira parte a ganhar por dois golos e a amassar a equipa de Roger Schmidt como ninguém tinha feito esta época. O Benfica conseguiu reagir no segundo tempo e ainda foi a tempo de arrancar um saboroso empate, que não garantiu o título em casa do rival, mas garantiu que o título era uma questão de tempo. Faltava apenas um ponto para libertar a festa.
10. Campeão na última jornada
O empate em Alvalade adiou a festa do título para a última jornada, o que até trouxe algumas vantagens: o Benfica pôde, por exemplo, celebrar em casa, perante os seus adeptos, num recinto coberto de euforia. O Santa Clara não chegou a ser uma oposição ameaçadora, sobretudo porque Gonçalo Ramos abriu o marcador muito cedo. A partir daí foi só ir aumentando o nível da festa, ao ritmo dos golos de Rafa e Grimaldo, até ao apito final fazer Portugal sair à rua coberto de encarnado.