O julgamento de 26 arguidos por tráfico de substâncias e métodos proibidos no ciclismo, em torno da equipa W52-FC Porto, arrancou esta quinta-feira em Paços de Ferreira, com a confissão de um ciclista amador e declarações de outros dois acusados.

O julgamento, que arrancou com quase uma hora de atraso e prossegue ainda da parte da tarde, começou com depoimentos de três dos arguidos.

Marco Paulo Vilela Magalhães, primo do corredor Ricardo Vilela e que se identificou como empresário, admitiu ter usado substâncias ilícitas «para ganhar» em provas amadoras, como granfondos, admitindo ter perguntado ao familiar sobre o que tomar para melhorar o desempenho.

«Nunca ajudei, nem arranjei. Se arranjou, não tinha conhecimento. Eu queria andar mais e perguntava-lhe. Ele tentava fugir à conversa, mas eu sou chato. (...) [Perguntava] para ver se ele arranjava, o que devia tomar. Nunca confirmou que tomava», contou.

O juiz confrontou, depois, o arguido com prova documental em que trocava mensagens com o ciclista profissional sobre que substâncias tomar, além de discutir outras substâncias, que não a betametasona (“diprofos”) e valores envolvidos, negando ter-lhe passado qualquer produto.

De resto, afirmou conhecer outro dos arguidos que prestou declarações, Rui Sousa, também de Bragança, que negou qualquer prática ilícita, sustentando que uma troca de mensagens com Ricardo Vilela, em que enviou ao ciclista uma fotografia de uma caixa de diprofos, não comprova uma transação de substância, antes um reconhecimento entre amigos após ter lido sobre um caso de doping no estrangeiro.

“«Foi] uma infeliz brincadeira. Em qualquer momento eu cedi ou vendi ou facilitei qualquer substância ao Ricardo [Vilela]», declarou o antigo presidente da Associação de Ciclismo de Bragança, que negou ainda conhecer a maior parte dos arguidos na sala.

Por outro lado, confessou que Vilela lhe pediu, «numa situação ou outra e por amizade», que este encomendasse por ele várias substâncias, como o TB 500, embora tenha dito que não o fez.

«Eu, em momento algum, ajudei ou estive presente quando o Ricardo Vilela fez isso [transfusões]. Nunca estive presente. A verdade é esta. (...) Pediu-me, como amigo, para ir lá a casa tomar um café com ele, uma meia hora, porque tinha medo de se poder sentir mal e não ter quem o auxiliasse», revelou.

A terceira testemunha a falar esta quinta-feira em Paços de Ferreira foi Carina Lourenço, técnica numa farmácia em Vila Real de Santo António e cunhada de Samuel Caldeira, outro ciclista constituído arguido.

Lourenço admitiu ter vendido vários produtos ao cunhado, como diprofos (betametasona) e outras, mas por ter «autorização pela responsável, mesmo sem receita», a fazer a transação, com o processo a incluir seis faturas destas compras, apreendidas no estabelecimento.

A arguida disse nunca ter perguntado pelos fins dos medicamentos, bem como dos seus potenciais efeitos no rendimento desportivo, afirmando agir sob autorização da responsável da farmácia.

«Quando tenho autorização, eu vendo. Fui arrastada para uma situação em que não tenho culpa, em que vendi porque tinha autorização e desconhecia para que era. (...) Não sei se estava a tomar, o que estava a tomar», afirmou.

De resto, Carina Lourenço disse, primeiro, ter pedido autorização para a venda por ser a um familiar, respondendo, depois, que esta requisição se devia ao facto de ter de fazer encomenda.

A identificação dos arguidos permitiu ainda perceber que dez dos acusados pretendem prestar declarações, com outros, como Adriano Quintanilha, patrão da equipa, Nuno Ribeiro, diretor desportiva e vários ex-ciclistas, a remeterem-se, para já, ao silêncio.

Os ciclistas João Rodrigues, Rui Vinhas, Samuel Caldeira, Ricardo Mestre, Ricardo Vilela, Daniel Freitas e Daniel Mestre manifestaram intenção de se pronunciarem.

O julgamento, que começou atrasado em relação à hora marcada, no pavilhão anexo ao Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, deu início aos procedimentos, com nova sessão agendada para sexta-feira, decorrendo, pelo menos, até 28 de junho.