Ricardo Mestre, vencedor da Volta a Portugal em 2011, e Samuel Caldeira assumiram esta sexta-feira, em tribunal, que se doparam quando estavam ao serviço da W52-FC Porto.

«Assumo os factos de que sou acusado», afirmou Caldeira, no segundo dia de julgamento, explicando que começou a dopar-se entre o final de 2020 e o início de 2021.

Ambos, de resto, garantiram que o faziam de livre e espontânea vontade e com o conhecimento do diretor-desportivo da equipa, Nuno Ribeiro, também ele arguido.

Samuel Caldeira, refira-se, fazia uso da farmácia onde trabalhava a cunhada, Carina Lourenço – também arguida –, «e através dela conseguia os produtos», como betametasona (diprofos), saizen e neurobion.

«Em competição, [Nuno Ribeiro] mandava uma mensagem para passar no quarto, chegava lá, pegava, e fazia no quarto», contou, citado pela Lusa.

Questionado pelo procurador do Ministério Público, Caldeira confirmou que era Nuno Ribeiro quem entregava a betametasona: «As coisas [para o doping] não estavam à disposição, começaram a ficar à disposição. (...) O Nuno dizia ‘se quiseres, passa no quarto, está ali.»

Já Ricardo Mestre confessou que se começou a dopar para manter-se a par do restante pelotão nacional, além de realizar transfusões de sangue: os produtos eram comprados pela Internet ou na farmácia.

«O doping é um sistema regular no ciclismo, onde nos adaptamos para conseguirmos atingir o nível que se pretende para chegar ao topo», disse.

O vencedor da Volta de 2011 assumiu que começou a dopar-se «mais assiduamente a partir de 2020», mas não quis responder a perguntas sobre o período anterior à investigação.

«Estava preparado, recebia mensagem para ir ao quarto, com o número do quarto», prosseguiu.

Mestre revelou que recebeu dinheiro pelas compras que fez «mais do que uma vez», e que sabia «dos mais próximos» quem se dopava, ele que alinhou na ideia de Caldeira de que o doping «é mais ou menos comum, principalmente no pelotão português».